Portugal está a falhar no rastreio epidemiológico da Covid-19, defendeu esta quarta-feira o infecciologista Jaime Nina, que entende que “não houve o cuidado de reforço de mão-de-obra” nesta matéria.

O infecciologista do Hospital Egas Moniz (Lisboa) entende que o aumento do número de mortes registadas no país por Covid-19 é consequência do aumento do número de casos de infeção, defendendo que o crescimento da pandemia “está à solta” e numa fase exponencial.

Ou muito rapidamente se consegue inverter a tendência ou isto vai acabar muito mal”, disse Jaime Nina, que afirmou que lhe “faz impressão” que a principal medida considerada para combater o avanço da pandemia tenha sido o confinamento, quando a literatura científica prevê um conjunto de outras a ser aplicadas antes, com prioridade ao rastreio.

“A primeira é o rastreio de casos e isolamento precoce. Isso está a falhar, porque não houve o cuidado de reforço de mão-de-obra. […] Se houvesse um rastreio de casos como deve ser só em meia dúzia de casos não se encontrava a fonte de infeção. Isto está a falhar completamente e não é por falta de vontade dos profissionais, que estão a fazer o que podem, mas há limites”, disse.

O especialista referiu o estado de exaustão dos profissionais ligados aos rastreios epidemiológicos e a sua insuficiência face ao número de casos registados, lembrando que houve propostas para colocar estudantes dos últimos anos de Medicina ao serviço destes rastreios, que podiam evitar que mais de 80% dos casos de infeção não tenham identificada a sua origem.

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Estamos num crescimento exponencial. As mortes estão a aumentar mais do que o número de casos, porque para os casos aparecerem nas estatísticas alguém tem que os diagnosticar e notificá-los. Quando as pessoas estão completamente estoiradas não fazem isso, enquanto as mortes, por razões óbvias, têm que ser notificadas”, disse.

Defendeu ainda, a propósito dos rastreios, que os lares de idosos, particularmente atingidos pela Covid-19 e com grande peso na taxa de mortalidade do país, deviam realizar testes rápidos a todos os trabalhadores “dia sim, dia não”, para evitar surtos e mortes.

Jaime Nina lembrou ainda que há outras medidas, inclusivamente recomendadas pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, de ventilação antivírus de espaços e de uso de lâmpadas ultravioleta, com eficácia na redução de contágios, que se forem aplicadas também pode contribuir para travar a pandemia.

Quanto ao fecho das escolas, que o Governo primeiro recusou e agora já admite como possibilidade, o infecciologista reconhece que a medida tem “alguma eficácia”, mas lembrou o custo social.

Portugal registou hoje 219 mortes relacionadas com a Covid-19 e 14.647 novos casos de infeção com o novo coronavírus, os valores mais elevados desde o início da pandemia, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS). O boletim revela também que estão internadas 5.493 pessoas internadas, mais 202 do que na terça-feira, das quais 681 em unidades de cuidados intensivos, ou seja, mais 11, dois valores que também representam novos máximos da fase pandémica. O número de internamentos está a subir desde o dia 1 de janeiro, dia em que estavam 2.806 pessoas internadas.