Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos assinaram esta terça-feira o acordo-quadro para as próximas autárquicas. O objetivo, assumiram ambos os líderes partidários, é fazer destas eleições “um marco importante na afirmação de um projeto mobilizador alternativo à maioria de esquerda” e o início do fim de António Costa.

Durante a sua intervenção, Rui Rio assumiu que as próximas eleições serão de uma “importância enorme para o PSD” e que “é muito importante enfraquecer esta quase hegemonia do PS no poder autárquico”.

Sem se comprometer com metas ou com objetivos concretos, e lembrando que é diferente conquistar uma grande câmara ou várias câmaras de menor dimensão, Rui Rio recordou que as eleições autárquicas já influenciaram “aquilo que foi o curso da direção nacional dos partidos e que por duas vezes determinaram a saída dos primeiros-ministros”, no caso as saídas de Francisco Pinto Balsemão e de António Guterres.

“Será um passo essencial para virarmos a página da geringonça”

Para Rio, as autárquicas podem ser, como antes já foram, “a gota que encheu o copo” e fez cair o Governo. Para Rodrigues dos Santos, as eleições de outubro terão tudo para ser o “cartão amarelo” ou “vermelho” a António Costa.

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Antes, ainda durante a sua intervenção, Francisco Rodrigues dos Santos já tinha deixado a mesma mensagem: “[Que] as próximas eleições autárquicas sejam um marco importantíssimo na afirmação de um projeto mobilizador alternativo à maioria de esquerda. E para que constituam momento de viragem para a mudança”, afirmou o líder do CDS.

Ao longo do discurso, Rodrigues dos Santos sublinhou que a obrigação de PSD e CDS era unir esforços para começarem já hoje a preparar essa mudança de ciclo político e uma “alternativa saudável e forte ao PS”.

“Rio e Rodrigues dos Santos querem começar a derrotar a ‘geringonça’ já nas autárquicas. Portugal precisa de um novo ciclo político. É hora de construir um tempo novo”, rematou Francisco Rodrigues dos Santos.

Rio não foge às responsabilidades; Rodrigues dos Santos avisa os críticos

Face à importância dada pelos dois líderes às próximas eleições autárquicas, o tema da possível decapitação das respetivas presidências partidárias acabou por tornar-se tema da conferência e imprensa a dois.

Tanto Rui Rio como Francisco Rodrigues dos Santos tem eleições agendadas para o pós-autárquicas: o líder do PSD porque terá, de acordo com o estatutos internos, de ir a votos em janeiro; e o líder do CDS porque, depois do último Conselho Nacional, acabou por se comprometer a ir a votos a seguir às eleições locais.

O social-democrata voltou a repetir o que vem dizendo há muito: no day-after, e em caso de resultado negativo, não fugirá às responsabilidades. “É óbvia a responsabilidade que eu tenho. E óbvio que os resultados podem ditar a [minha] continuidade do presidente”, afirmou Rui Rio.

Francisco Rodrigues dos Santos reforçou a mensagem deixada pelo presidente do PSD e traçou as óbvias semelhanças entre os percursos das duas lideranças: tal como Rio, também o líder do CDS foi desafiado em Conselho Nacional; e, tal como Rio, derrotou os críticos.

“Tentaram derrotar-nos e não foram bem sucedidos. Agora também não vão conseguir porque acredito que vamos ter bons resultados”, afirmou o líder do CDS.

Rio insiste em adiamento das autárquicas; CDS vai abster-se

Confrontado com a tendência pouca animadora para o centro-direita registada em diversas sondagens, Rui Rio desvalorizou por completo a questão e voltou a recordar que, em 2001, pouco antes de vencer as autárquicas no Porto tinha pouco mais de 19% nos estudos de opinião e acabou por ter 44% dos votos nas urnas.

“As sondagens não interessam rigorosamente para nada”, afirmou o líder do PSD. Também Francisco Rodrigues dos Santos acabou por atirar a questão para um segundo plano, dizendo que o partido está “vacinado” contra sondagens de “credibilidade bastante duvidosa”.

Noutra nota, o líder do PSD voltou a defender que as eleições locais deviam ser adiadas durante 60 dias até que se perceba a evolução da situação pandémica do país.

“Não se consegue fazer uma campanha autárquica sem se contactar com as pessoas”, reforçou Rio, acusando os socialistas de não quererem mexer no calendário porque estão no poder.

O diploma será votado no Parlamento ainda esta semana, mas há pouca probabilidade de virem a ser aprovado. Além da oposição do PS, também o CDS, anunciou Francisco Rodrigues dos Santos, vai abster-se na votação por entender que é “prematuro” concluir que o país não terá condições sanitárias para ir a votos em outubro.

Líder do PSD ameaça despesistas: “Vão pagar do seu bolso”

No essencial, o acordo assinado entre PSD e CDS é semelhante àquele que foi assinado em 2017. Mas há um dado que merece especial enfoque: a preocupação com as contas dos respetivos partidos e com a necessidade de cumprir os orçamentos definidos para cada campanha.

No documento, pode ler-se que as “partes estabelecem que tudo farão para assegurar o princípio da boa gestão dos recursos financeiros, introduzindo cortes na despesa autorizada, face ao histórico de anteriores eleições, e assegurando o princípio do ‘bom pagador’ a prestadores de serviços ou fornecedores de bens”.

Mais se diz que “os dois partidos partilharão [o] prejuízo [que venha a existir] na proporção do valor com que tenham definido os adiantamentos, nos termos do disposto na cláusula quinta, contando que o orçamento global autorizado tenha sido cumprido pela candidatura”.

Aos jornalistas, Rui Rio não deixou margem para dúvidas: “Vamos ser implacáveis”, assumiu o líder do PSD, dizendo que se houver despesas não justificadas, os dois partidos tudo farão para os responsáveis pelos gastos “paguem do seu bolso”.