O Ministério Público já instaurou, pelo menos nove inquéritos por utilização indevida da vacina contra a Covid-19, disse ao Observador fonte oficial da Procuradoria-Geral da República (PGR). Entre eles, estão os casos da Segurança Social de Setúbal, do INEM de Lisboa e do INEM do Porto.

Estão também a ser investigados os “factos também noticiados ocorridos em Portimão (Centro de Apoio de Idosos), Vila Nova de Famalicão, Arcos de Valdevez, Bragança, Seixal e Montijo”. A PGR alerta no entanto que o “trabalho de pesquisa prossegue ainda relativamente a outras situações que também têm vindo a público”.

O caso da Segurança Social de Setúbal diz respeito à alegada vacinação contra a Covid-19 de 126 funcionários, da própria diretora, a socialista Natividade Coelho, que entretanto apresentou demissão, e ainda de outros diretores de unidades e diretores de núcleos da Segurança Social.

Funcionários da Segurança Social de Setúbal vacinados após entrarem em lista que devia ser exclusiva para idosos e trabalhadores de lares

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Quanto aos processos relativos ao INEM, o de Lisboa foi denunciado pela Associação Nacional de Emergência e Proteção Civil através de um comunicado, onde alertava para a vacinação de dezenas de profissionais não-essenciais e que não são profissionais de saúde, como Pedro Coelho dos Santos, jornalista, assessor e amigo do presidente do INEM, Ana Gomes, sua assessora jurídica e ainda todos os diretores nomeados pelo presidente, Luís Meira.

Já o caso do INEM do Porto também já levou à demissão do responsável pela delegação norte. Em causa está o facto de terem sido vacinados contra a Covid-19 proprietários e funcionários de uma pastelaria e de um restaurante do Porto. António Rui Barbosa, o médico responsável pela delegação, explicou que só tinha duas opções: vacinar cidadãos não prioritários — como os funcionários do estabelecimento — ou “deitar ao lixo” as 11 doses da vacina.

Vacinas que sobram. O que falha no controlo em Portugal e os exemplos de outros países

Já o Centro de Apoio de Idosos de Portimão deu a possibilidade a todos os órgãos sociais, incluindo o Conselho Fiscal cujos membros não têm qualquer contacto com os idosos, de serem vacinados: cerca de metade dos elementos que compõem os órgãos sociais do lar de idosos terão sido incluídos na lista dos prioritários da vacinação. Um deles, o presidente da direção.

O caso de Vila Nova de Famalicão diz respeito ao administrador do Hospital Narciso Ferreira que terá incluído a filha e a mulher na lista de profissionais prioritários, chegando a mentir sobre a profissão da mulher, dizendo que era médica para justificar a vacinação, segundo avançou o Correio da Manhã.

O inquérito relativo a Arcos de Valdevez refere-se a um caso divulgado pelo Observador: Francisco Araújo, presidente da Assembleia Municipal de Arcos de Valdevez e provedor da Santa Casa da Misericórdia local terá sido vacinado contra a Covid-19 sem estar no primeiro grupo prioritário. Ao Observador, explicou quem sem que estivesse minimamente a contar com isso, foi contactado pela enfermeira responsável pelo processo de vacinação que estava a decorrer nas instalações da Santa Casa – estavam a ser vacinados os idosos residentes e os funcionários — porque “havia sobras” da vacina.

Há mais um autarca que foi vacinado sem estar no grupo prioritário — “porque havia sobras”

O caso do Seixal também envolve uma autarca. A vereadora socialista da Câmara do Seixal, Elisabete Adrião, que também é técnica de ação social, terá tomado  a primeira dose da vacina contra a Covid-19 um dia depois de se tornar responsável pelo Núcleo Local de Inserção de Sesimbra — terá sido, aliás, a única a receber a vacina de todos os funcionários do Núcleo.

Já o Montijo também envolve a Santa Casa da Misericórdia. Segundo o Expresso, o provedor José Manuel Braço Forte colocou o seu nome na lista de pessoas a vacinar enviada pela instituição e também o da sua mulher, que não satisfazia nenhuma das condições para ter sido vacinada durante a primeira fase.