A Noruega, cuja economia e o elevado nível de vida dos seus cidadãos dependem fortemente das exportações de petróleo, foi o país europeu que mais cedo aderiu à mobilidade eléctrica nas quatro rodas. Agora que se sabe que o esforço que a indústria automóvel teve e tem de fazer para abdicar dos combustíveis fósseis deverá ser alargado a outros meios de transporte, os noruegueses vão apostar numa fábrica de células de combustível a hidrogénio, com uma tecnologia especificamente desenvolvida para embarcações eléctricas de grandes dimensões.

O anúncio foi feito pela empresa Teco 2030, segundo a qual Narvik, no norte do país, vai converter-se no centro da produção em massa de fuel cells na Noruega, quando colocar em funcionamento uma antiga fábrica de células fotovoltaicas, que vai ser alvo de obras a fim de ser readaptada ao novo negócio.

A companhia promete a criação de até 500 postos de trabalho, quando a fábrica estiver completamente operacional, e uma capacidade de produção de 1,2 GWh de energia em células a combustível de hidrogénio “verde”, com recurso a módulos de 400 kW, que depois serão agrupados em packs de três, fornecendo com isso 1,2 MW (cerca de 1.632 cv), o equivalente a um motor a gasóleo já de dimensões respeitáveis, mas ocupando muito menos espaço e sem poluir. O que ainda é mais relevante por, conforme foi comunicado, essas células de combustível a hidrogénio se destinarem a embarcações de grande porte, inclusivamente cargueiros, podendo associar-se entre si para atingir os 50.000 cv necessários para deslocar um superpetroleiro.

“O transporte marítimo é conhecido por ser uma fonte significativa de gases de efeito estufa e emissões de partículas”, refere a Teco, sublinhando que a indústria marítima “precisa de reduzir drasticamente as emissões”. Recorde-se que a Organização Marítima Internacional fixou como meta reduzir as emissões registadas em 2008 em 40% até 2030 e em 70% até 2050, pelo que a Teco considera que a rota da descarbonização no transporte marítimo terá de passar necessariamente pelo hidrogénio. “A célula a combustível de hidrogénio é hoje a forma mais eficiente de produzir energia eléctrica a bordo”, argumenta a companhia, realçando depois as vantagens do seu sistema modular de fuel cells.

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Ao contrário do que é comum até agora, a solução da Teco não parte da adaptação de fuel cells para a indústria automóvel, adaptando-as depois a uma utilização em barcos. A tecnologia consiste num módulo de célula a combustível PEM (Proton Exchange Membrane) com os tais 400 kW de potência (544 cv) que se pode apresentar com os mais diferentes formatos para uma melhor combinação das várias pilhas. O resultado, assevera a Teco, passa sempre por uma solução mais compacta (menos de 2/3 do volume ocupado por um diesel de potência equivalente), o que simplifica o retrofit e garante deslocações marítimas com zero emissões. A estes benefícios, a empresa junta a garantia de durabilidade das FC, embora não avance dados a esse respeito, e realça a versatilidade da tecnologia, que tanto permite operar com hidrogénio líquido ou comprimido, tendo a capacidade de retirar H2 de moléculas como as que constituem o amónio, o metanol e outros produtos baseados em H2.

O início de produção destas células está previsto para o próximo ano, em colaboração com a empresa de engenharia austríaca AVL, cujo cartão de apresentação conta com mais de 20 anos de investigação e desenvolvimento na área das fuel cells, trabalho esse que resultou no registo de mais de 150 patentes.

A Teco recorre exclusivamente a hidrogénio gerado a partir de fontes renováveis e não combustíveis fósseis, sendo parceira de um projecto que envolve a geração deste elemento químico a partir de energia solar e eólica na Roménia. Esse hidrogénio verde é depois transportado através do Danúbio para abastecer países como a Áustria e a Alemanha. Quando a fábrica norueguesa de fuel cells entrar em funcionamento, o objectivo passa por assegurar que esse transporte é efectuado com o sistema da Teco, para o que a empresa solicitou apoio financeiro, no âmbito do programa europeu do hidrogénio, denominado Important Project of Common European Interest (IPCEI).