Os alertas de desflorestação na Amazónia brasileira em março, equivalentes a 367,6 quilómetros quadrados, foram os maiores já registados para o mês desde o início da monitorização, em 2015, segundo dados oficiais.

Os dados foram recolhidos pela nova versão do Sistema de Deteção de Desflorestação em Tempo Real (Deter), que entrou em funcionamento em 2015, e que integra o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) do Brasil, um órgão governamental. O recorde anterior havia sido registado em 2018, quando foram desflorestados 356,6 quilómetros quadrados em março, seguido por 2020, com 326,49 quilómetros quadrados de floresta derrubados.

Além disso, a desflorestação tende a aumentar nos próximos meses, tendo em conta os registos de anos anteriores, devido à aproximação da temporada seca na floresta, o que faz também crescer o número de queimadas na Amazónia.

O aumento da desflorestação naquela que é a maior floresta tropical do planeta foi duramente criticado pela organização não-governamental (ONG) Greenpeace, que alertou que foi registado um crescimento de 12,5% nas medições face a 2020 mesmo com uma cobertura das nuvens superior, fator que pode ter dificultado a leitura por satélite do Deter.

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A poucas semanas da cimeira virtual sobre o aquecimento global, agendada para os próximos dias 22 e 23 de abril pelo Presidente norte-americano, Joe Biden, cresce a pressão contra o chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro.

Várias ONG têm apelado para que Biden inclua a sociedade civil nas negociações do seu Governo com Brasil sobre a Amazónia e instam a que “nenhum acordo seja considerado” até que a desflorestação da Amazónia, que atingiu máximos históricos durante o Governo de Bolsonaro, seja reduzida até aos índices que determina a Política Nacional de Mudanças Climáticas.

A meio de medidas que promovem a desflorestação na Amazónia e premiam os criminosos, o Deter de março é mais um motivo para que o Governo Biden não assine um cheque em branco com o Governo de Bolsonaro”, escreveu a Greenpeace na rede social Twitter.

“A portas fechadas, Brasil e Estados Unidos negociam o anúncio da transferência de recursos bilionários para conter a desflorestação no Brasil. Porém, não há qualquer garantia de que o dinheiro será, de facto, destinado à proteção das florestas. Pelo contrário, o acordo pode tornar o Governo Biden cúmplice da destruição ambiental promovida pelo Governo de Bolsonaro”, argumentou ainda a ONG em comunicado.

Durante os primeiros dois anos do mandato de Bolsonaro, que tomou posse em janeiro de 2019, a área florestal arrasada do mapa atingiu 10.700 quilómetros quadrados em 2019, e 9.800 quilómetros quadrados em 2020, os piores números desde 2008.

O chefe de Estado brasileiro já se mostrou favorável à exploração agrícola e mineira da Amazónia, qualificou de “cancro” as ONG ecológicas e acusou ainda as potências estrangeiras de criticarem a sua política ambiental de forma a apoderarem-se dos recursos naturais do Brasil.

Joe Biden convidou 40 líderes mundiais, incluindo Jair Bolsonaro e os chefes de Estado chinês e russo, Xi Jinping e Vladimir Putin, respetivamente, para uma cimeira virtual sobre o aquecimento global a ocorrer dentro de duas semanas.