Um em cada três utentes que viram o seu nível de atividade física avaliado nos centros de saúde cumprem os níveis recomendados de pelo menos 2,5 horas de exercício moderado por semana, segundo dados esta terça-feira divulgados.

Segundo o relatório de 2020 do Programa Nacional de Promoção da Atividade Física (PNPAF), esta terça-feira divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), em média, um em cada cem utentes inscritos nos centros de saúde tiveram os níveis de atividade física avaliados.

Os dados indicam ainda que, ao longo de três anos, foram emitidos 36.134 guias de aconselhamento breve para a atividade física nas consultas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Até fevereiro deste ano, 160 em cada 100.000 habitantes receberam pelo menos um guia, acrescenta o documento, divulgado a propósito do Dia Mundial da Atividade Física, que se assinala esta terça-feira.

As autoridades de saúde recomendam que os adultos acumulem, pelo menos, 150 minutos por semana de atividade física de intensidade moderada, ou 75 minutos de atividades vigorosas (ou uma combinação equivalente). Adicionalmente, devem ainda praticar atividades que contribuam para melhorar ou manter a força e resistência musculares, pelo menos, duas vezes por semana.

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Desde o final de 2017, foram implementados nos sistemas informáticos de apoio às consultas no SNS, com especial foco nos cuidados de saúde primários, várias ferramentas de apoio à avaliação do nível de atividade física e consequente aconselhamento à sua promoção.

Os dados do relatório indicam que, em média, 1 em cada 100 utentes inscritos nos cuidados de saúde primários foi avaliado quanto aos seus níveis de atividade física e comportamento sedentário e 33,1% atingiu a recomendação de prática de, pelo menos, 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada. O documento resume os dados da atividade física em Portugal e faz um ponto de situação sobre as principais estratégias para a promoção da atividade física aplicadas entre setembro de 2019 e dezembro de 2020.

A DGS lembra que a atividade física tem, potencialmente, um papel preventivo na infeção por Covid-19 — por via do reforço do sistema imunitário, entre outros mecanismos —, mas sobretudo é uma atividade essencial ao equilíbrio físico e psicológico, “particularmente fragilizados neste contexto, principalmente nos períodos mais agudos de confinamento social”, refere.

Em 2019, 65% das pessoas reportou nunca praticar qualquer tipo de exercício físico (68%, em 2017) e 63% indicou estar sentado menos de seis horas por dia (62% em 2017), indica o documento, sublinhando que a prevalência da inatividade física “parece aumentar com a idade em ambos os sexos, sendo superior nas mulheres”.

A DGS reconhece que a pandemia de Covid-19 veio colocar “desafios ímpares” a vários níveis, nomeadamente no contexto dos determinantes de saúde, mas lembra que, apesar das limitações de circulação e recolhimento obrigatório adotadas, “Portugal definiu a prática de atividade física como uma das exceções às medidas de confinamento, reconhecendo a sua importância para a saúde física e mental neste contexto”.

Na nota introdutória do relatório, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, reconhece que a pandemia veio, também em relação à atividade física, “exacerbar iniquidades sociais”, sublinhando que o género, estatuto socioeconómico e a idade “parecem diferenciar as pessoas mais e menos ativas”.

Não obstante, refere, verificou-se também a ocorrência de “padrões protetores”, em que níveis mais elevados de atividade física tendem a concorrer com outros elementos como o não aumento do consumo de snacks e o acesso às recomendações de atividade física e alimentação saudável, entre outros. A responsável sublinha ainda que a prática de atividade física “parece ter tido um papel agregador de outros comportamentos protetores da saúde, com efeito positivo em situação de confinamento social”.

Refere ainda que 55,2% da população inquirida disse ter acesso às orientações produzidas pela DGS na área da atividade física em contexto de confinamento, sendo que desses 69,3% consideraram-nas úteis ou muito úteis e sublinha que as atividades e indicadores previstos pelo PNPAF para 2020 foram cumpridos na totalidade, ainda que, nalguns casos, algumas atividades tivessem de ser ajustadas à nova realidade imposta pela pandemia.

Graça Freitas aponta ainda os “resultados promissores” conseguidos pela campanha “Siga o Assobio”, promovida pela DGS e dirigida a pessoas entre os 35 e os 65 anos que consideram que para praticar atividade física precisam de mais tempo, mais dinheiro, equipamento especial ou de estar em forma. “A sua reativação futura, assim que o contexto de pandemia o permitir, possibilitará potenciar ainda mais o investimento feito”, admite.

Reconhece que o prosseguimento da consulta de atividade física piloto e respetiva testagem é uma das principais preocupações da equipa do PNPAF, tendo em conta as alterações ao funcionamento do SNS ditadas pela pandemia.

De acordo com dados publicados no ano passado, a atividade física insuficiente é o 16.º fator de risco de nível 2 ao qual são atribuídas mais mortes (11,1 mortes por 100.000, ajustadas para a idade, a nível mundial) e o 18.º ao qual são atribuídos mais anos de saúde prematuramente perdidos. Em Portugal, as mortes motivadas por doenças representaram 95,4% do total de óbitos na população residente em 2018 (2), sendo que cerca de um terço de todas as mortes em Portugal se devem a fatores de risco comportamentais, nomeadamente riscos alimentares, hábitos tabágicos, consumo de álcool e atividade física insuficiente. A este nível, sabe-se que níveis adequados de atividade física na população evitariam 4,5% da prevalência de doença cerebrovascular e 4,0% dos casos de doença coronária na população mundial, estimando-se que estes valores possam ser superiores na Europa, devido à maior prevalência de inatividade física.