Uma jornalista de Hong Kong foi considerada culpada e obrigada a pagar uma multa por prestar falsas declarações para obter informação para um documentário sobre um ataque a manifestantes pró-democracia numa estação de metro. A decisão do tribunal causou indignação e veio aumentar as preocupações com a liberdade de imprensa na região administrativa chinesa.

De acordo com o The Guardian, Bao Choy, uma jornalista freelancer de 37 anos que colabora com a emissora RTHK, foi detida em novembro do passado, acusada de prestar falsas declarações para aceder a uma base de dados de matrículas de automóveis.

O objetivo da jornalista, que viria a ser premiada pelo documentário que realizou, era investigar a forma como a polícia de Hong Kong respondeu a um ataque perpetrado por um grupo de mais de 100 pessoas a ativistas pró-democracia, em julho de 2019, na estação de metro de Yuen Long.

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Durante o ataque em causa, um grupo de mais de 100 pessoas com máscaras de t-shirts brancas usou paus e bastões para agredir, indiscriminadamente, os passageiros que estavam na estação de metro, sendo que a grande maioria regressava de manifestações pró-democracia e contra a China. Pelo menos 45 pessoas tiveram de receber tratamento hospitalar, num ataque que foi atribuído às tríades, nome pelo qual são conhecidos alguns grupos com ligações à máfia chinesa.

A polícia de Hong Kong demorou bastante tempo até chegar ao local, e por isso foi acusada de ser conivente com o ataque, tendo, na altura, surgido imagens nas redes sociais de atacantes a tirarem fotos ao lado de polícias.

Para o seu documentário, Bao Choy procurou em bases de dados as matrículas de alguns dos carros que foram vistos durante a noite do ataque, de forma a identificar os proprietários dos mesmos e obter mais informação sobre o que aconteceu, nomeadamente qual o envolvimento da polícia. O documentário realizado por Bao Choy recebeu na quarta-feira o Prémio Kam Yiu-yu para a Liberdade de Imprensa.

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A jornalista, que se declarou inocente das acusações de que foi alvo, não foi condenada a pena de prisão, mas teve de pagar uma multa de 641 euros, de acordo com a Reuters. À saída do tribunal, onde se reuniu um grupo de manifestantes em defesa da liberdade de imprensa, criticou a decisão judicial.

“O tribunal pode achar que sou culpada, mas não acho que seja”, afirmou Choy, em lágrimas, segundo a Reuters. “Não creio que fazer investigação seja crime. Não vou desistir do jornalismo por causa deste caso”, garantiu.

A condenação de Bao Choy veio aumentar as preocupações com a liberdade de imprensa em Hong Kong, numa altura em que as leis autoritárias e repressivas têm aumentado na região administrativa chinesa.

Os Repórteres Sem Fronteiras (RSF), citados pelo Guardian, consideram que a emissora RTHK está sob uma “campanha de intimidação por parte do governo” de Hong Kong e afirmam que a perseguição a jornalistas tem aumentado desde a imposição da lei de segurança nacional em junho do ano passado.

De acordo com o relatório anual dos RSF, Hong Kong ocupa o 80.º lugar no índice de liberdade de imprensa. Em 2002, a região administrativa chinesa estava na 18.ª posição.