O partido de esquerda ecologista Inuit Ataqatigiit venceu as eleições legislativas na Gronelândia, conseguindo 37% dos votos, de acordo com a Reuters. Apesar de não ter conseguido maioria absoluta, o partido deve conseguir arrecadar apoio de outras formações políticas para formar governo e, dessa forma, pode acabar com um polémico projeto de mineração que dividiu a sociedade daquela ilha e chamou a atenção de todo o mundo.

Desde que a Gronelândia se tornou numa região semi-autónoma da Dinamarca em 1979, a ilha de apenas 56 mil habitantes tem sido governada pelo Siumut, um partido social-democrata, que nestas eleições não foi além dos 29% dos votos.

Uma das principais diferenças entre o Inuit Ataqatigiit e Siumut prende-se com a posição dos partidos em relação aos projetos de mineração. Enquanto os sociais-democratas são muito favoráveis a estes projetos, que consideram essenciais para a autonomia financeira da ilha que depende muito da ajuda vinda da Dinamarca, a esquerda ecologista, apesar de não ser contra a mineração por si só, opõe-se à minereação em Kvanefjeld, no sul da ilha, alertando para o impacto ambiental do polémico projeto.

China estuda limitar exportação de terras raras para EUA

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Nesse complexo, existe um projeto para explorar urânio e as chamadas terras raras, compostas por 17 tipos de metais de difícil extração, entre eles o neodímio, e que nos últimos anos têm vindo a ganhar uma importância cada vez maior na economia mundial, sendo utilizados, por exemplo, para fabricar turbinas eólicas, veículos elétricos ou no fabrico de armas.

Acresce que, até ao momento, a China controla quase a totalidade da exportação destes materiais, e as reservas de terras raras da Gronelândia, segundo o El Confidencial, são das maiores do mundo, com um tamanho semelhante às que existem nos Estados Unidos.

Nesse sentido, a exploração deste projeto de mineração chamou a atenção do mundo, e em particular da União Europeia, que exporta cerca de 90% destes minerais da China e quer diminuir a sua dependência em relação a Pequim. Além disso, também os Estados Unidos acompanharam o caso com especial atenção, uma vez que a China já equacionou limitar exportação de terras raras.

O projeto de Kvanefjeld é propriedade da empresa australiana Greeland Minerals que investiu mais de 100 milhões de dólares (cerca de 84 milhões de euros), contando ainda com uma participação de 10% da empresa chinesa Shenghe Resources, no que é visto como uma tentativa da China marcar posição também na Gronelândia.

Depois de uma campanha muito centrado no projeto de Kvanefjeld e no seu impacto ambiental, ao que tudo indica, o líder do partido ecologista, Mute Egede, de apenas 34 anos, deve conseguir apoio suficiente no parlamento gronelandês para ser investido primeiro-ministro e, caso a promessa seja cumprida, o polémico projeto de mineração no sul da Gronelândia vai ser cancelado.