Demitiu-se esta terça-feira o vereador da Proteção Civil da câmara municipal de Lisboa, Carlos Castro, que recentemente tinha sido visado numa polémica de vacinação indevida: ele e a diretora do departamento de Higiene Urbana da capital portuguesa foram vacinados com doses que sobraram dos lares de idosos de Lisboa.

“O vereador Carlos Manuel Castro apresentou hoje, 16 de fevereiro, o seu pedido de renúncia ao cargo, pedido que foi de imediato aceite pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa”, lê-se num comunicado da autarquia.

A nota da câmara municipal adianta ainda que vão ser “remetidos às autoridades competentes todos os elementos apurados relativos à participação da Proteção Civil no processo de vacinação dos lares para avaliação externa e independente dos mesmos”.

Vereador e diretora de departamento da Câmara de Lisboa vacinados com sobras dos lares

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“O pelouro da Proteção Civil passará a ser assumido pelo vereador Miguel Gaspar”, acrescenta o comunicado da câmara, que diz ainda que Fernando Medina “reitera a confiança no Comandante do Regimento de Sapadores Bombeiros, no Comandante da Polícia Municipal e na Diretora Municipal de Higiene Urbana, cuja vacinação decorreu por determinação de superior hierárquico e na convicção do cumprimento de todas as normas“.

Pode ler aqui a carta enviada pelo vereador a Fernando Medina:

A notícia veio a público na última quinta-feira através da revista Sábado. Na origem do problema, o facto de terem sobrado 126 doses de vacina contra a Covid-19 depois da campanha de vacinação dos lares de idosos da cidade de Lisboa, durante a primeira fase de imunização de pessoas prioritárias.

Essas doses sobraram devido à deteção de novos casos positivos e novos surtos em instituições — situações que impedem a utilização das vacinas.

Por terem sobrado e não poderem voltar a ser armazenadas ou transportadas, as vacinas foram usadas para imunizar um conjunto de pessoas envolvidas no processo de vacinação, além de bombeiros e elementos da polícia municipal. De acordo com informações prestadas pela própria autarquia, foram vacinados 56 bombeiros voluntários, o comandante e o subcomandante do Regimento de Sapadores Bombeiros e 42 elementos da Polícia Municipal.

Além dessas 100 doses administradas a bombeiros e forças de segurança, as outras 26 doses foram aplicadas em pessoas envolvidas no processo de vacinação: 15 enfermeiros, oito elementos da Proteção Civil e três elementos da Higiene Urbana (envolvidos na recolha de seringas e resíduos). Entre os elementos da Proteção Civil foi vacinado o próprio vereador Carlos Castro.

PSD Lisboa diz que demissão era “inevitável”

Na sequência das notícias sobre a vacinação de Carlos Castro, o PSD tinha exigido a demissão do vereador. Depois do socialista anunciar a decisão, o presidente do PSD Lisboa, Luís Newton, defendeu em comunicado que era “inevitável“.

Desde a primeira hora considerámos que deixara de ter condições para se manter em funções, por não ser aceitável que o vereador, assim como a Diretora Municipal de Higiene Urbana e os comandantes do Regimento de Sapadores Bombeiros e da Polícia Municipal, tenham sido privilegiados no processo de vacinação por “inerência“ dos cargos”, lê-se no comunicado assinado por Luís Newton.

Segundo o responsável, a demissão mostra que “a estratégia de vacinação está a falhar na sua primeira fase, pondo em causa um mais rápido controlo da pandemia”.

O PSD Lisboa propõe uma “comissão de fiscalização e acompanhamento do processo de vacinação” na área metropolitana de Lisboa. “Quando temos presidentes de junta a fazer diligências de autoridades de saúde, como aconteceu na passada semana, já não temos qualquer plano. Entendemos que num momento em que existe escassez de vacinas é a altura ideal para a reestruturação profunda do planeamento“, refere.