O aumentos dos surtos de doenças com origem em animais ou transmitidas por vetores (como mosquitos), entre 1990 e 2016, está ligado à desflorestação (sobretudo nos países tropicais), com a reflorestação (principalmente em países temperados), nomeadamente o aumento das plantações para produção de óleo de palma, concluíram os autores de um estudo publicado na revista científica Frontiers in Veterinary Science.

A destruição de habitats, perda de biodiversidade e interferência nos mecanismos de regulação da natureza também são apontados como a causa para o surgimento de um coronavírus capaz de infetar humanos e para o aumento do risco de novas epidemias deste tipo.

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“A associação significativa observada entre epidemias e desflorestação dizem respeito, principalmente, a países da zona intertropical com alta cobertura florestal, como o Brasil, Peru e Bolívia na América do Sul, República Democrática do Congo e Camarões em África, Indonésia, Myanmar e Malásia no Sudeste Asiático”, enumeram os autores.

Os investigadores das universidades de Montpellier e de Marselha (em França) destacam, a título de exemplo, que a desflorestação na América do Sul proporcionou a epidemia de malária e que a destruição da floresta no Sudeste Asiático levou ao aumento de mosquitos transmissores de doenças do género Anopheles.

“Em conjunto, a desflorestação e a perda de regulação da biodiversidade favorecem o aumento de populações de animais que funcionam como reservatórios [dos patogénios] e/ou dos vetores, afetam a dinâmica de transmissão de doenças e, em última análise, levam ao aumento do contacto dos humanos com os vetores ou os animais reservatório“, destacam os autores.

Os investigadores também verificaram que a reflorestação ou ocupação das terras com árvores, em especial fora das zonas tropicais (como na Europa), também pode ser responsável por surtos de doenças infecciosas. A limitação, dizem, é que a análise não permite distinguir entre a reflorestação de uma área com árvores autóctones ou a ocupação do terreno com monoculturas, como para a produção de óleo de palma ou outras matas de produção.

Estudos anteriores demonstraram que o aumento de mosquitos que funcionam como vetores, como Aedes albopictus e Aedes aegypti, em plantações de produção de óleo de palma e borracha, que favoreceram a disseminação dos vírus dengue, zika, chikungunya e febre amarela, referem os autores. Os investigadores não descartam, no entanto, que o aumento de certos surtos também podem estar relacionados com as alterações climáticas.