Elena Duran é espanhola e chegou a Portugal há 12 anos para estudar comunicação, gestão e marketing. Apaixonou-se por Lisboa, ainda passou por Inglaterra e por Madrid, mas acabou por se enraizar na capital, onde trabalhou na multinacional Univeler até 2017. Por lá desempenhou várias funções ligadas ao marketing, às vendas e à comunicação de marcas, era uma profissional reconhecida e encontrava-se numa posição confortável, mas em 2018 decidiu despedir-se para se dedicar a uma coisa diferente.

“O meu pai era diretor numa escola pública e sempre foi uma pessoa ativa e muito dinâmica, mas com 60 anos reformou-se. Esse momento de paragem radical para ele deixou-me preocupada, acho que foi aí que despertei para uma sensibilidade e uma consciência maior sobre o envelhecimento da população. Muitos dizem que é o problema do século, mas vejo como um privilégio o facto de podermos viver mais anos e com melhor qualidade de vida”, explica Elena Duran em entrevista ao Observador.

A fundadora da 55+ apaixonou-se por Portugal em 2009 e despediu-se para criar a plataforma

Depois de ler e investigar sobre o assunto, a espanhola decidiu que queria fazer algo que tivesse impacto na vida nos que estão reformados ou desempregados, mas com saúde, interesses e “tanto para dar aos outros”. “Existem vários problemas sociais paralelos ao envelhecimento, é o caso da solidão, do isolamento e da inatividade, muito motivados pelo facto de as famílias estarem vezes longe. Estas pessoas têm uma contribuição a dar, sentem que ainda podem ser úteis e produtivas.”

Foi com base nesta premissa que Elena Duran arregaçou as mangas e entrou num “ecossistema social que desconhecia”, falou com associações e instituições que trabalham no terreno e lidam diariamente com este tipo de público e criou uma plataforma onde é possível requisitar serviços remunerados realizados por pessoas com mais de 55 anos. “Não existia nada do género no mercado”, sublinha, acrescentando que as atividades foram delineadas com base na experiência dos mais velhos. Jardinagem, reparações, refeições, acompanhamento de animais, crianças e pessoas idosas, aulas de música ou línguas são apenas alguns exemplos do que pode encontrar na 55+.

Depois de Lisboa, o projeto chega à zona norte e quer crescer

O projeto piloto arrancou no final de 2018 em bairros sociais lisboetas, com um investimento de 50 mil euros, mas depressa ganhou adeptos e parceiros, como autarquias, universidades e a Fundação Aga Khan, que ajuda a identificar possíveis “especialistas”, nome que é dado aos veteranos que integram a base de dados da 55 +. “Conseguimos uma parceria através de um programa que gere fundos europeus para inovação social. Os nossos parceiros públicos e privados representam 30% dos custos e os restantes 70% chegam-nos de fundos europeus”, adianta Elena Duran.

No site, o cliente escolhe o serviço pretendido, conhece o valor cobrado por hora, preenche um formulário e rapidamente recebe feedback com os dados da pessoa mais próxima geograficamente que o pode ajudar. O pagamento é feito através da plataforma, sendo que 20% do valor vai diretamente para a plataforma e caso seja necessária uma deslocação maior, essa quantia será cobrada à parte. “Começámos com sete serviços, hoje temos 13 e este número pode sempre aumentar”, esclarece Elena Duran, revelando que os especialistas também se podem inscrever no próprio site.

Reparações em canalizações e eletricidade foram um dos serviços mais requisitados durante a pandemia

Durante a pandemia, a responsável contabilizou mais pedidos de reparações domésticas e mais solicitações para babysitting ou para acompanhar pessoas idosas. “As pessoas sentem-se desafiadas, reconhecidas, integradas e com melhor autoestima, a taxa de fidelização é grande e a nossa intenção passa por criar uma comunidade que tenha um verdadeiro impacto na vida de cada um. Gostávamos de estar onde formos precisos.”

Atualmente, a 55+ realiza uma média de 130 serviços por mês, tem inscritas mais de 1.600 pessoas com mais de 55 anos e garantiu um total de 60 mil euros de remuneração. Depois de Lisboa, o projeto acaba de chegar ao norte, tendo especialistas disponíveis no Porto, Matosinhos, Maia, Aveiro, Valongo ou Paredes.