Em menos de dez horas o líder do CDS veio afirmar por três vezes que não rejeita entendimentos futuros com o Chega, ao contrário do que acontecerá nas autárquicas onde, esta tarde, tanto Francisco Rodrigues dos Santos como Rui Rio firmaram que o partido de André Ventura não entrará em coligações. Os dois reuniram-se para concertar posições, mas ainda não há grande coisa a acrescentar. Só mesmo que vão assinar um acordo para coligações autárquicas, sem o Chega, e que o líder do PSD aparece a distanciar-se mais do partido de Ventura do que o líder do CDS que se atrapalhou em declarações ao longo do dia.
“Está tudo em aberto”, declarou Rui Rio à saída de uma reunião com Rodrigues dos Santos ao lado de quem falou aos jornalistas, ombro a ombro e sem máscaras (que só apareceram já ambos iam adiantados na conferência e imprensa). O acordo entre os dois partidos para as autárquicas mantém-se sem novidade, já que a rejeição do Chega não era já uma notícia. Mas se Rio repetiu — mesmo depois do acordo nos Açores — que “para haver conversa com o PSD o Chega tem de se moderar” e como “não se moderou não há conversa nenhuma”, o líder do CDS repetiu a ideia de não rejeitar votos “pela sua origem”.
Logo de manhã, em entrevista ao Observador, afirmou que o partido de André Ventura não é fascista e logo a seguir, confrontado com a possibilidade de colocar a sua assinatura ao lado da do líder do Chega num entendimento à direita, hesitou numa resposta direta começando a explicar: “Por exemplo, nas autárquicas não vamos ter acordos rigorosamente nenhuns com o Chega. Fui o único líder partidário à direita que o disse”. E nas legislativas? “Nas legislativas temos de falar. Até lá, quero que o CDS, com o PSD, tenham a capacidade de construir essa alternativa de poder”.
Ficou claro que um entendimento com o Chega não é descartado por Francisco Rodrigues dos Santos que, pouco depois, em declarações na sede do seu partido tentava explicar-se melhor, dizendo que nas autárquicas o seu “parceiro preferencial” é o PSD. À noite, ao lado de Rio, quis “aproveitar” para clarificar “títulos que iludem e criam a percepção errada”, referindo-se ao que disse na entrevista ao Observador. Mas em vez de desmentir, a explicação resultou numa reafirmação.
Primeiro, o líder centrista começou por dizer que “já disse que não haverá coligações com o Chega em autárquicas nem em legislativas”. Mas que a pergunta que lhe fizeram no Observador era “se haveria a possibilidade de reproduzir um entendimento de incidência parlamentar como o dos Açores”. “E a minha resposta foi que estou empenhado em dar músculo ao meu partido para reforçar o seu peso eleitoral para que conjuntamente com o PSD possamos formar uma maioria parlamentar à semelhança do que já aconteceu no passado para poder governar Portugal”.
Excerto da entrevista de Francisco Rodrigues dos Santos
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O tema de uma futura aliança de direita acabou por marcar a campanha presidencial. Marcelo Rebelo de Sousa disse que só daria posse a esse Governo com acordo escrito entre os vários partidos. Aceitaria pôr a sua assinatura ao lado da de André Ventura?
Estou empenhado em dar músculo ao CDS, em fazer o CDS crescer.
Sim ou não? É daquelas perguntas de sim ou não.
A pergunta é simples. Mas nós precipitarmos a abordagem a estas questões pode comprometer a própria posição do CDS, do valor e do peso que quer ter. Se eu admitir essa possibilidade seria dizer que o CDS está realmente derrotado e oferecer a outros partidos o peso que já teve no passado.
Tem dito em várias entrevistas que a probabilidade de entendimentos com o Chega é nula. Isso é uma posição de princípio. O que lhe estamos a perguntar é, precisamente, se poria ou não a sua assinatura ao lado da de André Ventura?
Estou empenhado… Por exemplo: nas autárquicas não vamos ter acordos rigorosamente nenhuns com o Chega. Fui o único líder partidário à direita que o disse.
Nas legislativas, será outra conversa.
Nas legislativas temos de falar. Até lá, quero que o CDS, com o PSD, tenham a capacidade de construir essa alternativa de poder.
A pergunta feita no Observador foi “se poria ou não a sua assinatura ao lado da de André Ventura”, coisa que não rejeitou na altura nem nesta clarificação. Apesar de assumir que “não admite a intromissão de nenhum partido à direita do CDS” no acordo que quer solidificar com o PSD, “o CDS não rejeita um voto pela sua origem”, disse ao fim do dia questionado concretamente sobre o Chega.
“Todos os votos que o CDS puder receber para validar o seu programa estamos disponíveis para os receber, não rejeitamos pela sua origem como de resto acontece todos os dias no Parlamento”, acrescentou mantendo a porta a entendimentos com o Chega como tinha dito logo de manhã.
Ao lado de Rui Rio ia sorrindo cúmplice quando o líder do PSD gracejava com os jornalistas sobre a vitória eleitoral de Marcelo: “Ganhou um candidato que ambos apoiamos, mas às vezes parece que se esquecem”. E ambos desviavam os seus partidos dos resultados que a extrema-direita conseguiu na noite de domingo. Rio de forma mais efusiva, dizendo mesmo que “o resultados das presidenciais não quer dizer nada”.
Garantiu também que não foi ao PSD que o Chega roubou no Alentejo, mas sim ao PCP, ironizando com os “comentadores do PS que tentam explicar é o inexplicável e estão a tentar explicar que em distritos como Beja e Évora somos pujantes e até demos tantos votos”. Mas neste encontro assegurou que não houve análise à direita do que se passou no domingo.