O Governo queniano deu esta quarta-feira um ultimato de duas semanas ao Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) para planear o encerramento de dois dos maiores campos de refugiados do mundo naquele país africano.

Numa breve mensagem publicada na sua conta do Twitter, o Ministério do Interior disse que o chefe dessa pasta, Fred Matiang’i, notificou o ACNUR dando “um ultimato de 14 dias para ter um roteiro sobre o encerramento final dos campos de refugiados Dadaab e Kakuma” no leste e norte do Quénia, respetivamente.

Matiang’i disse quarta-feira que “não há lugar para mais negociações”, do lado do Ministério do Interior.

O Governo utilizou como argumento as ameaças à segurança nacional colocadas por alguns refugiados, incluindo ataques terroristas passados, ligados a cúmplices do grupo somali jihadista Al Shabab que residiam nesses campos, que juntos albergam mais de meio milhão de pessoas.

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Temos de encontrar um equilíbrio entre as obrigações internacionais do Quénia e os seus deveres domésticos. Temos uma responsabilidade interna de proteger os quenianos”, disse Matiang’i na reunião, de acordo com o Daily Nation.

O Governo argumenta que já não pode assumir o fardo destes dois campos, operacionais desde o início dos anos 1990, após a guerra civil na vizinha Somália.

Segundo um comunicado enviada à agência de notícias espanhola Efe, o ACNUR respondeu quinta-feira às autoridades quenianas que o encerramento “teria um impacto na proteção dos refugiados no Quénia, incluindo no contexto da pandemia Covid-19 em curso”.

“Vamos continuar o nosso diálogo com as autoridades quenianas sobre esta questão. Instamos o Governo do Quénia a assegurar que qualquer decisão permita encontrar soluções apropriadas e sustentáveis, e que aqueles que continuam a necessitar de proteção possam recebê-la”, acrescentou na nota, apelando ao “respeito pelos direitos dos refugiados”.

O Quénia afirma que três ataques, que mataram mais de 250 pessoas, foram planeados em campos de refugiados: o ataque ao centro comercial Westgate em Nairobi (2013), o ataque à cidade de Mpeketoni (2014) e o ataque à Universidade de Garissa (2015).

Mais de metade dos refugiados em Dadaab e Kakuma são somalis e os restantes vêm de outros países africanos, como a Etiópia, Sudão do Sul, Burundi, Uganda, Ruanda ou Eritreia.

Em junho de 2016, o Presidente queniano, Uhuru Kenyatta, e o seu homólogo somali, na altura, Hassan Mohamud, emitiram uma declaração conjunta na qual garantiam que ambos os países trabalhariam para um repatriamento “ordeiro, humano e digno” dos refugiados que vivem em território queniano há décadas.

Até abril desse ano, apenas 14.000 refugiados somalis tinham sido repatriados, segundo o jornal, e o Governo tem desde então repetido, em várias ocasiões, a sua ameaça de encerrar os campos de refugiados. A Somália vive num estado de guerra e caos desde 1991, quando o ditador Mohamed Siad Barre foi derrubado, deixando o país sem um governo eficaz e nas mãos de milícias e senhores da guerra islâmicos.