A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou esta segunda-feira que as “atrocidades” no Myanmar (antiga Birmânia) devem “parar agora”, após um fim de semana em que as autoridades birmanesas mataram mais de 120 civis.

“Condeno veementemente a violência perpetrada contra o povo do Myanmar. As atrocidades têm de parar agora”, lê-se numa mensagem publicada por Von der Leyen na sua conta oficial da rede social Twitter. A presidente da Comissão Europeia acrescenta também que a União Europeia (UE) está a trabalhar com os seus parceiros para “parar com esta violência contra o próprio povo do Myanmar”, criar um “processo político adequado” e “libertar todos os detidos”.

A mensagem de Ursula von der Leyen surge após, no domingo, o alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, ter também apelado ao fim da “tragédia” e qualificado o dia de sábado – quando foram mortas pelo menos 116 pessoas – como um dia de “horror e vergonha”.

“Estou a seguir os acontecimentos preocupantes no Myanmar. O crescendo de violência, com mais de 100 assassínios de civis perpetrados pelos militares contra o seu próprio povo no Dia das Forças Armadas, é inaceitável”, lê-se na nota publicada pelo chefe da diplomacia europeia durante a noite. Apelando a que os líderes militares do Myanmar abdiquem do que qualifica de “caminho sem sentido”, Josep Borrell reiterou a condenação da UE da “violência insensível perpetrada contra o povo de Myanmar”.

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“Continuaremos a utilizar os mecanismos da UE, incluindo sanções, para visar os perpetradores desta violência e os responsáveis pelo retrocesso no caminho democrático e pacífico do Myanmar”, destaca Borell. O Alto Representante frisa ainda que os responsáveis pelas “violações sérias dos direitos humanos” têm de ser “responsabilizados” pelos seus “atos sem vergonha”. O número total de mortos devido à violência militar e policial contra manifestantes e civis na Birmânia ascende já a 423, de acordo com a Associação para a Assistência a Presos Políticos (AAPP) da Birmânia, adiantou a EFE.

Segundo o portal de notícias local Myanmar Now, o número de mortos no sábado, o dia mais ‘sangrento’ desde o golpe militar em 01 de fevereiro, foi de pelo menos 116, no dia em que os militares matavam pessoas nas ruas ao mesmo tempo que a capital recebia uma parada militar a assinalar o Dia das Forças Armadas. De acordo com a UNICEF, das 423 pessoas mortas, pelo menos 35 são crianças.

Os manifestantes exigem que o exército, que governou o país com mão de ferro entre 1962 e 2011, restaure a democracia e reconheça os resultados das eleições de novembro e pedem a libertação de todos os detidos pelos militares, incluindo a líder de facto Aung San Suu Kyi.

Os militares tomaram o poder alegando fraude eleitoral nas eleições legislativas de novembro, ganhas por larga margem pelo partido da líder deposta e Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi e declaradas legítimas pelos observadores internacionais. Desde o golpe, a Junta Militar já deteve mais de três mil pessoas, incluindo Suu Kyi e grande parte do seu Governo.

Face ao que qualificam de “brutal repressão” na sequência do golpe militar, a UE impôs, na passada segunda-feira, medidas restritivas contra 11 pessoas que considera responsáveis pelo golpe militar entre os quais o chefe da junta militar, o general Min Aung Hlaing.

As sanções decretadas pelos 27 são dirigidas a 10 das mais altas patentes das forças armadas birmanesas e ao presidente da comissão eleitoral, e consistem numa interdição de viajar para ou pela UE e num congelamento dos seus bens e recursos.