Já esteve sentado no Parlamento e volta a aparecer na Convenção do Bloco de Esquerda como um crítico à direção, assumindo-o como uma “crítica positiva” que permitiu inclusivamente ter algum peso nos delegados presentes nesta Convenção. Sobre a participação do Bloco na geringonça — que continua a ser um tema inevitável em reuniões magnas —, Pedro Soares, diz que “faltou espírito crítico” e que “a meio era necessário ter sido colocado um novo desafio ao Partido Socialista”, algo que considera não ter acontecido.
Ainda longe da hora das votações, Pedro Soares já reclama alguns lucros para a moção que subscreve enquanto assiste às críticas que vão sendo ditas ao microfone do púlpito desta Convenção por, por exemplo, Catarina Martins. “Este discurso mais crítico do Partido Socialista é a vitória da moção E, que teve um papel fundamental”, afirma em entrevista ao Observador.
Em relação às aspirações do BE, que na última Convenção gritava aspirações de governação, Pedro Soares não descarta que se deve “aspirar a ser Governo”, mas diz que “não é a qualquer custo, colocando o programa político na gaveta” como considera que aconteceu durante a campanha das legislativas de 2019. “Na campanha eleitoral das legislativas, o Bloco de Esquerda praticamente colocou o programa eleitoral dentro da gaveta, chegou a haver um discurso vago sobre a social-democracia que é contrário à ideia do Bloco de Esquerda. Ser governo nunca pode ser o determinante da nossa linha política“, apontou.
Já sobre as negociações do próximo Orçamento do Estado, a que Catarina Martins já abriu totalmente as portas no discurso de abertura desta Convenção, Pedro Soares diz que é preciso perceber “com que objetivo é que se vai negociar” e que é preciso ir à procura de “novos avanços, novas respostas”.
Depois de ouvir a líder do Bloco dizer que não estava zangada com o PS, Pedro Soares volta a contrariar Catarina Martins: “Eu estou muito zangado com a situação em que o país está. Se vamos partir para uma negociação do OE, dizendo que estamos todos bem e que não há problema nenhum, isso é o princípio do desastre”.
“Temos que traçar linhas vermelhas, se o PS aceitar é muito bom, se vamos para uma negociação partindo da ideia de que se não aceitarmos o A aceitamos o B, isso não é o BE”, diz Pedro Soares que quer a legislação laboral como uma dessas linhas vermelhas.
Considera Pedro Soares que “é fundamental reequilibrar o trabalho e capital” e que só será possível chegar a acordo no próximo Orçamento do Estado “se o Partido Socialista retirar essas normas”.
Rejeitando críticas diretas à liderança de Catarina Martins, há sete anos a dar a cara pelo BE, Pedro Soares pede um “Bloco de Esquerda plural”, sem a atual “centralização da decisão” que, considera, se tem vivido com a atual liderança do partido que “afasta as bases do partido da decisão”.