A eurodeputada bloquista segue a narrativa utilizada nos últimos dias pelos dirigentes do partido, que reclamam avanços no dossier Novo Banco para responder ao afastamento das negociações e chumbo do Orçamento de Estado para 2020. Enquanto o PCP cobra ao Governo aquilo que falta executar, o Bloco sem poder para esses reparos vai apontando para o que conseguiu à margem da cabimentação orçamental. Em entrevista à Rádio Observador Observador, Marisa Matias nota que o Bloco “conseguiu mais estando fora do que conseguiria se estivesse dentro”.
Já sobre o interesse do Bloco em continuar a negociar com o Governo e conseguir colocar na agenda determinadas políticas, Marisa Matias garante que o Bloco “está sempre disponível para negociar” e que o discurso de Catarina Martins “não abre uma porta”, porque “as portas estão abertas e têm que estar”.
Ainda assim, Marisa Matias não esquece a falta de execução das verbas previstas no Orçamento do Estado para os cuidadores informais — um dos temas a que dedica atenção — e que não foram executadas. Frisa a eurodeputada que a pressão sobre o Governo “não se esgota na negociação do Orçamento do Estado” e crítica ainda o governo socialista, acusando-o de “fazer escolhas se quer ser de esquerda ou não”.
A candidata que começou o ano na corrida à Presidência da República desvalorizou ainda que o voto contra no Orçamento tenha a prejudicado na ida às urnas. “Se assim fosse o resultado do PCP, por exemplo, teria que ser muito mais reforçado. Os candidatos da esquerda não saíram particularmente bem nestas eleições”, notou.
Marisa é hipótese para suceder a Catarina Martins no futuro?
Já sobre uma eventual candidatura à liderança do Bloco de Esquerda, Marisa Matias afasta que a hipótese se coloque num futuro próximo. “Essa questão eu nunca a coloquei. Sei que é falada várias vezes, e peço desculpa de não participar nessas conversas”, começa por dizer.
Marisa Matias admite que “nenhuma direção é para sempre”, mas que a “direção e esta liderança da Catarina Martins ainda tem ainda um longo trabalho a fazer”. No entanto, a eurodeputada diz que não sabe responder se a derrota nas presidenciais “reduziu ou não” o seu capital interno, mas acaba por sugerir que não foi uma derrota que lhe possa ser atribuída pessoalmente. “Obviamente o resultado não foi bom, mas não foi bom sobretudo para o partido, para o projeto político que temos, não foi tanto a questão da derrota pessoal. Eu não fiz esta campanha por razões pessoais”.
A eurodeputada nega, no entanto, que o mau resultado nas presidenciais a possa afetar caso esse cenário se torne real. “Há muitos quadros para suceder, sou incapaz de discutir os nomes porque não é o momento em que se faz a discussão. Se isso reduziu ou não o meu capital interno não lhe sei responder, não foi bom para o partido, para o projeto político que temos”, disse.