O dia começara da melhor maneira para Portugal, com a vitória de Pedro Pablo Pichardo na final masculina do triplo salto, mas as ambições nacionais na especialidade estavam longe de ficarem pelo luso-cubano e as atenções não demoraram a virar-se para o concurso decisivo do quadro feminino onde Patrícia Mamona tentava repetir ou melhorar a medalha de prata nos Europeus de Pista Coberta de 2017, em Belgrado, após ter sido campeã europeia ao Ar Livre no ano anterior em Amesterdão. No entanto, e ao contrário do que tinha acontecido esta manhã, a final seria uma das mais disputadas do dia, com várias candidatas entre as oito finalistas aos lugares do pódio.

Agora a Europa, a seguir o Mundo: Pedro Pablo Pichardo conquista primeira medalha de ouro por Portugal no triplo salto

A qualificação deixou uma demonstração de força da atleta portuguesa, com apuramento direto logo na primeira tentativa e a melhor marca nesta fase com 14,43, a um centímetro do recorde pessoal e nacional que lhe pertence depois de um arranque de temporada onde ganhou de forma tranquila os Campeonatos de Portugal com 14,03 e confirmou a marca referência no meeting de Madrid há pouco mais de uma semana com 14,21. No entanto, e  entre as rivais mais diretas, tinha pela frente a grega Paraskevi Papahristou, líder do ranking europeu (sexta do mundo) com a melhor marca do ano antes desta prova com 14,60; a espanhola Ana Peleteiro, terceira europeia que tinha 14,21 como melhor marca de 2021 mas que mantém como recorde pessoal 14,73; a bielorrussa Viyaleta Skvartsova, que bateu este ano o registo pessoal com 14,39; a finlandesa Senni Salminem, que superou o recorde pessoal na qualificação com 14,22; e a alemã Neele Eckhardt, com a melhor marca do ano no apuramento (14,12).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Patrícia Mamona mostra a sua força: melhor marca do ano logo a abrir e qualificação direta para final do triplo salto

“Para dizer a verdade estou tão surpreendida como vocês. Posso adiantar que entrei na pista com vontade de saltar o mais longe possível, tentar a qualificação logo no primeiro salto e felizmente isso aconteceu. A preparação não foi a ideal mas os últimos resultados, sempre a melhorar, deram-me confiança, apesar de me ter faltado o ritmo competitivo de outras ocasiões. Cada final é uma competição diferente. Não gosto de pensar muito em marcas ou em lugares, gosto de me focar em saltar cada vez mais longe, para obter a melhor classificação possível. Só com um salto fiquei com mais tempo para poder descansar, normalmente temos dois dias entre as provas mas desta vez é já amanhã [domingo]”, comentou este sábado a atleta portuguesa após a qualificação.

O arranque da prova, esse, mostrou de novo a melhor versão de Patrícia Mamona e também a competitividade que esta final teria: Paraskevi Papahristou abriu o concurso com 14,27, Kristina Mäkelä surpreendeu com um registo máximo em 2021 de 14,23, Viyaleta Skvartsova teve um salto nulo mas que iria também para uma boa marca acima de 14 metros, a portuguesa respondeu com uma primeira tentativa a 14,35 que a colocou na frente da final apesar de ter feito um olhar para o treinador José Uva de quem queria ainda melhor. E conseguiu, logo a seguir: com a atleta grega a subir para 14,31, a portuguesa aumentou a liderança com um salto a 14,38, vendo depois Ana Peleteiro ter um salto nulo que a colocava ainda mais pressionada na luta pelas medalhas (13,98).

A vantagem estava criada, a confiança estava a aumentar, a história estava à distância de mais um salto: após mais um bom salto de Papahristou (14.20), a portuguesa voou para o recorde nacional com 14,53, mais nove centímetros do que o anterior registo que também lhe pertence. Mas nem isso deu descanso a Patrícia Mamona, que viu logo a seguir a alemã Neele Eckhardt bater o seu recorde pessoal e ficar no segundo lugar a um centímetro da portuguesa (14,52), seguida de Skvartsov (14,35) e Peleteiro (14,34) numa final que confirmou as expectativas como um dos melhores nestes Europeus. A atleta do Sporting fez depois um nulo e um salto a 14,29 antes da última ronda, onde as atletas fizeram mais nulos pelo risco que tiveram de colocar para chegarem às medalhas como foi o caso de Papahristou, a melhor europeia do ranking que acabou por falhar com surpresa o pódio, mas que tiveram Ana Peleteiro a arriscar também o ouro com um salto a 14,52 que lhe valeu a entrada no pódio com a prata.

Patrícia Mamona volta assim aos bons resultados internacionais, numa carreira com dezenas de títulos individuais e coletivos em termos nacionais e com pontos altos como a medalha de ouro nos Europeus ao Ar Livre de 2016 ou as medalhas de prata nos Europeus ao Ar Livre de 2012 e de Pista Coberta de 2017. A atleta tem como melhor registo nos Jogos um sexto lugar em 2016 e como melhor resultado em Mundiais uma quarta posição em Pista Coberta em 2014 e um oitavo lugar ao Ar Livre em 2019, na última grande prova antes da pandemia.

A melhor marca do ano não deu para mais: Patrícia Mamona em oitavo na final do triplo salto

De recordar que Portugal já tinha conquistado nos dois primeiros dias uma medalha de ouro no lançamento do peso feminino por Auriol Dongmo, a que se juntaram agora os pódios no triplo salto. Em paralelo, a Seleção somou resultados acima das expetativas noutras provas, nomeadamente o quarto lugar de Francisco Belo no peso com recorde pessoal e nacional em Pista Coberta; a quinta posição de Carlos Nascimento, naquele que foi o segundo melhor resultado nacional após a vitória de Francis Obikwelu em 2011; o 11.º lugar de Mariana Machado na final dos 3.000 metros depois de bater o recorde pessoal e nacional Sub-23 que pertencia a Jéssia Augusto; o recorde pessoal de Samuel Barata nos 3.000 metros, no terceiro melhor registo nacional de sempre apenas atrás daqueles que Rui Silva e Luís Feiteira conseguiram no passado; e a passagem direta esta manhã de Rosalina Santos às meias-finais dos 60 metros, não conseguindo depois dar continuidade na qualificação para a final.

Caiu mas não vacilou: Auriol Dongmo conquista no peso a primeira medalha de ouro de Portugal nos Europeus de Pista Coberta