O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, avisou nesta quarta-feira que Israel vai continuar a intensificar a força dos ataques retaliatórios contra as milícias palestinianas em Gaza e que vai visar vários comandantes da liderança militar do movimento islâmico Hamas.
“Eliminámos comandantes do Hamas e isto é apenas o início”, advertiu o chefe de governo interino israelita, horas depois de um ataque seletivo do Exército e dos serviços de inteligência para abater altos comandos militares das Brigadas Ezzedine al-Qassam, o braço armado do movimento islâmico.
“Israel responderá, e está a responder, com uma força crescente para atingir” milícias “com as quais eles nem poderiam sonhar”, disse Netanyahu no Wolfson Medical Center de Holon, onde visitou israelitas feridos por “rockets” disparados a partir de Gaza.
Desde que começou a onda de violência entre Israel e Gaza, na segunda-feira, pelo menos 48 palestinianos, incluindo 14 crianças, morreram no enclave, e seis civis israelitas, entre os quais um adolescente e um trabalhador indiano.
No entanto, pouco depois do último balanço de vítimas da confrontação, o Exército israelita confirmou a morte de um militar, o primeiro em três dias de conflito com o Hamas, na sequência de um ataque com o míssil disparado a partir da Faixa de Gaza. “O sargento-chefe Omer Tabib foi morto hoje de manhã por um míssil antitanque durante uma operação para proteger localidades [israelitas] perto da Faixa de Gaza”, disse o Exército de Israel num comunicado.
O al-Qassam indicou de manhã ter disparado um míssil contra um jipe do exército israelita.
Milícias palestinas lançaram mais de 1.000 “rockets” contra Israel, que também atingiram Jerusalém e Telavive, enquanto Israel realizou mais de 500 bombardeamentos retaliatórios contra alvos no enclave.
As sirenes antiaéreas não param de soar nas comunidades israelitas próximas de Gaza.
Entre os comandantes do Hamas mortos nesta quarta-feira, o Exército confirmou um próximo a Mohamed Deif, comandante das Brigadas al-Qassam, que nesta quarta-feira ameaçou atacar “novos alvos” em Israel a partir das 18h00 locais (16h00 em Lisboa).
As Brigadas al-Qassam confirmaram nesta quarta-feira a morte de um de seus líderes, Bassem Issa, comandante na Cidade de Gaza, vítima de um bombardeamento israelita. O Shin Beth, os serviços de inteligência internos israelitas, já tinha anunciado a morte de Bassem Issa, mas também de três outros líderes da organização em ataques contra o enclave palestiniano de dois milhões de habitantes.
No total, os serviços secretos israelitas reivindicaram terem abatido “uma dúzia” de outras altas autoridades do Hamas, mas também executivos da Jihad Islâmica, o segundo grupo islâmico armado na Faixa de Gaza, numa série de ataques realizados desde segunda-feira à noite.
Os ataques, que continuaram nesta quarta-feira, são, segundo o exército israelita, uma retaliação à barragem de “rockets” disparados pelo Hamas e pela Jihad Islâmica desde a noite de segunda-feira.
Hamas anuncia novos ataques a Israel após destruição de edifício
O movimento islamita Hamas, no poder em Gaza, anunciou nesta quarta-feira ter disparado 130 rockets em direção a território israelita em resposta aos ataques aéreos do Estado judaico que mataram um dos comandantes do grupo armado e destruíram outro edifício.
As Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço armado do Hamas, disparou mísseis em direção a três cidades de Israel (Ashkelon, Netivot, Sderot) “em resposta ao raide sobre a torre Al-Shorouk e à morte de num grupo de dirigentes”, indicou a organização em comunicado.
As sirenes de alarme foram acionadas na zona metropolitana de Telavive, indicou a agência noticiosa AFP.
Os serviços israelitas indicaram ter matado uma “dezena” de responsáveis do Hamas, mas também quadros da Jihad islâmica, o segundo grupo armado Faixa de Gaza, em “raides” efetuados desde a noite de segunda-feira. Para o exército israelita, os ataques a Gaza constituem uma resposta aos “mais de 1.000 ‘rockets’ lançados por diversos grupos armados em direção ao Estado judaico desde segunda-feira.
O Hamas lançou uma primeira salva de rockets em direção a Israel em sinal de “solidariedade” com os mais de 900 palestinianos feridos em confrontos com a polícia israelita em Jerusalém Leste, anexado e ocupado por Israel. O exército informou que um soldado israelita foi morto por disparos antitanque do movimento Hamas.
Pouco antes desta segunda vaga de rockets, um edifício de 10 andares — 14 segundo o exército judaico — situado na cidade de Gaza foi pulverizado por ataques israelitas, indicou a AFP. A torre Al-Shorouk, onde estavam instalados os gabinetes da cadeia televisiva palestiniana Al-Aqsa, é o terceiro edifício em altura da cidade de Gaza destruído desde o início, na noite de segunda-feira, da mortífera escalada militar entre Israel e o movimento islamita Hamas.
Na terça-feira, o Hamas disparou a primeira barragem de rockets em direção a Telavive, após a completa destruição de um edifício de 12 andares no centro da cidade de Gaza, e onde se encontravam os escritórios de diversos dirigentes do movimento. Na noite de terça-feira, e após anunciar a destruição de um segundo imóvel de nove andares partilhado por apartamentos, uma televisão local e lojas comerciais, o Hamas lançou novos ataques.
O exército israelita confirmou ter atingido edifícios no centro de Gaza, indicando que eram utilizados pelo Hamas para as suas ações.
Esta nova vaga de violências, as mais intensas desde há sete anos, provocaram pelo menos 62 mortos dos dois lados — 56 em Gaza, incluindo 14 crianças, e seis em Israel.
A violência surgiu, em parte, devido à ameaça de expulsões de civis palestinianos de Jerusalém Oriental em benefício dos colonos israelitas, para além de uma violenta repressão das forças de segurança do Estado judaico no perímetro e no interior da Esplanada das Mesquitas em Jerusalém onde se situa a mesquita de Al-Aqsa, considerado o terceiro local mais sagrado do islão.
Aos confrontos iniciais entre manifestantes palestinianos e polícia israelita, particularmente em redor da mesquita de Al-Aqsa, seguiram-se os ataques com rockets do Hamas contra Israel e a resposta das forças de defesa israelitas contra a Faixa de Gaza.
Em finais de abril, a organização Human Rights Watch (HRW), sediada em Nova Iorque, acusou as autoridades israelitas de cometerem “os crimes contra a humanidade de apartheid e de perseguição”, num relatório em que analisa o modo como Israel trata os palestinianos. No relatório “A Threshold Crossed: Israeli Authorities and the Crimes of Apartheid and Persecution” (Um limiar atravessado: autoridades israelitas e os crimes do apartheid e da perseguição), a HRW justifica a acusação, considerando que existe uma “política abrangente do Governo israelita para manter o domínio dos judeus israelitas sobre os palestinianos e graves abusos cometidos contra os palestinianos que vivem em território ocupado, incluindo Jerusalém Oriental”.