O Cedesa, entidade que analisa assuntos políticos e económicos de Angola, defendeu esta terça-feira que a petrolífera angolana Sonangol deve manter a participação que tem na Galp, mas de forma “autónoma e diretamente no corpo acionista da empresa portuguesa”.
Além disso, as duas empresas devem aproveitar o potencial de sinergias que têm para desenvolver, nomeadamente na área da transição energética, mas também nas áreas comerciais e industriais, considera aquela entidade, que não afasta também a possibilidade de um reforço da posição da Sonangol na Galp.
A primeira conclusão a que se chega através desta curta análise é a necessidade de reformular juridicamente a participação da Sonangol na Galp”, lê-se no documento a que a Lusa teve acesso.
Por isso, aconselham “vivamente” o desenvolvimento de sinergias “nas áreas da transição energética”, nomeadamente, na energia solar, mas também nos domínios comerciais e industriais.
O desenvolvimento de sinergias na área da transição energética é, no entanto, para a Cedesa “a opção mais promissora” para ambas as empresas.
Tendo a Galp já embarcado num avançado programa de transição energética e estando a Sonangol a querer dar passos mais firmes nesse sentido (…), a aliança ou cooperação entre a Sonangol e a Galp nesta área, designadamente na energia solar, onde a Galp, como se referiu, tem uma posição de destaque na Península Ibérica, e a Sonangol vem dum país com grande potencialidade, há uma grande possibilidade de atuação conjunta”, aponta o documento.
Sobre as possibilidades de sinergias industriais e comerciais entre as duas empresas, a Cedesa considera que “obviamente” estas também “são imensas”. “Desde a refinação de petróleo nas refinarias da Galp, aos derivativos e ao shipping”.
Além disso a Sonangol pode beneficiar também “da utilização da experiência acumulada pela Galp na prospeção no pré-sal no Brasil para abrir novos horizontes em Angola”, frisa.
O relatório sublinha que num momento em que a petrolífera angolana se encontra em processo de reestruturação e pretende privatizar parte do seu capital “é fundamental equacionar o que vai fazer em relação à sua participação na Galp“, mas sem contemplar a venda.
A CEDESA defende que “só depois de finalizado o combate contra a pandemia Covid-19 é que se poderá aferir o valor de mercado tendencial da Galp”.
Até lá, “será precipitado vender a posição, num momento em que se encontra desvalorizada fruto de impactos externos”, provocados, essencialmente pela pandemia.
Já um reforço da participação da Sonangol da Galp faria sentido, na opinião do Cedesa, caso a petrolífera angolana tenha “fundos disponíveis para tal aquisição e visse um interesse estratégico adicional que lhe levasse a ter uma posição mais influente na companhia”.
Atualmente, “a posição da Sonangol surge ‘ensanduichada’ entre os Amorim e Isabel dos Santos, não tendo efetivamente margem de manobra estratégica e não tendo um papel determinante na Galp, uma vez que está sempre mediada pelos Amorim”.
Segundo notícia divulgada esta segunda-feira, a Sonangol quer retirar empresas de Isabel dos Santos da estrutura acionista da portuguesa Galp e esta situação está a ser avaliada pelo tribunal arbitral holandês, devendo a decisão final ser conhecida em maio.
A Sonangol tem uma participação na Galp, através da Amorim Energia, empresa criada em parceria com a família Amorim, e que detém 33,33% da petrolífera portuguesa.
Só que a posição que a Sonangol tem na Amorim Energia, também é detida indiretamente, através da Esperaza Holding.
Assim, a petrolífera angolana tem 60% da Esperaza e os restantes 40% do capital estão nas mãos da Exem, detida pelo falecido Sindika Dokolo, marido de Isabel dos Santos.