É estranho e, até certa medida, algo contra-natura. Mas a verdade é que existem centenas de casos iguais. A larga maioria dos jogadores que mudaram de clube no verão passado ou no recente mercado de inverno, ainda não atuaram perante os adeptos da equipa que agora representam. E basta olharmos para a realidade portuguesa para o entendermos: jogadores como Porro, Pote ou Nuno Santos ainda não sentiram o apoio da Curva Sul de Alvalade; jogadores como Waldschmidt, Darwin ou Everton ainda não correram com o peso da Luz nos ombros; jogadores como Taremi ou Evanilson ainda não viram o Dragão explodir com um dos seus golos.

E em Inglaterra, em Liverpool, Thiago Alcântara é um desses casos. O médio espanhol mudou-se para a Premier League no verão passado, depois de ter sido campeão europeu com o Bayern Munique e depois de ter sido provavelmente o melhor em campo na final da Champions contra o PSG, e ainda não sabe o que é jogar em Anfield perante mais de 50 mil pessoas a cantarem “You’ll Never Walk Alone” em uníssono — ainda que, em dezembro, os reds tenham recebido cerca de dois mil adeptos. Thiago tem sido uma das grandes figuras, pela negativa, da terrível fase do Liverpool: chegou com um enorme currículo e com um mundo de expectativas mas parece ainda não estar totalmente adaptado ao futebol inglês, à forma de jogar de Jürgen Klopp e ao entrosamento necessário com os colegas. De contratação brilhante passou rapidamente a flop do ano. E esta semana, em entrevista ao AS, não esconde que o facto de ainda não ter jogado perante adeptos tem tido muita influência nisso mesmo.

Paris Saint-Germain v Bayern Munich - UEFA Champions League Final

A festejar a conquista da Liga dos Campeões, em pleno Estádio da Luz, no final da época passada

“Mais do que físico, acho que é psicológico. Não tens o boost que os adeptos dão nos últimos minutos dos jogos, que acabam por dar um boost físico. E também há o facto de podermos fazer muito pouco diariamente na cidade. Vamos de casa para o treino e do treino para casa e entras num ciclo em que isso é tudo o que fazes”, explicou o médio de 29 anos, que está atualmente com a seleção espanhola a preparar os compromissos de qualificação para o Mundial 2022. E Thiago pega precisamente neste último ponto, o facto de ainda não conhecer a cidade onde vive há mais de seis meses, para detalhar a complexidade de jogar em estádios vazios.

“Vai ser muito bonito ver Anfield completamente cheio mas também quero aprender o que é a vida, o dia-a-dia, neste país. O futebol perde muita da sua essência sem os adeptos nas bancadas. Estamos a competir em estádios vazios e tivemos de reaprender a nossa arte. Quando éramos miúdos jogávamos em campos sem adeptos, só com os pais a gritar. Sabíamos fazer isso mas agora estávamos habituados a jogar com o apoio dos adeptos e os gritos dos adversários. E agora habituámo-nos outra vez a jogar sem adeptos. Mas temos muitas saudades de os ter nos estádios. Sentimos a falta deles todos os dias”, completou o internacional espanhol.

Na entrevista, Thiago Alcântara revelou ainda que, depois da conquista da Liga dos Campeões em agosto, recebeu propostas para regressar a Espanha — jogou no Barcelona de 2008 a 2013 — mas estava decidido a agarrar o primeiro desafio na Premier League. “Tinha opções para voltar mas estava claro para mim: a saída do Bayern seria para viver a experiência da Premier League, uma liga muito competitiva. Quando recebi o telefonema do treinador [Klopp] e do clube, foi uma decisão fácil escolher o destino. Mas foi difícil decidir se queria realmente deixar o Bayern. No final aconteceu e estou muito feliz”, concluiu.

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