É oficial: a governação de Benjamin Netanyahu está a chegar ao fim, já que Yair Lapid e Naftali Bennett confirmam estar a trabalhar juntos numa solução multipartidária para governar Israel, depois de o atual primeiro-ministro não ter sido capaz de formar Governo. Bennett, de direita, fez o anúncio na televisão israelita e será o primeiro a assumir o cargo de chefe do Executivo, muito embora, entre os dois, tenha sido o partido do centrista Lapid a alcançar mais votos nas legislativas, de onde nenhum partido saiu capaz de formar um governo maioritário.

Netanyahu já reagiu, acusando Bennett de operar “o golpe do século” e de só se preocupar em ser primeiro-ministro. A opção de criar um Governo de direita ainda é real, garante.

O líder da Yamina não concorda. “Esta é a decisão mais difícil que já tomei, mas estou confortável com ela.” Segundo Bennett, um futuro governo de coligação não será de esquerda, e dizer isso é dizer uma mentira, garantiu o líder do partido nacionalista. “A esquerda está a fazer concessões que não são insignificantes”, explicou, já que lhe ofereceu a ele, “um homem da Terra de Israel”, o cargo de primeiro-ministro. E “ao meu amigo Gideon Sa’ar, um firme homem de direita, o cargo de ministro da Justiça”, sublinhou.

“Não mudámos os nossos valores. Este não será um governo que cede território ou hesita em tomar ações militares quando necessário”, acrescentou Bennett. Israel tem estado “em rotação vertiginosa há dois anos e meio”, eleição após eleição, sem produzir resultados. “Há quatro eleições que assistimos o nosso amado país a ser dilacerado, a ficar enfraquecido e a perder a sua capacidade de funcionar”. Apontando o dedo a Netanyahu, acusou a atual governação de promover “ódio e divisão”, lembrando que há 2.000 anos o estado judeu foi perdido “por causa de ódios internos”.

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“Não vai acontecer de novo, não durante a minha vigia”, afirmou Bennett, considerando que a crise política de Israel “não tem precedentes” — é hora de “parar a loucura e assumir a responsabilidade”.

Detalhes da coligação ultimados ao longo de domingo

Os detalhes para o executivo de coligação, segundo a imprensa israelita, têm estado a ser ultimados ao longo das últimas horas deste domingo, e, se houver entendimento, Benjamin Netanyahu terá de dizer adeus à liderança do Executivo israelita ao fim de 12 anos. O partido Yesh Atid, de Lapid, avançou que, durante a noite de domingo, os partidos irão reunir-se para negociar a formação de um governo.

O ainda primeiro-ministro também fez uma intervenção televisiva, agendada para meia hora depois do discurso de Bennett. Netanyahu voltou a insistir na sua proposta — já rejeitada — de formar um governo no qual o chefe da Nova Esperança, Gideon Sa’ar, ocupará o cargo de primeiro-ministro inicialmente, seguindo-se ele próprio e depois Bennett.

Sa’ar rejeitou essa ideia no domingo e Naftali Bennett é, para já, muito claro. Uma coligação das direitas está fora de questão e o seu partido não se vai juntar ao Likud de Netanyahu. “É uma mentira completa” dizer que existe a possibilidade de Netanyahu formar um governo de direita, garantiu Bennett. Só há duas opções: novas eleições legislativas, as quintas desde abril de 2019, ou um governo de coligação, um “bloco de mudança”, de partidos anti-Netanyahu, à esquerda e à direita.

No início de maio, depois de quatro eleições legislativas, e perante o falhanço de Netanyahu em formar governo, o presidente de Israel encarregou o centrista Yair Lapid de arranjar uma solução governativa. “Tornou-se claro que Yair Lapid tem a possibilidade de formar um Governo que consiga aprovação parlamentar, embora haja muitas dificuldades”, disse, na altura, o chefe de Estado, Reuven Rivlin.

As dificuldades de que Rivlin falava eram as de juntar num mesmo Executivo partidos que vão desde os pacifistas de esquerda aos nacionalistas de direita. O prazo dado a Lapid  — cujo partido Yesh Atid foi o segundo mais votado nas legislativas — foi de 28 dias e que terminavam no início da próxima semana. Benjamin Netanyahu teve exatamente o mesmo número de dias para encontrar uma solução, sem sucesso.

Embora Lapid tivesse como quase certo o apoio de alguns partidos estava, ainda assim, longe de ter a maioria de deputados. Incluir Naftali Bennett, antigo aliado de Netanyahu e que há muito tenta posicionar-se como líder da direita, era fundamental. Desde logo, Lapid foi rápido a oferecer publicamente a Bennett a possibilidade de ser primeiro-ministro num governo cuja chefia seria rotativa.

Segundo a imprensa israelita, caso avance essa solução, os primeiros dois anos serão de Bennett, apesar de o seu partido ter eleito 7 deputados e o de Lapid 17.