O número de internados por infeção com Covid-19 em Portugal com idades abaixo dos 80 anos é cada vez maior e isso é uma mudança importante na evolução da pandemia em Portugal, devendo por isso ser investigada. Quem o diz são os especialistas ouvidos pelo jornal Público que relata que a percentagem de doentes a partir dos 80 anos internados em unidades de cuidados intensivos passou de 8,3%, em Novembro, para 2,3% no final de Janeiro.
Apesar de no geral os mais idosos representarem o maior grupo de todos os internamentos em enfermaria, a percentagem de pacientes em idades mais jovens está a aumentar em todas as faixas etárias, a partir dos 30 e até aos 79 anos, mostram dados da Direção-Geral de Saúde cedidos ao diário português. Só nas faixas etárias até aos 39 anos, por exemplo, o número de doentes praticamente triplicou, passou de 76 para 219, um acréscimo de 188%, conta o Jornal de Notícias. Em unidades de cuidados intensivos, os números também cresceram: mais do que duplicaram, na verdade, passando de 14 para 32. Também no grupo de pessoas entre os 20 e os 39 anos os internamentos no geral subiram três vezes mais, de 58 para 186.
“O que se está a passar?” é a pergunta que se impõe, perante estes dados, mas por enquanto ainda não há respostas 100% fechadas, apenas várias hipóteses. Uma delas — bastante unânime entre os médicos consultados tanto pelo Público como o JN — é a de que, com o aumento generalizado do número de infetados, é natural que se verifiquem mais doentes jovens do que era normal nas primeiras vagas. Contudo, João Ferreira Ribeiro, diretor do serviço de Medicina Intensiva do Hospital de Santa Maria, assinala como hipótese um possível sinal de rutura dos serviços médicos hospitalares.
Apesar de deixar bem claro que a idade não é critério de referênciação no momento de internamento, “a biologia” dita de forma geral que “o critério fisiológico” vai sendo cada vez mais decisivo à medida que a idade aumenta” no momento de admissão em Unidades de Cuidados Intensivos. Ou seja, em cenários de grande afluência a estes serviços, dá-se primazia aos que têm mais probabilidade de reagir bem ao tratamento — e esses, normalmente, costumam ser os mais novos. “E a predisposição fisiológica para doença grave aumenta com a idade. Somos mais frágeis aos 80 anos do que aos 40 anos, na maior parte dos casos”, diz o médico.
Ainda assim, e aqui o consenso também é generalizado, esta realidade deve servir de exemplo para quem continua a defender que os mais novos estão menos sujeitos a demonstrar reações mais agressivas e perigosas à infeção com SARS-COV2. Margarida Tavares, infeciologista no Hospital de S. João, no Porto, explica ao JN, por exemplo, que apesar de os mais novos terem maiores capacidades de recuperação, quando o estado de saúde geral se agrava, estes “evoluem muito mal” e a cura pode tardar a chegar.