A polícia marroquina fechou esta quarta-feira o troço que permitia a entrada em Espanha através de Ceuta, na zona de Tarajal interrompendo assim o fluxo de entradas de imigrantes ilegais que atingiu desde segunda-feira um número recorde — terão entrado já mais de oito mil, parte dos quais já foi reenviada pelas autoridades espanholas ou decidiu voltar a Marrocos pelo próprio pé.

Segundo os relatos da imprensa espanhola, a situação estará a ficar mais controlada em relação aos últimos dias, durante os quais as entradas ilegais em território espanhol provocaram um problema diplomático com Marrocos. Ao El Mundo, fonte do Executivo espanhol confirma que no Governo prevalece a sensação de que a posição de Marrocos estará, com o passar do tempo, a “suavizar-se”, com a convicção de que a decisão de fechar a tal passagem em Ceuta será um sinal disso mesmo.

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Fontes do Ministério do Interior espanhol adiantaram, entretanto, que 5.600 pessoas já regressaram para Marrocos — uma conta que soma os que foram ‘devolvidos’ pelas autoridades espanholas e os que decidiram voltar. Ou seja, mais de metade dos oito a nove mil imigrantes ilegais que entraram já não estão em território espanhol. Durante a tarde, só 10 pessoas tentaram atravessar a fronteira para Espanha.

Os jornais espanhóis, presentes na fronteira, falam de um movimento que começou esta manhã de “centenas de jovens marroquinos” que começaram a abandonar a cidade “pelos seus meios, caminhando até à fronteira”, a maioria dos quais terá dormido na rua durante estes dias e ficado sem dinheiro. Outros, no entanto, continuam a tentar chegar a Espanha, nadando para mais longe na esperança de escapar à Guardia Civil.

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Se o El Mundo fala de algumas “tentativas isoladas de chegar a nado”, que são controladas por lanchas da Guardia Civil espanhola, bem longe das entradas descontroladas dos dias anteriores, o El País cita declarações da responsável da Cruz Vermelha em Ceuta, Isabel Brasero, que confirma as melhorias verificadas esta manhã: “Está a haver muito menos pressão”, embora continue a ser preciso assistir pessoas que chegam de Marrocos porque “algumas chegam com hipotermia”. Isto depois de, na noite de segunda para terça-feira, se terem chegado a verificar agressões às autoridades, com arremesso de pedras, por exemplo.

Há também várias crianças a ser resgatadas e assistidas pelas autoridades espanholas, como já foi noticiado. Parte deles terá chegado sem o acompanhamento de nenhum adulto, garantia há pouco a ministra dos Direitos Sociais, Ione Belarra, na TVE, sinalizando a “questão das crianças que chegaram sozinhas”, muitos de “sete e oito anos”, como “a mais urgente” para resolver.

Já ao longo da tarde, o Governo espanhol anunciou uma proposta para que outras comunidades recebam 200 crianças resgatadas do mar, abrindo assim espaço para que Ceuta possa receber mais migrantes. As Canárias, Astúrias e Valência já acederam ao pedido do Executivo, enquanto Andaluzia, Múrcia e Madrid estão mais céticos em aceitá-lo e pediram mais informações sobre quantas crianças seriam transferidas para lá. Têm 24 horas para anunciar a sua posição final.

Imagens mostram autoridades espanholas a salvar bebé e crianças em Ceuta

Se o Governo espanhol classifica assim a situação como uma crise “humanitária”, também se refere a uma crise “diplomática”, que ficou mais exposta esta quarta-feira, quando Marrocos veio apontar o facto de Espanha ter recebido num hospital um líder dos separatistas do Sahara, sem consultar ou informar Marrocos, como a suposta razão para esta retaliação.

O Governo espanhol foi rápido a rejeitar a acusação e a dizer que não viu essa decisão como uma “agressão”, mas a Comissão Europeia foi mais longe, recusando ser “chantageada ou intimidada” por Marrocos.