Quatro concelhos da ilha de São Miguel — Ponta Delgada, Lagoa, Nordeste e Povoação — retomam ao ensino presencial até ao segundo ciclo, continuando os restantes níveis de ensino com aulas à distância. O ensino presencial estava suspenso na ilha há 25 dias por causa da pandemia de Covid-19.

Já nos concelhos considerados de alto risco para a propagação da Covid-19, como Vila Franca do Campo e Ribeira Grande, todas as escolas, de todos os níveis de ensino, continuarão encerradas.

Na Escola Básica Integrada Canto da Maia, em Ponta Delgada, o regresso às aulas presenciais foi testemunhado pela Lusa, que registou uma satisfação generalizada de pais, alunos e funcionários da escola.

A agitação regressa às escolas de Ponta Delgada

De manhã cedo, a agitação habitual — que esteve suspensa nas últimas semanas — voltou à entrada da escola Básica e Integrada Canto da Maia, em Ponta Delgada, maior cidade dos Açores, com vários carros a amontoarem-se ao longo da rua, crianças a circular e pais apressados a despedirem-se dos filhos.

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Para a família Viveiros, o regresso à escola é motivo de regozijo, com pai e filho a enaltecerem as vantagens do ensino presencial

“O ensino presencial é muito mais importante do que o ensino à distância, na minha opinião. Eles aprendem melhor presencialmente do que à distância, porque à distância eles não dão valor às aulas”, afirmou à agência Lusa o pai, Nelson Viveiros.

Em sintonia, Tomás Viveiros, aluno do quinto ano da escola Canto da Maia, expressou a sua felicidade por regressar à escola.

“Eu estou feliz por regressar à escola. É melhor aprender na escola, tenho os meus amigos. Em casa é mais difícil estudar”, apontou.

Opinião semelhante manifestou a colega Isabel Roías, que também prefere ter aulas na escola, apesar de achar que a abertura da escola poderia ter sido atrasada “mais um bocadinho”.

“Por causa da Covid, acho que ainda não era preciso voltarmos. Mas, gosto de voltar às aulas porque prefiro ter aulas aqui na escola do que em casa”, explicou.

Já o pai de Isabel, Rui Roías, preferiu realçar a importância do ensino presencial, uma vez que as aulas virtuais “ajudam, mas não resolvem”.

À porta daquela escola, há reencontros cheios de alegria, de amigos que já não se viam há quase um mês, com todos os alunos de máscara colocada mesmo antes da entrada no edifício.

Mas, nem todos os estudantes estavam satisfeitos pelo regresso: há quem preferisse continuar a ter as aulas em casa.

“Eu preferia ter ficado em casa. Eu não gosto muito da escola. Prefiro o ensino à distância”, afirmou Afonso Araújo, aluno do sexto ano.

Com uma opinião diferente, a mãe, Ana Araújo, considerou “muito importante” a reabertura dos estabelecimentos de ensino.

“Eles precisavam de regressar [à escola], a nível de matérias é um bocadinho complicado o ensino à distância. E nós, pais, atrapalhados, chegávamos a casa e eles tinham dúvidas, porque eles não conseguem tirar as dúvidas todas com os professores pelo computador”, declarou.

O encarregado de educação Luís Quental, que tinha acabado de deixar o filho, também defendeu a importância da reabertura das escolas porque o ensino “à distância não funciona nessas idades”, referindo-se ao filho que estuda no quinto ano.

“Compreendemos que a situação pandémica que continuamos a atravessar não é a ideal, mas temos de pensar no futuro dos miúdos e, uma vez que estão reunidas as condições, sou a favor de voltarmos ao presencial”, afirmou.

O regresso das aulas presenciais não é apenas para os alunos. A professora Conceição Moreira, que leciona Educação Visual e Tecnológica disse sentir-se “entusiasmada” por voltar a estar próxima dos alunos.

“Estamos com boas perspetivas e tudo se faz, com os cuidados redobrados. No ensino presencial há uma relação de proximidade, de afeto e os alunos ficam mais motivados do que no ensino à distância”, afirmou a professora, acrescentando que o ensino virtual é “mais desgastante e superficial”.

Também a assistente operacional da biblioteca da escola Elisabete Silva, que continuou a trabalhar em horário desfasado, mostrou-se satisfeita pelo regresso da azáfama criada pelos alunos: “já tinha saudades do burburim, é sempre bom”, confessou.

A funcionária destacou que o regresso às aulas é “importante” para os “miúdos mais novos” e afirmou que a escola se preparou para assegurar as regras necessárias para o controlo da pandemia.

“Estamos preparados para o que vier e, embora com todas as regras que são impostas, penso que vai correr tudo bem”, assinalou.

Apesar das medidas de segurança, Lúcia Fonseca, encarregada de educação, mostrou-se preocupada com a reabertura da escola nesta fase, porque “haverá mais contactos entre os colegas” e “é provável que os casos aumentem”.

“Acho que ainda devíamos ter esperado mais um pouco até reabrir a escolas. Pelo menos mais uma semaninha para ver se diminui o número de casos [de Covid-19]. O ensino à distância não é a mesma coisa, mas assim também se pode pôr em risco as crianças”, destacou.

Opinião diferente manifestou o pai Samuel Pedro, que disse confiar nas medidas da escola para conter os contágios e porque em “frente a um computador as crianças distraem-se facilmente”.

“As crianças precisavam de vir para a escola, acho que em termos de higiene está tudo controlado. O ensino à distância não é a mesma coisa, porque as crianças precisam mesmo de estar com a professora e a professora precisa ver, realmente, o que elas estão a fazer”, salientou.

Também a filha de Samuel Pedro disse estar “feliz” por voltar para junto dos colegas: “eu queria vir para a escola e agora já estou na escola, queria brincar com os meus amigos e aprender mais coisas”.

Existem presentemente 460 casos ativos na região, sendo 380 em São Miguel, 57 na Terceira, 17 no Faial, quatro no Pico, um nas Flores e um no Corvo.

Desde o início da pandemia, foram detetados nos Açores 3.647 casos de infeção pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, que causa a doença covid-19, verificando-se 26 mortes e 3.060 recuperações.