É mais um caso de vacinação indevida a envolver políticos. O vereador da câmara municipal de Torres Novas, Carlos Ramos, tomou a vacina sem fazer parte de nenhum grupo prioritário. O próprio admitiu isso ao Observador, justificando que “sobrou uma” vacina e “não existia mais ninguém para ser vacinado”.

O eleito pelo Partido Socialista diz que tomou a vacina em “circunstâncias muito específicas” e que compreendem o desempenho das suas funções no âmbito da Proteção Civil. Segundo explicou ao Observador no momento em que foi brindado com a vacina encontrava-se a “fazer o acompanhamento das equipas de vacinação do ACES do Médio Tejo, em conjunto com os bombeiros”. Ora, explica o vereador, “tendo sobrado vacinas após a vacinação da totalidade dos utentes e funcionários, dos bombeiros, sobrou uma e não existindo mais ninguém para ser vacinado, aceitei a proposta para ser vacinado em vez da vacina transformar-se em resíduo.” Estava no momento certo à hora certa.

O vereador compreende assim que aquela vacina não podia ser aplicada em mais ninguém, embora as normas apontassem para que fosse encontrado uma pessoa de um grupo prioritário da mesma fase de vacinação. O Observador questionou também o vereador sobre quando foi a toma da vacina, o que Carlos Ramos não quis especificar.

O membro do executivo da câmara municipal de Torres Novas diz, no entanto, que “é necessário contextualizar e contemporizar a situação” da sua “primeira vacina“. Carlos Ramos diz que, no momento em que tomou ainda “não existiam critérios para as vacinas que sobrassem”, o que indica que a toma da primeira dose foi anterior a toda a polémica que se desenvolveu nas últimas semanas.

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O vereador está convicto de que não fez nada de mal ou ter levado a vacina sem ser prioritário: “Penso que cumpri o dever de cidadão e ninguém foi prejudicado ou substituído. Não ocupei o lugar de ninguém. Penso que não é sério, havendo vacinas a sobrar, que sejam deitadas para o lixo.”

Contactada pelo Observador, a câmara municipal de Torres Novas garantiu que mais nenhum membro do executivo tomou a vacina.

Os casos sucederam-se nas últimas semanas e envolveram outros autarcas. Foi o caso, noticiado pelo Observador, do presidente da Assembleia Municipal de Arcos de Valdevez, Francisco Ramos, que também justificou a toma com uma sobra.

Há mais um autarca que foi vacinado sem estar no grupo prioritário — “porque havia sobras”

Outro dos casos foi o da presidente da câmara municipal de Portimão, Isilda Gomes, que justificou a toma com o facto de intermediar videochamadas no hospital de campanha instalado naquela cidade. Aliás, Helena Pinto, vereadora do Bloco de Esquerda na câmara de Torres Novas, na última reunião de câmara disse ao presidente da autarquia (que é do PS), que a vice-presidente da ANMP e sua correlogionária de partido, Isilda Gomes deveria ser demitida. É, por isso, expectável que venha a exigir o mesmo ao vereador do executivo que integra.

Presidente da câmara de Portimão vacinada indevidamente. Justificação é intermediar videochamadas em hospital de campanha

Além de autarcas, como noticiou o Observador, também houve casos em Valongo de um padre e um dirigente de uma IPSS vacinados antes de tempo.

Denúncias continuam: pároco e dirigentes de IPSS vacinados antes do tempo

O mesmo aconteceu com um tesoureiro e um vogal da Santa Casa da Misericórdia locais a serem vacinados sem serem prioritários, noutro caso noticiado pelo Observador.

Tesoureiro e vogal da Santa Casa de Alvor também foram vacinados sem serem prioritários