O balanço do número de mortos numa operação policial que decorreu na manhã desta quinta-feira no Rio de Janeiro subiu para 25, segundo a Defensoria Pública estadual, que adiantou estar no local a acompanhar a situação. Com os números atuais, esta é já a ação policial mais letal da história daquele estado brasileiro. Da operação, na favela do Jacarezinho, participaram 250 agentes.

Segundo escreve a Folha de São Paulo, nunca houve uma ação única com tantos mortes, segundo a base de dados do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense, iniciada em 1989. Até à data, o maior total de mortes tinha acontecido no Complexo do Alemão em 2007, com 19 vítimas.

“A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informa que está acompanhando com muita atenção os desdobramentos da operação policial que deixou 25 mortos na manhã desta quinta-feira, no Jacarezinho, Zona Norte do Rio”, indicou o órgão na rede social Twitter.

Neste momento, a instituição está no local, por meio da sua Ouvidoria e do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, ouvindo os moradores e apurando as circunstâncias da operação, a fim de avaliar as medidas individuais e coletivas a serem adotadas. Desde já, manifestamos nosso pesar e solidariedade aos familiares de todas as vítimas de mais essa tragédia a acometer nosso estado”, acrescentou.

Entre as vítimas mortais está o inspetor de polícia André Leonardo de Mello Frias, informou a Polícia Civil do Rio de Janeiro. Dos 21 mandados de prisão que motivaram a operação, três foram cumpridos e outros três alvos foram mortos. Houve ainda três suspeitos detidos em flagrante.

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Duas das mortes ocorreram enquanto duas peritas analisavam o local de morte de suspeitos e parte dos mortos terão sido baleados dentro de uma residência. À tarde, vários moradores fecharam uma das ruas da favela gritando por justiça, já que há várias acusações de tortura e de invasão de casas por agentes.

Vídeos divulgados por moradores da favela do Jacarezinho registaram o som de rajadas e explosões em diferentes pontos da comunidade, alvo de uma ação policial chamada operação Exceptis.

Numa nota, a Polícia Civil do Rio de Janeiro anunciou que a operação realizada contra traficantes do CV, a maior organização criminosa do Rio de Janeiro, que atuam na comunidade do Jacarezinho, foi uma ação em conjunto com a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).

“A investigação teve início a partir de notícias recebidas pela DPCA de que traficantes vêm aliciando crianças e adolescentes para integrar a fação que domina o território. Esses criminosos exploram práticas como o tráfico de drogas, roubo de cargas, assaltos a pedestres, homicídios e sequestros de comboios da SuperVia, entre outros crimes praticados na região”, refere a nota da polícia “carioca”.

Os investigadores acrescentam que com base em informações preliminares realizaram um trabalho de investigação que identificou 21 membros do alegado grupo criminoso, todos responsáveis por garantir o domínio territorial da região com utilização de armas de fogo.

Foi possível caracterizar a associação dessas pessoas com a organização criminosa que domina a região, onde foi montada uma estrutura típica de guerra com centenas de soldados munidos com fuzis, pistolas, granadas, coletes balísticos, roupas camufladas e todo o tipo de acessórios militares”, explicou a Polícia Civil do Rio de Janeiro.

A região do Jacarezinho é considerada um dos quartéis-generais da fação Comando Vermelho na zona norte do Rio de Janeiro.

Segundo a Polícia Civil “carioca”, devido à dificuldade de se operar no terreno, devido às barricadas e das táticas de guerrilha realizadas pelos grupos criminosos, o local abriga uma quantidade relevante de armamentos, que seriam utilizados na retomada de controlo de territórios perdidos para fações rivais ou para se reforçar de possíveis investidas das polícias.

Foram apreendidas 16 pistolas, seis fuzis, uma submetralhadora, uma escopeta e 12 granadas. Também foi encontrada munição de canhão.