De fora para dentro de campo. É assim a primeira grande disputa do Euro 2020 (jogado em 2021), neste caso entre as pouco amigas Rússia e Ucrânia. E se a base das discórdias entre estes dois países está muito, muito para lá do futebol, a verdade é que foi na competição que começa hoje que a situação desaguou desta vez. E tudo por causa de uma camisola.

Esta nova crise, uma espécie de “camisolagate”, obrigou desde já a UEFA a tomar uma decisão forte: a de obrigar os ucranianos a mudarem o seu equipamento após queixa russa.

Originalmente, a camisola da Ucrânia tinha na parte interior do colarinho a frase “Glória aos Nossos Heróis”, enquanto do lado de fora se lê “Glória à Ucrânia”. O organismo que tutela o futebol europeu decidiu agora que a primeira frase tem de desaparecer.

Acontece que a Rússia não gostou da homenagem aos “heróis” da Ucrânia com uma frase que, além de representar, durante a I Guerra Mundial, luta contra a norma soviética, foi também um grito de revolta que acabou por destituir o Presidente Viktor Yanukovych (pro-Kremlin) em 2014.

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A “história militar” e a “ilusão do impossível”

Perante o argumento de que o equipamento ia contra “princípios básicos” (Federação Russa de Futebol) e era “totalmente inapropriado” (deputado russo segundo a BBC), entre outros ataques, a UEFA começou por aprovar o equipamento, voltando depois atrás.

Segundo a Euronews, a UEFA considerou agora que “a combinação dos dois slogans é tida como claramente política na sua natureza, tendo significado histórico e militar”.

O lado ucraniano não se deixou ficar e Andriy Pavelko, presidente da Federação Ucraniana de Futebol (UAF), já está em Roma para falar com os representantes máximos do futebol europeu.

“O slogan é há muito tempo um cumprimento tradicional dos nossos adeptos em todos os estádios e todos os jogos da seleção nacional. A UAF sempre respeitou os princípios internacionais do desporto e segue as regras das mais altas entidades do futebol”, disse Pavelko.

Mas não só de slogans e frases se faz esta última “guerra” entre Kiev e Moscovo. Também o mapa da Ucrânia que está bem na frente das camisolas ucranianas foi tido como dispensável, no mínimo, na Rússia.

O desenho do mapa inclui a Crimeia, zona que os russos afirmam ter anexado em 2014, numa ação não reconhecida pela comunidade internacional. Assim, a UEFA ignorou a questão.

Relativamente ao mapa, a porta-voz dos Negócios Estrangeiros russos, Maria Zakharova, falou em “propaganda de estado” e slogans “nacionalistas”, acrescentando ainda que o desenho criava a “ilusão do impossível”.

Quem não faltou à “festa” foram os norte-americanos, cuja embaixada na capital tweetou, juntamente com uma imagem do equipamento, “Adoramos o novo visual. Glória à Ucrânia”.

Por agora, os ucranianos vão ter de alterar os equipamentos, mas com responsáveis de Kiev a tomarem agora a batuta, não serão de surpreender mais desenvolvimentos.