As ilhas dos Açores passarão a estar em alto risco quando metade dos seus concelhos estiverem neste patamar e desde que esses municípios tenham 10 ou mais casos ativos de Covid-19, adiantou esta quarta-feira o Governo Regional. O anúncio foi feito pelo secretário regional da Saúde dos Açores, Clélio Meneses, numa conferência de imprensa, que decorreu em Ponta Delgada, na qual fez saber que vão ser alterados os critérios para avaliação do nível de risco de ilha.

Como já acontecia até agora, “quando 50% dos concelhos de São Miguel estão em alto risco, toda a ilha fica em alto risco, porque se entende que, considerando o elevado grau de perigosidade e contágio, é essencial que se proteja a população”, começou por explicar o governante. Contudo, Clélio Meneses recordou que “a situação demográfica” é diferente nos vários concelhos açorianos, o que pode criar situações menos justas.

“Com cinco, seis, sete casos, Povoação e Nordeste ficam em alto risco e percebemos que isso pode causar alguma dúvida nas pessoas e que pode ter, em termos de peso relativo do impacto das medidas, algum constrangimento”, exemplificou.

Por isso, o Governo Regional decidiu “introduzir um outro critério para calibrar esta medida: sempre que 50% dos concelhos de São Miguel fiquem em alto risco, a ilha fica em alto risco, desde que nenhum deles tenha menos de 10 casos ativos nos últimos sete dias”.

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“É a introdução deste número absoluto na percentagem que faz calibrar a medida, para que ela tenha mais justeza e seja melhor entendível”, defendeu Clélio Meneses.

O secretário regional explicou à Lusa que esta é uma medida abstrata, que abrange todas as ilhas, mas que, na prática, só se aplica a São Miguel, porque é a única com características que correspondem a este critério.

A alteração dos critérios de risco era uma das reivindicações do “Manifesto Açoriano pelos Direitos Fundamentais”, um documento com 50 signatários que conta já com o apoio de mais de 400 pessoas na plataforma Petição Pública.

Os porta-vozes deste movimento deixaram claro que não foram os responsáveis por um protesto que aconteceu hoje em Ponta Delgada, já que a manifestação de hoje é um “protesto espontâneo, que reúne representantes de vários setores”, mas associaram-se à iniciativa. Enquanto decorria a conferência de imprensa, no Palácio da Conceição, sede do Governo Regional em Ponta Delgada, um grupo de empresários protestava e, entre batuques em panelas, pediam que os deixassem trabalhar.

Enquanto se ouviam os protestos do lado de fora da janela, Clélio Meneses defendeu que a estratégia do executivo regional foi implementada “para que não haja imprevisibilidade e as decisões sejam tomadas ao sabor das ondas, das pressões, dos humores ou das vontades”.

O governante afirmou ainda que o Governo Regional tem tido, “genericamente, sucesso no controlo sanitário da pandemia e na manutenção das atividades ao nível da educação, da economia e da sociedade em geral”. Os manifestantes discordam e pedem mais apoios para a economia da ilha.

A partir das 00h00 de sexta-feira, a ilha de São Miguel deixa de estar em alto de risco, já que apenas o concelho de Vila Franca do Campo se encontra nesse nível.

De acordo com a avaliação semanal de risco, os concelhos da Lagoa e Ribeira Grande passam a estar no nível de médio alto risco, Povoação em médio risco, Ponta Delgada está agora no nível de baixo risco e o Nordeste em muito baixo risco. A escala de risco utilizada pela Região Autónoma dos Açores tem cinco níveis: muito baixo, baixo, médio, médio alto e alto. O resto do arquipélago mantém-se em muito baixo risco.

Esta quinta-feira, os Açores contam com 174 casos positivos ativos, sendo 165 em São Miguel, seis nas Flores, dois em Santa Maria e um na Terceira. Desde o início da pandemia foram diagnosticados 4.981 casos positivos de Covid-19 nos Açores, tendo recuperado da doença 4.654 pessoas. Morreram 31 pessoas, saíram do arquipélago 79 e 43 apresentaram prova de cura anterior.

Açores vão ter testes gratuitos em farmácias e rastreios laborais aleatórios

Na mesma conferência de imprensa, Clélio Meneses anunciou que os Açores vão passar a disponibilizar testes rápidos gratuitos para o despiste da Covid-19 nas farmácias, testes de saliva para a testagem massiva aos alunos e rastreios laborais aleatórios.

O governante deu nota de um “protocolo, que já está acordado, com a Associação Nacional de Farmácias, para que os açorianos que o queiram, possam, num período de 15 dias, ser testados voluntariamente e de forma gratuita”. Os custos são suportados pela região, “quer nos testes, quer no pagamento do respetivo serviço”, esclareceu.

Foi ainda anunciado que o executivo está em “processo de aquisição de testes de saliva para testar de forma massiva os alunos das escolas” dos Açores. É também intenção do Governo iniciar um “processo de testagem em meio laboral de forma aleatória”.

Com esta iniciativa, pretende-se testar “cerca de 30% do meio laboral, para que, através deste rastreio, nas empresas, nas escolas e voluntariamente, se consiga garantir o controlo da pandemia”.

Clélio Meneses deixou ainda um “apelo às forças de segurança para fiscalizarem o cumprimento destas normas” e estendeu o pedido de colaboração a toda a população.

“Mais do que sentirmos que estamos uns a pagar pelos outros, temos de sentir que estamos uns a proteger os outros”, afirmou o secretário regional.