Uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros norueguês disse esta sexta-feira à Lusa que as preocupações portuguesas acerca do cancelamento do concurso ganho pela Efacec foram comunicadas às autoridades relevantes, estando Oslo a preparar uma carta sobre o assunto.

“As preocupações das autoridades portuguesas foram comunicadas às autoridades relevantes em Oslo”, respondeu hoje à Lusa Siri Svendsen, porta-voz do MNE norueguês, após a diplomacia portuguesa ter expressado, na quarta-feira, preocupação acerca de um cancelamento de um concurso de 21 milhões de euros ganho pela Efacec para uma central de biogás nos arredores de Oslo.

A porta-voz referiu ainda que “o Ministério do Comércio, Indústria e Pescas está a preparar uma carta para as autoridades portuguesas” na sequência da situação, mas descartou qualquer envolvimento direto da diplomacia norueguesa no assunto.

Confirmando que “o Ministério dos Negócios Estrangeiros Português contactou a embaixada em Lisboa por telefone e email acerca desta matéria”, a porta-voz acrescentou que a representação diplomática norueguesa em Lisboa “informou o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Lisboa acerca do Conselho de Recursos de Concursos Públicos (KOFA)”.

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Acerca do cancelamento do concurso, o MNE norueguês não comenta, e remeteu para a empresa que adjudicou inicialmente o contrato à Efacec, a Nedre Romerike Avløpsselskap (NRA), afirmando que “a matéria poderá ser possivelmente considerada pelo Conselho de Recursos de Concursos Públicos ou pelos tribunais”.

Na quarta-feira, o MNE disse à Lusa que via a anulação de um concurso ganho pela Efacec na Noruega “com muita preocupação”, estando então à espera de esclarecimentos do Governo de Oslo.

O MNE acompanha esta situação com muita preocupação, não apenas pelo que um eventual afastamento do contrato significa do ponto de vista financeiro para a Efacec, mas também pelo dano reputacional que a situação está a provocar numa empresa líder de mercado, com um historial de muito sucesso nos mercados nórdicos”, pode ler-se numa resposta enviada por fonte oficial do MNE à Lusa.

No mesmo dia, o jornal norueguês E24 noticiou que a NRA pediu uma garantia do Estado português (que atualmente detém em 71,73% da Efacec) relativamente ao concurso, independentemente de uma possível futura privatização da empresa.

“Esta garantia tem de se aplicar durante o período do contrato mesmo que o acionista maioritário venda as suas ações nas empresas, a menos que a NRA aceite que o novo dono emita uma garantia semelhante como substituição da garantia original”, pode ler-se numa letra da NRA à Efacec, citada pela publicação norueguesa.

Segundo o E24, a Efacec respondeu que não poderia haver garantia do Estado, dado que poderia ser limitada pelas regras de ajudas de Estado, e “levantaria problemas políticos que não só atrasariam o processo mas também levaria a um debate de que nenhuma das partes beneficiam”. A empresa portuguesa também alegou que os procedimentos da NRA “estão longe do padrão da indústria em concursos semelhantes”, reporta o jornal norueguês.

A Lusa contactou a Efacec acerca da troca de correspondência com a NRA e aguarda reposta. No dia 2 de fevereiro, o concurso acabou por ser cancelado por razões de solidez financeira da Efacec, de acordo com declarações do diretor-geral da NRA, Thomes Trømborg.

Em reação ao cancelamento, em 12 de fevereiro a Efacec disse à Lusa que “não deixa de ser estranho, igualmente, o facto da queixa da empresa concorrente da Efacec, que originou esta situação, ter sido desestimada pela entidade reguladora dos concursos públicos norueguesa – KOFA – e mais ainda pelo facto de a NRA ter defendido a escolha da Efacec publicamente”.

“As alegações apresentadas pela empresa pública norueguesa são veemente refutadas pela Efacec, que não compreende o cancelamento de um concurso, nem o facto de a decisão ter sido revertida pouco mais de um mês após a sua adjudicação”, acrescentando que se encontra “a analisar todas as opções legais para recorrer desta decisão, que não compreende e que não aceita”, acrescentando que defenderá a sua reputação “até às últimas consequências”.

No dia 23 de dezembro, a Lusa noticiou que a empresa norueguesa Cambi, concorrente da Efacec no concurso de 20,9 milhões de euros, contestou-o devido às anteriores ligações acionistas à empresária Isabel dos Santos.