At Night All Blood is Black, de David Diop, traduzido por Anna Mocschovakis, é a obra vencedora do International Booker Prize de 2021. O vencedor foi revelado esta quarta-feira ao final da tarde, durante uma cerimónia conduzida pela jornalista da BBC Colleen Harris e transmitida em direto a partir da Catedral de Coventry, uma iniciativa que se inseriu no programa da Coventry 2021 — Capital Europeia da Cultura.
Para trás ficaram as obras de Mariana Enríquez, Benjamín Labatut, Olga Ravn, Maria Stepanova e Éric Vuillard, que integravam também a shortlist. “Seis livros maravilhosos, muito bem escritos, cheios de pensamentos originais e histórias convincentes”, mas que não conseguiram superar a impressão que At Night All Blood is Black, romance centrado na história de dois soldados senegaleses que lutam por França na Primeira Guerra Mundial, deixou nos jurados.
We're delighted to announce that the winner of the #2021InternationalBooker is 'At Night All Blood is Black' by @DDiop_ecrivain, translated from French by Anna Moschovakis and published by @PushkinPress: https://t.co/UUKOh3RdWO#TranslatedFiction #FinestFiction pic.twitter.com/9hxo2p2O8a
— The Booker Prizes (@TheBookerPrizes) June 2, 2021
“O protagonista deste romance é acusado de bruxaria. Concordamos que a sua prosa encantatória e visão negra brilhante fizeram sacudir as nossas emoções e explodir as nossas mentes, que nos enfeitiçaram”, disse a presidente do júri de 2021, a historiadora cultural Lucy Hughes-Hallett, a quem coube anunciar o vencedor. Hughes-Hallett defendeu ainda a importância da ficção traduzida e do papel dos tradutores, salientando que os melhores profissionais conseguem tornar-se invisíveis, “mas são essenciais”.
“Precisamos de ficção traduzida para nos relacionarmos totalmente com pessoas de culturas que não falam inglês. Temos de ser capazes de entrar nas suas mentes”, começou por dizer. “Só podemos aprender certas coisas através da observação, do estudo das economias de outros países, das fontes mineiras ou da sua história política. A música, o cinema e as artes visuais levam-nos um pouco mais longe, mas é a ficção que acima de tudo nos permite conhecer o interior das mentes de outras pessoas. Conhecer e desfrutar delas.”
David Diop: “Sinto-me honrado e como se tivesse a viver um sonho — um sonho acordado”
Reagindo ao prémio, David Diop, que nasceu e vive atualmente em França mas que cresceu no Senegal, disse estar “extremamente contente” por ganhar o galardão, que premeia a tradução de ficção estrangeira para inglês. “Os meus primeiros pensamentos vão para Anna Mocschovakis, sem a qual os dois não teríamos ganho este prémio, porque ela é uma grande escritora e uma grande artista”, afirmou. Diop agradeceu também à sua editora no Reino Unido, a Pushkin Press, e ao júri do International Booker, que o escolheu de entre “tantos grandes escritores”. “Sinto-me honrado e como se tivesse a viver um sonho — um sonho acordado.”
Anna Mocschovakis, que traduziu a obra a partir do francês original e que partilha o prémio com o autor, desdobrou-se também em agradecimentos, deixando uma mensagem especial para a família, que lhe ensinou que “a língua e a cultura acontecem no plural”, e aos seus colegas tradutores.
Esta foi a segunda vez que o vencedor do International Booker foi anunciado durante uma cerimónia virtual, uma mudança provocada pela pandemia do novo coronavírus.
O vencedor de 2021 foi escolhido a partir de uma seleção de 125 livros de ficção publicados no Reino Unido ou Irlanda no último ano. Fiammetta Rocco, administradora do International Booker Prize, lembrou que o prémio, com espírito internacional, é “incomum”, porque “todos os jurados leem todos os livros. Todos os livros recebem a mesma atenção”. As reuniões aconteceram por videoconferência. Lucy Hughes-Hallett admitiu que, “nestes últimos meses estranhos”, ela e os restantes jurados mal saíram das suas casas. “No entanto, viajámos pelo mundo.”
A shortlist da edição de 2021 do prémio de ficção foi revelada a 22 de abril, cerca de um mês após ter sido conhecida a primeira lista de finalistas.
Além da historiadora cultural e escritora Lucy Hughes-Hallett (presidente), o júri deste ano foi composto pela jornalista e autora Aida Edemariam; o escritor Neel Mukherjee, nomeado para o Booker Prize em 2014, com The Lives of Others; a professora de História da Escravatura Olivette Otele; e pelo poeta, tradutor e biógrafo George Szirtes.
O International Booker Prize é atribuído todos os anos a um obra de ficção traduzida para a língua inglesa e publicada no Reino Unido ou Irlanda. Foi criado em 2005 para incentivar a publicação e leitura no Reino Unido de ficção internacional de qualidade e promover o trabalho de tradução. Tem um valor pecuniário de 50 mil libras (perto de 56 mil euros), que é dividido em partes iguais pelo autor e tradutor. Os autores e tradutores nomeados para a shortlist recebem mil libras (1.113 euros).
No ano passado, o prémio foi para Marieke Lucas Rijneveld, dos Países Baixos, por The Discomfort of Evening (com tradução de Michele Hutchison). O romance foi publicado este mês de maio em Portugal, com o título O Desassossego da Noite.