O vereador da Proteção Civil da Câmara de Lisboa, Carlos Castro, e a diretora do departamento de Higiene Urbana, Filipa Penedos, foram vacinados com as doses das vacinas que sobraram do processo de vacinação dos lares em Lisboa, conforme avançou a Sábado, esta quinta-feira.

Ao Observador, fonte oficial do município diz que a informação já tinha sido noticiada pela Lusa, na quarta-feira, com base num documento da autarquia sobre o balanço que a Câmara Municipal de Lisboa fez sobre a vacinação nas estruturas residenciais para idosos e portadores de deficiência. Todos os esclarecimentos sobre esta campanha de vacinação são aí prestados.

Como referido no documento a que o Observador também teve acesso, foram ministradas 26 doses a elementos das equipas envolvidas diretamente na operação de inoculação nos lares, designadamente 15 enfermeiros e oito elementos da Proteção Civil municipal presentes no local da vacinação, entre os quais o vereador com a pasta respetiva, e também três elementos da Higiene Urbana, entre os quais a sua diretora, envolvidos no processo de recolha das seringas utilizadas na vacinação. As restantes 100 sobras “foram ministradas a profissionais dos grupos constantes na primeira fase de prioridade definida” pela Direção-Geral da Saúde.

“Consultadas as autoridades de saúde envolvidas, as determinações expressas foram no sentido de garantir o aproveitamento total das doses existentes e de proceder à sua ministração de acordo com o seguinte critério: em primeiro lugar, vacinar todos os profissionais da linha da frente envolvidos na operação de vacinação; e, findo esse grupo, vacinar os grupos da primeira fase de prioridade como os bombeiros e polícias”, lê-se no balanço divulgado pela Câmara Municipal. Carlos Castro e Filipa Penedos terão assim sido colocados no primeiro destes grupos, por terem estado “envolvidos na operação de vacinação”.

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O  município acrescenta ainda que “os procedimentos adotados viriam a revelar-se exatamente os mesmos que acabariam por ser determinados, posteriormente, no artigo 16 da norma 002/2021 da Direção-Geral da Saúde”.

PSD Lisboa pede demissão do vereador da Proteção Civil da Câmara de Lisboa

O PSD Lisboa pediu a demissão de Carlos Castro, expressando a “indignação perante a atitude do vereador”, “que se fez vacinar com ‘sobras’ de vacinas destinadas aos grupos prioritários definidos pelas autoridades de saúde”.

“A demissão de Carlos Castro é o mínimo que este executivo deveria exigir ao seu vereador”, escreve o PSD Lisboa numa nota enviada às redações.

Para o partido, trata-se de “mais um episódio de desconsideração pelos lisboetas, em particular, e por todos os portugueses de forma geral, que aguardam com responsabilidade e seriedade que chegue a sua vez de serem vacinados”. Isto por considerar que o vereador da Proteção Civil, a diretora municipal de Higiene Urbana e o comandante da Polícia Municipal “não se encontram nas linhas da frente”.

” É apenas mais um exemplo do mau planeamento desta Câmara Municipal cujas prioridades se encontram evidentemente baralhadas”, lê-se na nota do partido.

Sobraram 126 vacinas, uma média de 18 em cada dia

Na nota enviada às redações, na quarta-feira, relativamente à gestão do contingente de vacinas, o município explica que “em cada dia de vacinação foram levantadas nos centros de saúde as doses de vacina correspondentes unicamente a 80% das pessoas previstas vacinar em cada um dos dias”.

“Uma prática de segurança”, sustenta a câmara, acrescentando que, “uma vez saídos dos centros de saúde, e mesmo conservados em frio em embalagem que monitoriza o seu estado de conservação, os ‘frascos não perfurados devem ser usados nesse dia’ e ‘os frascos já perfurados não podem ser transportados’”.

Ainda assim, sobraram 126 vacinas, uma média de 18 por dia, uma vez que “há circunstâncias só conhecidas ao longo do próprio dia de vacinação que impedem a vacinação da pessoa prevista”. “São exemplo novos casos positivos (individuais ou surtos), doença, tratamento médico ou medicamentoso por causas diversas, hospitalizações, óbitos etc.”, é referido.

“Foram assim vacinados 56 bombeiros voluntários e o comandante e subcomandante do Regimento de Sapadores Bombeiros, e 42 elementos da Polícia Municipal, incluindo o comandante e subcomandante”, especifica a câmara. E ainda, os 15 enfermeiros, oito elementos da Proteção Civil municipal e três elementos da Higiene Urbana, já referidos.

O processo de vacinação em lares e instituições de apoio a portadores de deficiência em Lisboa está a ser coordenado pelos serviços municipais da Proteção Civil, Polícia Municipal, Higiene Urbana e Bombeiros Voluntários, em articulação com os três agrupamentos de centros de saúde da cidade (Central, Ocidental e Norte).

A primeira dose da vacina contra a Covid-19 já foi ministrada a 6.244 utentes e profissionais em 126 equipamentos, estando em falta 43 instituições, conforme nota do município. Destas, 5.400 utentes e profissionais receberam a primeira dose da vacina entre 18 e 22 de janeiro. Nos dias 2 e 6 de fevereiro, foram vacinados outros 844 utentes e profissionais em 20 lares que “registavam surtos ativos na semana de 18 a 22 de janeiro”. A segunda dose da vacina contra a Covid-19 começou a ser ministrada nestes lares e instituições na segunda-feira.

A Câmara de Lisboa, presidida por Fernando Medina (PS), aguarda agora “que estejam reunidas as condições técnicas necessárias, assim que as autoridades de saúde garantam a inexistência de surtos ativos, para proceder à vacinação nos 43 lares em falta, inoculando os restantes 3.173 idosos e profissionais”.