Um tribunal russo qualificou esta quarta-feira a Fundação AntiCorrupção de Alexei Navalny como uma organização extremista, o que na prática significa que a organização fica proibida e que os seus membros podem ser presos caso continuem as suas atividades. A medida, que constitui um rude golpe para a oposição a Vladmir Putin, foi tomada uma semana antes da cimeira entre o Presidente russo e o seu homólogo norte-americano, Joe Biden.
A decisão desta quarta-feira, divulgada por volta das 23h00 em Moscovo (menos duas em Portugal continental), segundo o The Guardian, já era esperada e vem no seguimento de vários meses de repressão contra a oposição na Rússia, não só contra manifestantes, como também contra jornalistas.
Alexei Navalny dissolve o seu movimento político antes que seja tornado ilegal pela justiça russa
Ao ser classificada como organização extremista (um rótulo utilizado na Rússia para organizações terroristas, como a Al-Qaeda, por exemplo), a Fundação AntiCorrupção, que tem exposto vários casos de corrupção nas mais altas esferas do poder do Kremlin, fica proibida, uma vez que os seus membros ficam impedidos de concorrer a cargos políticos e a simples pertença à organização pode levar à prisão.
A medida decretada pela justiça russa abre a porta a que financiadores da Fundação AntiCorrupção ou jornalistas que escrevam sobre a organização possam ser alvo das autoridades.
A sessão judicial, escreve o The Moscow Times, decorreu à porta fechada e durou mais de 12 horas. O Kremlin tem rejeitado que o caso contra a Fundação AntiCorrupção seja politicamente motivado, e nega qualquer envolvimento no desfecho do caso, mas o Ocidente acusa Putin de estar por trás da decisão, tendo como principal objetivo eliminar as vozes dissidentes, num ano particularmente importante, uma vez que há eleições legislativas em setembro.
Joe Biden e Vladimir Putin vão reunir-se em Genebra a 16 de junho
A decisão do tribunal russo surge precisamente uma semana antes da cimeira, em Genebra, entre Vladimir Putin e Joe Biden, e certamente será um dos temas em cima da mesa e uma questão que divide profundamente os líderes da Rússia e dos Estados Unidos.
Dias antes da cimeira, os dois Chefes de Estado já começaram a dar indicações sobre o tom que pretendem para o encontro. Vladimir Putin tem deixado claro que não aceita interferência do Ocidente naquilo que considera serem assuntos internos da Rússia. Biden, por seu turno, garantiu que vai dizer a Putin que não permite violações de direitos humanos, particularmente no caso de Alexei Navalny.
O opositor russo, recorde-se, está detido desde janeiro, quando aterrou na Rússia depois de vários meses a recuperar num hospital alemão após um envenenamento com novichok, uma arma química altamente tóxica, num ataque que o Ocidente tem atribuído ao Kremlin, mas que as autoridades russas rejeitam. Navalny foi condenado a dois anos e meio de prisão por violar a pena suspensa de uma pena anterior, e, em protesto, esteve 24 dias em greve de fome, terminando-a no final de abril.