É mais um caso de não prioritários vacinados antes do tempo (neste caso, pela existência de sobras). Um vogal e o tesoureiro da Santa Casa da Misericórdia de Alvor foram vacinados sem estarem na lista prioritária enviada às autoridades de saúde nem pertencerem ao grupo prioritário. Ao Observador, o provedor, Mário Freitas, que também recebeu a vacina por ir “todos os dias” à instituição e estar em “contacto direto” com utentes, diz que os dois funcionários foram vacinados porque, perante duas sobras, a enfermeira responsável pela vacinação lhe pediu que indicasse dois nomes. Os escolhidos, garante, “estão regularmente na Santa Casa”.

A vacinação ocorreu no dia 22 de janeiro. Ao todo, incluindo também utentes e funcionários, foram administradas 67 doses. Ao Observador, o provedor, Mário Freitas, diz que foi o único membro dos corpos sociais a estar incluído na lista inicial que a Santa Casa enviou às autoridades de saúde com os nomes das pessoas a serem vacinadas. E que assim foi porque é presença assídua na instituição. “Passo mais tempo na misericórdia do que qualquer trabalhador. Se eu passo lá tanto tempo, não me vou resumir ao meu gabinete de trabalho. Estou com os utentes, incluindo sábados e domingos”, afirma, garantindo que também ajuda na manutenção dos espaços.

“A Santa Casa de Alvor tem grandes limitações financeiras e não tem a possibilidade, por exemplo, de ter um encarregado de manutenção. (…) Anteontem faltou a luz em Alvor, foi preciso pôr o elevador a trabalhar e quem vai fazer isso é o provedor, que é pau para toda a obras“, acrescenta. Outro fator para ser incluído e poder exercer funções “tranquilamente” foi a idade (76 anos).

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No dia da vacinação, segundo explica, a enfermeira responsável pelo processo optou por não vacinar dois funcionários — uma porque estava a amamentar, outro porque toma uma medicação que “levantou dúvidas”. Em conjunto com o médico assistente, pediu ao provedor que indicasse dois nomes “de imediato”, sob o “risco de as sobras não serem aproveitadas”.

“A enfermeira responsável e o médico assistente chamaram-me e disseram: ‘Em vez de recolhermos as duas doses, podemos administrar em duas pessoas que o senhor entenda’. Pensei: não vamos desperdiçar algo precioso e, com sentido de responsabilidade, apontei dois elementos que são aqueles que me acompanham“, conta Mário Freitas, provedor há quatro anos. Um deles “ajuda na manutenção” e o outro “na parte administrativa“, embora, por ter “conhecimento de eletrónica” também auxilie na parte operacional, frisa.

“Têm uma assiduidade que, perante os problemas que estamos a passar, justificaria normalmente que fossem [vacinados]”, acrescenta. Mário Freitas, que também é voluntário no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), diz que tem a “consciência absolutamente tranquila”. O Observador pediu esclarecimentos à Administração Regional de Saúde (ARS) Algarve, mas ainda não obteve resposta.

O plano nacional de vacinação contra a Covid-19 não é específico sobre a vacinação de dirigentes, prevendo na primeira fase, a administração de vacinas a utentes e funcionários dos lares (assim como a profissionais de saúde). A esta indicação, Mário Freitas responde que colocou o seu nome na lista não por ser dirigente, mas por trabalhar ativamente na instituição.

A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) tem, porém, informado que os chamados “dirigentes ativos”, que estão em contacto direto com utentes ou trabalhadores, só devem ser vacinados mais tarde, numa terceira fase, após os utentes e os funcionários. Só que a orientação está a levantar dúvidas de interpretação, levando dirigentes a invocarem a recomendação veiculada como justificação para já terem recebido a vacina. Já o Ministério da Saúde deixa para os lares a escolha de quem é vacinado.

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