O Chega manifesta-se este domingo contra a ilegalização do partido e espera a presença de “milhares de pessoas em Lisboa”, vindas de todo o país. André Ventura assegurou que não se trata de “ameaçar ou condicionar” a justiça, mas admitiu que tem um “receio muito significativo da ilegalização”, por considerar que pode haver um “condicionamento da justiça”, e do “dia seguinte” a essa decisão.
A manifestação tem início no Príncipe Real, passa pelo Tribunal Constitucional e segue até ao Rossio, mas o presidente do partido está preocupado com uma “contra-manifestação marcada para o Martim Moniz” e esperava que esta “não fosse permitida, porque há possibilidade de um cenário muito grande de violência”. Apesar disso, assegurou que haverá pessoas atentas aos infiltrados que “causem problemas de segurança”, bem como às questões de saúde pública para que as regras sejam cumpridas.
Chega manifesta-se em abril em Lisboa contra a ilegalização do partido
Ao Observador, o líder do Chega afirmou que a “ameaça de ilegalização é vil” e que, por isso, é preciso agir antes de haver uma decisão. “Depois da ilegalização, o que podíamos fazer? É uma decisão sem recurso, de um tribunal que é nomeado politicamente”, apontou o presidente do Chega, que ressalvou que o Tribunal Constitucional tem “juízes de excelente qualidade”, mas teme por “toda a narrativa motivada politicamente a juntar ao condicionamento da justiça em Portugal”. “Leva-nos a ter um receio muito significativo da ilegalização, senão não organizávamos esta manifestação”, assumiu.
Mais do que políticos, Ventura mostra-se “preocupado” com a existência de anónimos — que também apresentaram propostas de ilegalização na Procuradoria da Justiça — e por “poder haver uma movimentação condicionada, preparada, construída, com o objetivo de condicionar o tribunal ou o Ministério Público de que a única hipótese para salvar a democracia é extinguir o Chega”.
“Esta narrativa é perigosa e pode levar a que os juízes se sintam na única posição de defensores do regime e não sabemos que decisão pode acontecer ou que tipo de movimento o MP pode fazer. Tudo isso pode ser muito dramático para o Chega”, acrescentou Ventura.
O líder do Chega acredita que será a questão do racismo que está em cima da mesa, mais especificamente uma das bandeiras do partido sobre a comunidade cigana. “Se a nossa democracia não tem capacidade de absorver, lutar ou debater com um partido que defende que o Estado não deve promover exceções para a economia cigana e que não deve continuar a contribuir para a sua guetização ou para ter qualquer exceção face ao regime do estado de direito… Se a nossa democracia não consegue lidar com isso, então sinceramente é das piores democracias europeias”, conclui, lembrando que uma decisão de ilegalização por parte do TC seria “um ataque muito dramático” para o Chega, nomeadamente devido às reformas que o partido defende para o setor da Justiça.
Chega diz que vai reagir “muito veementemente” na rua à tentativa de ilegalização do partido
A preocupação é também com o dia depois de uma possível ilegalização. “O que é que acontece no dia seguinte aos nossos mandatos, às centenas de autarcas que vamos eleger em setembro? É um cenário tão trágico para a democracia e tão dramático para nós enquanto partido, o que acontece às instituições do partido, às instalações, aos órgãos…”, questionou o líder do partido.