Com o aumento do número de óbitos em Portugal, as empresas funerárias relatam um aumento dos tempos de espera para cremação e inumação. À Rádio Observador, Carlos Almeida, presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL), adianta que o prazo médio para cremação é de 72 horas após o óbito na Grande Lisboa, mas diz que pode chegar aos “quatro, cinco dias” fora da capital. Segundo o responsável, “não é possível aumentar a cadência das cremações“, dado que a capacidade atual “já está no limite”.
É que cada crematório tem capacidade para fazer cerca de sete cremações por dia e em Portugal há pouco mais de 30 unidades, que “não têm possibilidade de estar non-stop”, afirma Carlos Almeida. Acresce que, na Grande Lisboa, em cerca de “70% dos óbitos” o procedimento escolhido é a cremação. Já para inumação, o tempo de espera está nas 48 horas, um atraso que também pode ser explicado pela falta de recursos humanos nos cemitério, diz o presidente da ANEL.
Carlos Almeida refere ainda que a capacidade de refrigeração nos hospitais para conservar cadáveres “não é suficiente”, embora haja entidades hospitalares a reforçar com novos contentores. Perante a situação atual, em que Portugal continua a registar novos máximos de óbitos por Covid-19, a Direção-Geral da Saúde já pediu ao Instituto Nacional de Medicina Legal que encontrasse soluções para aumentar a capacidade de frigoríficos nos hospitais. O instituto respondeu, em comunicado, esta sexta-feira, que reforçou a capacidade de frio em 15 dos seus serviços médico-Legais, “o que tem permitido garantir que os corpos que neles dão entrada direta sejam conservados adequada e dignamente”, garantindo que, “sempre que tal se revelar necessário”, voltará “a robustecer esta capacidade”.
A DGS pediu ainda às unidades de saúde que agilizem a transferência de informação para as funerárias, “recomendando o uso da via digital”, uma medida que é “bem-vinda” para permitir a rapidez do processo, refere Carlos Almeida.
O responsável apela a que as famílias das famílias “simplifiquem ao máximo o ritual a que estão habituadas e façam algumas cedências” para que o processo possa ser mais célere. “Espero que já estejamos no pico e que não tenha que haver mais demora ou que aumente o período de espera destas cerimónias. Eu aceito que seja mais doloroso para as pessoas, mas todos temos de fazer o esforço para que tudo aconteça com maior sensatez e rapidez”, pediu.
Apesar do aumento do volume de trabalho, Carlos Almeida garante que os meios humanos e materiais das funerárias até ao momento “são suficientes”. “Não há rutura ainda, nem de fornecimento de urnas nem de equipamentos de proteção individual. Os meios que existem ao dispor das agências são suficientes para dar resposta”, disse. O presidente da ANEL adianta ainda que a associação pediu à DGS a possibilidade de as emissões dos boletins de óbito serem feitas a qualquer hora do dia.