As autoridades policiais portuguesas e brasileiras acreditam que os 587 quilos de cocaína – mais de meia tonelada de droga – que foram encontrados num avião que tinha como um dos passageiros o antigo presidente do Boavista, João Loureiro, poderá ter origem na rede de narcotráfico de Sérgio Roberto de Carvalho. Este é um dos bandidos e narcotraficantes mais procurados do mundo, conhecido como “Escobar brasileiro”, com ligações a Portugal (terá vivido alguns períodos em Lisboa entre 2018 e 2020) e com uma história digna de uma série da Netflix, que envolve passaportes e nomes falsos, uma simulação da própria morte, fuga permanente aos radares das autoridades, mansões, uma fortuna milionária e malas atoladas de notas.

As suspeitas são relatadas pela revista Visão, num extenso perfil do narcotraficante publicado esta quinta-feira na edição semanal da revista. A newsmagazine dá detalhes sobre as suspeitas das autoridades, escrevendo que tanto a Polícia Federal Brasileira como a Polícia Judiciária acreditam que os 587 quilos de cocaína pertencem a este narcotraficante brasileiro, cujo paradeiro atual é incerto e que já assumiu várias identidades e passaportes nos últimos anos: já foi, nota a Visão, Paulo Pinheiro, Paulo Gonçalves Silva, Paulo Sérgio Silva e Paul Wouter.

À revista semanal, uma fonte próxima do antigo presidente e ex-vocalista dos Ban reforçou a tese de que João Loureiro teve apenas o azar de estar no avião errado à hora errada. E fez mais: garantiu que o filho do Major Valentim Loureiro nunca tinha ouvido falar de Sérgio Roberto de Carvalho, o “Escobar brasileiro”, assim como também não conheceria o espanhol Mansur Heredia, para quem o avião terá sido fretado.

As suspeitas sobre a relação da droga encontrada neste voo com as redes de narcotráfico de Sérgio Roberto de Carvalho explicam-se por alguns dados: o avião fez várias viagens para o Brasil – onde Carvalho terá implantada a sua rede de cartéis – e terá também passado perto de Málaga, onde as autoridades acreditam que o narcotraficante terá vivido  numa mansão luxuosa avaliada em 2,2 milhões de euros, segundoa Visão.

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Na Península Ibérica não foi só em Espanha, porém, que o “Escobar brasileiro” viveu – embora tenha acontecido aí um dos pormenores mais macabros da sua história, dado que em Marbella foi detido acabando por ludibriar as autoridades com a própria morte. Quando a polícia espanhola o deteve, acreditou estar perante um traficante  chamado Paul Wouter, nascido em 1965. Só se aperceberam que Wouter seria na verdade Sérgio Roberto de Carvalho depois de, após ter estado em prisão preventiva e saído em liberdade com uma fiança de 200 mil euros, Sérgio ter escapado e simulado a própria morte através da cremação de um corpo que seria supostamente do tal Paul Wouter. Como explicava em dezembro o El País, os juízes espanhóis consideraram válida uma certidão de óbito que dizia que Wouter tinha morrido na sequência de um enfarte – tudo atestado por um médico de uma clínica de cirurgia estética que Wouter, ou melhor dizendo Sérgio, frequentava em Marbella.

A perceção do erro ficou clara quando foram comparadas as impressões digitais de Wouter com as de Carvalho (eram as mesmas). Só aí a polícia espanhola entendeu que tinha deixado fugir o líder de seis cartéis brasileiros, o grande transportador de droga para a Europa da atualidade e um narcotraficante que coordenou redes de transportes de droga a partir de Portugal, Bélgica, Alemanha, Holanda e Espanha – e não um Paul Wouter que chegou a apresentar-se aqui ao lado, como escreve o El País, como um empresário com negócios de importação de frutos do mar vindos de Marrocos e do Dubai.

A história de Carvalho cruza-se com Portugal e não apenas com Espanha: o narcotraficante, que em tempos idos chegou a ser major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, terá partido para Lisboa em maio de 2018 – acreditam as autoridades, de acordo com a revista Visão – e durante três anos (até 2020) viveu espaçadamente em Lisboa. As autoridades chegaram aliás a tentar intercetá-lo em Lisboa, mas porventura apercebendo-se dos movimentos em marcha para o deter Carvalho fugiu para Kiev. No porta-bagagens de uma carrinha que deixou estacionada numa garagem de um apartamento de luxo da Avenida da Liberdade ficaram 12 milhões de euros em notas. Em Lisboa o narcotraficante teve dois apartamentos em seu nome, tendo estado também hospedado numa luxuosa suite de um hotel (o Altis de Belém), escreve a Visão.