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Terminou uma era política em Israel: Benjamin Netanyahu, que foi primeiro-ministro do país durante 12 anos, será substituído como chefe de executivo. Uma votação no Parlamento israelita aprovou este domingo um novo Governo, o que marca uma “mudança histórica” como descreve o Financial Times (FT).
Benjamin Netanyahu será substituído, numa primeira fase, por Naftali Bennett. O próximo primeiro-ministro israelita é descrito como um “ultranacionalista” e liderará uma coligação de oito partidos, da esquerda à extrema-direita. As ruas de Jerusalém e Tel Aviv encheram-se já de manifestantes que celebram a saída de cena do histórico líder israelita de extrema-direita.
As previsões dos analistas quanto à durabilidade do próximo Governo são pessimistas, escreve o FT. O partido do novo PM, o Yamina, detém apenas sete dos 120 lugares do parlamento do país, o que o coloca numa posição especialmente frágil na correlação de forças com as restantes forças partidárias que suportam o Governo.
A coligação anti-Netanyahu, formada para promover “mudança” no país, inclui além do Yamina dois partidos de esquerda (Meretz e o Partido Trabalhista), dois partidos centristas (o Azul e Branco e o Yesh Atid), dois de direita nacionalista/extrema-direita (o Nova Esperança e o Israel Beitenu) e um partido árabe (o Raam, de Mansour Abbas), que não integra o governo mas compremete-se em dar apoio parlamentar.
Para esta coligação formada para retirar Netanyahu do poder, muito contribuiu o acordo entre Naftali Bennett, o próximo primeiro-ministro, e Yair Lapid, líder do partido Yesh Atid — o segundo mais votado nas eleições de março, logo a seguir ao Likud de Netanyahu.
Bennett e Lapid assinaram um acordo peculiar: o primeiro liderará numa primeira fase a coligação do Governo, enquanto Yair Lapid (que começará por ser ministro dos Negócios Estrangeiros) assumirá a liderança do executivo e o cargo de primeiro-ministro dentro de dois anos.
O novo primeiro-ministro de Israel: “Continuar neste caminho não era opção”
No seu primeiro discurso como chefe de Governo, Naftali Bennett apelou à capacidade dos partidos políticos superarem as suas diferenças e trabalharem conjuntamente em prol do país: “Estou orgulhoso da capacidade de sentar-me com pessoas que têm visões muito diferentes das minhas. Continuar neste caminho — de mais eleições, mais ódio, mais acinte no Facebook — simplesmente não era uma opção”, apontou.
A referência a “mais eleições” deve-se à quantidade de sufrágios eleitorais em Israel nos últimos dois anos, quatro, em virtude de resultados inconclusivos e de incapacidade de formação de alianças maioritárias entre partidos.
Benjamin Netanyahu e os seus apoiantes, por sua vez, criticaram veementemente a coligação entre oito partidos que permitiu uma maioria de Governo. Os militantes do partido do antigo primeiro-ministro israelita e os seus apoiantes terão gritado palavras como “mentiroso” e “criminoso” durante a sessão parlamentar de este domingo e, citado pelo FT, Benjamin Netanyahu foi contundente: “As pessoas não vão esquecer esta tremenda fraude“.
O partido do histórico líder israelita, o Likud, foi o mais votado nas últimas eleições de março, mas voltou a não obter maioria e a não conseguir chegar a acordo com outros partidos para formar Governo.
A relação entre Benjamin Netanyahu e o seu sucessor, Naftali Bennett, é antiga: o novo primeiro-ministro israelita foi ministro da Educação e da Defesa de Netanyahu, tendo entrado em rutura com o antigo aliado e encetado contactos com outros partidos para poder formar um Governo alternativo.
O analista israelita Mairav Zonszein, do think thank International Crisis Group, fazia recentemente um retrato da situação em declarações ao Observador: “Ao mesmo tempo que a situação é muito tensa e frágil, com Israel extremamente polarizado e com muito incitamento [à violência], há também otimismo, com muitos israelitas felizes por verem Netanyahu a ser afastado. Há uma combinação de alívio e de ansiedade quanto ao que vai acontecer a seguir”.
Israel cada vez mais polarizado naqueles que podem ser os últimos dias do reinado de Netanyahu