O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, negou esta segunda-feira ter dito aos colegas de Governo que preferia ver “corpos empilharem-se aos milhares” do que decretar um novo confinamento para travar a pandemia covid-19

“Não. Mas, mais uma vez, penso que o é importante e as pessoas querem que façamos como governo é garantir que os confinamentos funcionem, e eles têm [funcionado]”, afirmou aos jornalistas, em resposta à pergunta se tinha feito aquela afirmação.

O comentário, noticiado por uma fonte anónima ao Daily Mail e confirmado por outros meios de comunicação, como a BBC e a ITV, terá sido proferido em outubro, após ceder, contrariado, à pressão para anunciar um segundo confinamento nacional, mas com a promessa de que não iria autorizar um terceiro confinamento.

“Chega de bloqueios de m**** – deixem os corpos empilharem-se aos milhares!”, segundo o jornal.

O líder do principal partido da oposição, o trabalhista Keir Starmer disse que ficou “estupefacto” ao ler a notícia e urgiu o primeiro-ministro a dar explicações.

O ministro de Estado, Michael Gove, vai ser chamado ao Parlamento para prestar esclarecimentos.

Em novembro do ano passado, Johnson ordenou um novo confinamento em Inglaterra, recomendado pelo grupo de assessores científicos pela primeira vez em 21 de setembro, mas ao qual resistiu durante semanas apesar dos apelos da oposição para agir.

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O Reino Unido é o país europeu com o maior número de mortes, mais de 127 mil confirmadas, e o quinto a nível mundial.

Este caso junta-se a uma série de outras polémicas, nomeadamente sobre o financiamento de obras na residência em Downing Street e também sobre os contactos particulares sobre contratos públicos.

Na semana passada, o ex-“braço direito” de Boris Johnson, Dominic Cummings, lançou um violento ataque ao chefe do governo britânico, acusando-o de incompetência e questionando a sua integridade.

Num texto publicado na sua página na Internet, considerou “triste ver o primeiro-ministro e o seu Governo tão longe do nível de competência e integridade que o país merece”.

Cummings negou ter sido o autor da divulgação de uma mensagem curta de texto (SMS) que revelou um acesso privilegiado do industrial James Dyson, ao primeiro-ministro.

Acusou também Johnson de ter bloqueado um inquérito interno a uma fuga de informação porque os indícios apontavam para um assessor amigo da sua companheira Carrie Symonds.

Dominic Cummings mencionou também a intenção de Boris Johnson de financiar as obras do seu apartamento oficial por financiadores privados, plano que recusou ajudar a avançar e que lhe terá dito na altura que esta ideia era “contrária à ética, estúpida, talvez ilegal”.