A Caixa Geral de Depósitos (CGD) anunciou esta quinta-feira que os resultados anuais do grupo baixaram de 776 para 492 milhões de euros no ano de 2020 – um resultado que foi conseguido apesar de o banco ter colocado de parte 309 milhões de euros em provisões. A informação foi comunicada ao mercado através da CMVM e está a ser apresentada através de uma conferência de imprensa em formato remoto onde a gestão do banco indicou que irá pagar um dividendo de 85 milhões – metade do que está previsto no Orçamento do Estado.

Trata-se de uma quebra de 37% em relação aos resultados (re-expressos) de 2019 mas representa, ainda assim, um rentabilidade dos capitais próprios de 6,1%, acima da média do setor.

Estes são resultados que foram apresentados na conferência de imprensa por Emílio Rui Vilar, presidente do conselho de administração que, antes de passar a palavra à comissão executiva (presidida por Paulo Macedo), reiterou a intenção de sair do cargo na próxima assembleia-geral. Essa saída de Emílio Rui Vilar, que tem 81 anos, já tinha sido confirmada em outubro em comunicado do próprio.

Emílio Rui Vilar de saída da presidência da administração da Caixa Geral de Depósitos

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O responsável comentou que este foi um ano “pesadamente marcado pela pandemia”. “No meu tempo de vida – e ainda me lembro da II Guerra Mundial – assisti a várias crises mas nunca uma tão brutal quanto esta“, comentou Emílio Rui Vilar. Ainda assim, o presidente do conselho de administração confirmou que, na sua ótica, a Caixa Geral de Depósitos conseguiu “cumprir a missão” no plano associado à recapitalização pública acordado no início de 2017 com as autoridades europeias – apesar da pandemia e das taxas de juro mais baixas, na Europa, do que o previsto na altura em que o plano foi gizado.

Os custos de estrutura recorrentes apresentam uma redução de 8% face a 2019, refletindo uma melhoria nos níveis de eficiência evidenciada pelo rácio cost-to-income recorrente de 49,8% na atividade doméstica”, diz a Caixa Geral de Depósitos em comunicado.

67 mil créditos sob moratória (6 mil milhões de euros). Prolongar depende da Europa

O banco público atualizou os dados sobre as moratórias indicando que a 31 de janeiro de 2021 tinha cerca de 67 mil contratos de crédito em moratória, 21 mil de empresas e 46 mil de particulares.

Isto representa 5.992 milhões de euros em créditos, dos quais cerca de três mil milhões são créditos a empresas e oito mil milhões a particulares, essencialmente crédito à habitação.

Estes são valores que, ainda assim, baixaram em relação aos dados registados no final de julho: o valor total, em euros, de crédito em moratória baixou em 990 milhões de euros entre julho e janeiro.

Paulo Macedo, presidente da comissão executiva, sublinhou que uma eventual decisão sobre prolongar ou não as moratórias não depende “do banco A ou B ou, mesmo, do Governo A ou B” – para que se possa haver um prolongamento de moratórias é necessário que a Autoridade Bancária Europeia (EBA) aceite enquadrar esses créditos de outra forma que não créditos vencidos, o que teria “efeitos nefastos”.

O responsável comentou, porém, que “não faz sentido aumentar ainda mais as moratórias em Portugal [que tem os rácios mais elevados da zona euro a este nível] exceto para as empresas que não gerem cash flow após as moratórias. “Temos clientes com moratórias que as pediram por cautela, outras que preferem não ter a despesa agora e temos clientes que precisam, e muito, e vão continuar a precisar”, tais como empresas de turismo, viagens e eventos. Até há empresas cotadas no PSI-20 que têm moratórias, revelou Paulo Macedo.

“A Caixa é favorável a uma situação de apoio nacional ou internacional a estes setores que não terão receitas para pagar”, sublinhou Paulo Macedo, defendendo que “não deve ser continuado o apoio a todas as empresas, para não gerarmos um monstro“, expressão utilizada anteriormente pela jornalista que fez a questão. “Mas esta é uma questão decidida por legislação internacional e não pelos bancos ou pelos governos, individualmente”, repetiu.

Paulo Macedo indicou, porém, que “a Caixa está disponível para, com moratórias ou não, reestruturar empréstimos de pessoas que no fim das moratórias estejam desempregadas”. “A Caixa nem os outros bancos têm vontade de ir executar casas“, rematou o gestor.

Quase 70% dos créditos são considerados sem quaisquer problemas de cumprimento, quase 24% estão “marcadas” como “potencial risco” – além destes, há 7,5% dos créditos em que se prevê dificuldades no regresso ao pagamento das prestações.

Dividendo de 85 milhões é metade do que está previsto no OE

A comissão executiva do banco indicou, também, que irá propor o pagamento de um dividendo de 85 milhões de euros relativo a este exercício, cumprindo as limitações impostas pelo Banco Central Europeu. Ainda assim, é cerca de metade dos 160 milhões que estão previstos no Orçamento do Estado.

João Leão está à espera que a CGD contribua com quase 160 milhões de euros para o difícil equilíbrio das contas públicas no próximo ano.

Ainda assim, Paulo Macedo não exclui a possibilidade de a Caixa vir a pagar um dividendo extraordinário no futuro, caso o desempenho da economia e a evolução da pandemia o permitam, sempre no cumprimento dos requisitos regulatórios.

Caixa Geral de Depósitos pode abrir buraco de 160 milhões no Orçamento do Estado