Cerca de 1,8 milhões de utilizadores da StayAway Covid (60%) já desinstalaram a app de rastreio de contactos das pessoas que são diagnosticadas com Covid-19 em Portugal, escreve o jornal Público esta sexta-feira, com base em números avançados pela equipa do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (Inesc Tec), que coordena a aplicação.

Em outubro, o número de utilizadores ativos atingiu um pico, mas desde aí os números têm vindo a sofrer uma quebra e, neste momento, apenas 39% das quase três milhões de pessoas que instalaram a aplicação é que a continuam a usar. O problema é que para utilizar a StayAway Covid é preciso que seja fornecido um código de acesso e, não raras vezes, este processo está envolto em dúvidas e desconhecimento, tanto por parte de doentes como de médicos.

“As pessoas estão a perder a confiança na app porque não há códigos. E não há códigos porque os médicos estão mal informados sobre a forma como a app funciona e onde se encontram os códigos”, admitiu José Manuel Mendonça que lidera a equipa responsável pela StayAway Covid, em declarações ao Público.

Já Rui Nogueira, médico de família e ex-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), aponta ao mesmo jornal que “o problema é que as pessoas se esquecem de pedir os códigos na altura do diagnóstico, ou acham que serve de pouco se vão ficar isoladas”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De acordo com dados do Inesc Tec, cita o diário, foram entregues cerca de 11 mil códigos desde o lançamento da aplicação, mas apenas 2708 (24%) foram utilizados. De forma a tentar reverter a situação, o Inesc Tec atualizou a aplicação para os códigos serem enviados diretamente para os telemóveis dos utilizadores, mas a efetivação desse processo está parada, uma vez que é preciso luz verde da Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD), que aguarda uma avaliação do impacto das alterações feitas à app pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS).

Esta sexta-feira, em entrevista à Rádio Observador, Paulo Santos, diretor executivo da Ubirider — empresa que ajudou a desenvolver a aplicação com o Inesc Tec—, corroborou a tese de que o problema está na atribuição dos códigos às pessoas infetadas. “Aquilo que causa mais frustração às pessoas é o facto de não lhes serem entregues os códigos. Há um problema de desalinhamento”, apontou.

Portugueses desistem da app Stay Away Covid porque “há falta de eficácia, códigos não são entregues”

Paulo Santos defendeu ainda que a estratégia para a StayAway Covid devia ser semelhante à que é feita para a vacina. Apesar de ambas serem voluntárias, não revelam a mesma adesão por parte da população.

“A introdução desse código seria sempre voluntária, mas devia haver um esforço por parte das autoridades de saúde em aconselhar para a utilização da app“, realçou.

Entre as falhas que apontou para a falta de confiança dos utilizadores na aplicação, o diretor executivo da Ubirider indicou ainda que o Governo não tem uma estratégia de comunicação definida. “Não existe uma estrutura de comunicação clara e, até, educativa em relação à StayAway Covid e esta postura surpreende-me, porque há uns meses era ao contrário, quando se falava em tornar a app obrigatória”, lembrou.

Além disso, Paulo Santos considerou que a Stay Away Covid está a ser subaproveitada, no que se refere ao controlo dos casos de infeção.”Ao fim destes meses já se aprendeu que só se deve confinar aqueles que estão dentro de uma cadeia de transmissão. E esta ferramenta podia ajudar a resolver uma parte desse problema”, rematou.