O medicamento antiviral molnupiravir pode ser uma solução para o tratamento de doentes infetados com o coronavírus SARS-CoV-2, segundo os dados preliminares do ensaio clínico apresentados na Conferência sobre Retrovírus e Infeções Oportunistas, que decorreu online no início de março de 2021.
Os dados apresentados na conferência referem-se a 78 pessoas que tiveram um teste PCR positivo no dia do recrutamento para o ensaio clínico e que já tinham desenvolvido sintomas durante a semana que antecedeu este teste. Dos 52 doentes que tomaram o medicamento molnupiravir duas vezes por dia durante cinco dias, em 20,4% ainda foi possível detetar o vírus ao fim de três dias, mas nenhum ao fim dos cinco dias, escreveram os autores no resumo da apresentaram na conferência.
Já em relação às 26 pessoas que foram sujeitas a um tratamento placebo (diferente do tratamento real), 28% ainda apresentavam o vírus ao fim do terceiro dia e 24% ao fim de cinco dias.
Os dados, apresentados como promissores — ainda que preliminares — têm de ser interpretados com alguma cautela. Primeiro porque ao fim do terceiro e quinto dias, os autores não usaram um teste PCR, mas outro teste menos sensível (a amostra da zaragatoa é colocada em cultura com células de laboratório para ver se ficam infetadas), logo com menos capacidade para detetar os positivos. Ainda assim, estes resultados podem ser uma boa aproximação à realidade.
Depois, segundo o comunicado da Merck, nenhum dos 47 participantes a tomar o medicamento tinha sinais de infeção ao fim do quinto dia. O problema é que foram incluídos 52 doentes neste braço da experiência e não é feita qualquer referência ao que aconteceu aos outros cinco voluntários. Também falta um dos voluntários que tomou o placebo. O comunicado refere que “dos quatro efeitos adversos graves reportados, nenhum foi considerado como estando relacionado com a droga em estudo”, mas não são fornecidos mais pormenores.
Por fim, os resultados ainda não foram publicados numa revista científica, com revisão independente, e o ensaio só incluiu doentes Covid-19 que não estivessem hospitalizados, logo com as formas mais leves da doença e que têm mais facilidade em recuperar da infeção.
Continuamos a avançar com os ensaios clínicos de fase 2/3 de avaliação de molnupiravir em ambientes ambulatórios e hospitalares e planeamos fornecer atualizações quando for apropriado”, disse Roy Baynes, vice-presidente e chefe de desenvolvimento clínico global da Merck Research Laboratories, em comunicado de imprensa.
Este medicamento têm sido testado em modelos animais e já completou a primeira fase dos ensaios clínicos, mostrando-se seguro e bem tolerado em humanos. Este medicamento pretende impedir a replicação de vírus de ARN, como os coronavírus. Anteriormente, tinha sido testado em doentes infetados com SARS e MERS, da mesma família do SARS-CoV-2.
A investigação e ensaios clínicos do molnupiravir realizados pela biofarmacêutica Ridgeback foram financiados pela farmacêutica Merck (conhecida como MSD fora dos Estados Unidos e Canadá) e pelo casal Wayne e Wendy Holman — que são o último e o primeiro autor do artigo apresentado na conferência, e Wendy é a diretora executiva da Ridgeback.
Correção: a fotografia originalmente publicada não pertencia à Merck (ou MSD, na Europa) — empresa americana —, mas à Merck — empresa alemã.