Portugal passou do bom aluno da Europa, ao dos piores casos no mundo — sempre em termos relativos, claro. Agora, volta a estar entre os exemplos a seguir, mas sem se livrar das cicatrizes do passado. Em quatro meses, desde 20 de outubro, Portugal aumentou o número de infeções quase oito vezes (de 103 mil para 796 mil) e, em dois meses, desde o início de janeiro, o número de mortes aumentou duas vezes e meia.
Agora, e desde o início de março, Portugal aplanou a curva dos casos de infeção com SARS-CoV-2 e das mortes por Covid-19, ainda que isso não elimine o facto de estarmos entre os 20 países com maior número de mortes por milhão de habitantes.
Em relação às vacinas, Portugal está longe dos números do Reino Unido, que começou a vacinação mais cedo, mas está a par da União Europeia, Espanha e Itália, nas primeiras doses e melhor do que a Alemanha em relação às segundas doses.
Portugal com 0,15 novas mortes por milhão de habitantes
Os Estados Unidos têm, de longe, o maior número de mortes registadas por Covid-19 (585 mil), seguido do Brasil (430 mil) e Índia (262 mil), países onde se suspeita que muitas mortes com Covid-19 fiquem por registar (sobretudo no segundo caso).
No entanto, quando se compara o número de mortes por milhão de habitantes, estes países densamente povoados caem na tabela e são os países da Europa a ocupar o topo, encabeçados pela Hungria, com quase 3.000 mortes por milhão de habitantes, num país que tem 9,6 milhões de habitantes, quase tantos como Portugal (10,2 milhões). Em comum com a Hungria, Portugal tem o número de casos de infeção por milhão de habitantes, um total de cerca de 82 mil desde o início da pandemia.
Portugal, em 20.º lugar desta tabela, com menos de 1.700 mortes por milhão de habitantes, está atrás de países como Itália, Brasil, Reino Unido, Estado Unidos ou Espanha, mas à frente da média da União Europeia ou França, ambos com cerca de 1.600 por milhão de habitantes.
A grande diferença nestes 20 países é que Portugal, Espanha, Reino Unido ou os Estados Unidos não têm tido um aumento significativo do número total de mortos nos últimos dois meses, mas os países dos Balcãs e Europa Central incluídos nesta lista não param de subir deste o final do ano passado.
Pegando na mesma lista de 20 países (mais a União Europeia): a Hungria, Croácia e Brasil têm mais de nove novas mortes por milhão de habitantes; a média da União Europeia e a Itália estão acima três novas mortes por milhão; e, Portugal (e o Reino Unido) com 0,15 mortes novas mortes por milhão de habitantes, estão entre os países do mundo com menos novas mortes em relação à população.
Quando se comparam os países europeus que têm entre nove e 11 milhões de habitantes, grupo no qual se inclui Portugal, o país fica em terceiro da lista com mais mortes por milhão de habitantes, à frente da Suécia, Áustria e Grécia. Mas, como já se viu, estabilizado tanto no número de mortes como no número de casos, por milhão de habitantes, desde o início de março.
Portugal está alinhado com a média da Europa — o que não é necessariamente bom
Comparado com os países mais próximos em termos geográficos e culturais, Portugal é, a seguir a França, o que tem o maior número de casos de infeção em relação à população, mas dos poucos que aplanou a curva, juntamente com o Reino Unido, já em março. Estes dois países tinham medidas restritivas em vigor antes disso, mas o Reino Unido tem muitas mais doses de vacinas administradas (o que pode, espera-se, reduzir o número de casos).
Portugal e o Reino Unido são também os únicos que aplanaram a curva das mortes por milhão de habitantes, mas com muito mais mortes entre os britânicos em relação à população. Itália, França e Europa, por exemplo, continuam a crescer em casos e mortes.
Como se sabe, nenhum destes países tem tantas vacinas administradas por cada 100 pessoas como o Reino Unido — 53% das pessoas receberam pelo menos uma dose. Portugal está a par da União Europeia, Espanha e Itália, com cerca de 30% de primeiras doses dadas. A Alemanha tem um pouco mais (35%) e a Grécia um pouco menos (25%), como a média do continente europeu.
No caso das pessoas totalmente vacinadas, os países trocam posições, apesar de o Reino Unido continuar à frente com quase 30% da população com as duas doses da vacina tomadas — mas também foi o primeiro país europeu a iniciar a vacinação. Portugal está quase em último neste ranking, em linha com a média da Europa, ligeiramente abaixo da União Europeia e a ligeiramente acima da Alemanha (que dominava o ranking da primeira dose). Com maior percentagem de pessoas totalmente vacinadas estão a Espanha, Itália e Grécia, quase com 15%.
A maior parte das doses das vacinas foram administradas na Ásia
A China é o país que mais vacinas administrou, cerca de 370 milhões de doses, mas também é o mais com mais população de todo o mundo (1,44 mil milhões de pessoas). A Índia, pelo contrário, apesar de ser o segundo país mais populoso do mundo (1,38 mil milhões de pessoas), com quase tantos habitantes como a China, administrou 180 milhões de doses (menos de metade da China), o que corresponde a 10% das pessoas com, pelo menos, a primeira dose e menos de 3% totalmente vacinados.
Quando comparamos os continentes e o número de doses totais administradas é fácil perceber que África, com menos de 25 milhões de doses dadas, está muito aquém da América do Sul (90 milhões de doses) e muito mais longe da Ásia (690 milhões), que usou metade das doses administradas em todo o mundo.
Comparando a Europa com a América do Norte, a diferença é pequena em número de doses — cerca de 280 milhões de doses para quase 270 milhões, respetivamente —, mas maior em termos do que isso representa de pessoas vacinadas — 37,22 por 100 habitantes (na União Europeia, 42,4) contra 52,9 por 100 habitantes (nos Estados Unidos, 79,71). O Reino Unido, por exemplo, tem quase tantas doses administradas como o Brasil — 55 e 50 milhões, respetivamente —, mas o Reino Unido tem 68 milhões de habitantes e o Brasil tem 212,5 milhões.
Portugal entre os países com maior percentagem de população acima dos 65 anos
O Japão é o país com mais população acima dos 65 anos — 27,05% dos seus cerca de 126 milhões de habitantes — seguido de Itália (23,02%), Portugal (21,5%), Alemanha (21,45%) e Finlândia (21,23%). A generalidade dos países cuja população tem mais de 65 anos encontra-se na Europa. Tirando a Finlândia, estes também são os países onde a média de idades é mais alta, com a Espanha e Grécia a juntarem-se aos países com uma média de idades superior aos 45 anos. Vale a pena lembrar que a idade é o principal fator de risco para a morte com Covid-19.
Apesar da população envelhecida identificada nestes países, só o Japão se mantém no topo da lista em relação ao número de camas de hospital por cada mil habitantes (13,05), superado apenas pelo Mónaco (13,8). É, dos cinco países, o que tem menos casos e menos mortes por milhão de habitantes, mas também aparece em último em relação à vacinação: apenas 3% da população com, pelo menos, uma dose da vacina.
Voltando às camas de hospital, a Alemanha, com oito camas por mil habitantes, é ultrapassada por outros países europeus como a Bielorrússia, Ucrânia e Rússia. Já Portugal, a par da Itália, mas também da Finlândia, tem pouco mais de três camas de hospital por cada mil habitantes. Neste momento, Portugal tem menos de 300 pessoas internadas com Covid-19 e é dos países com menos internamentos na Europa.