Na véspera da estreia de Portugal no Euro 2020, existia uma certeza: Fernando Santos iria estar presente na conferência de imprensa virtual para fazer a antevisão da partida contra a Hungria. Quanto ao jogador que o acompanharia, só era possível fazer especulações. Só que à medida que a hora se aproximava, e já depois de a comitiva portuguesa ter chegado ao Puskás Arena, as evidências apontavam na direção de um só homem — Cristiano Ronaldo.
O capitão da Seleção Nacional foi o porta-voz da equipa esta segunda-feira, na antecâmara da partida contra a Hungria, e não se escusou a qualquer resposta — apesar de ter comentado com Fernando Santos, a dada altura, que responder a perguntas por vídeoconferência e sem ver os jornalistas na sala de imprensa era “meio estranho”. O jogador da Juventus começou por ser questionado sobre o posicionamento que pode assumir em campo, mais encostado ao corredor ou na faixa central, e garantiu que se sente confortável a atuar “onde for melhor para ajudar a equipa a ganhar”. “Para mim, a posição não é o mais importante. O mais importante é a equipa ganhar. Qualquer posição está bem para mim. O mais importante é ajudar a Seleção a ganhar”, atirou Ronaldo.
Sobre o facto de se tornar, no Euro 2020, o jogador com mais participações em fases finais de Campeonatos da Europa — cinco, todos a partir de 2004 –, o avançado garantiu que não fica “efusivo”. “É um bom recorde mas o recorde mais bonito era ganhar duas vezes seguidas um Europeu. A equipa tem estado bem, está preparada. Desejo que amanhã a equipa entre com o pé direito, que é muito importante neste tipo de competições. Vamos jogar contra uma equipa bem preparada, que terá o apoio do público no seu estádio. É importante ter os adeptos”, disse Cristiano Ronaldo, que comentou em seguida o facto de este Europeu estar ainda muito dependente da evolução e das contingências da pandemia.
“Não julgo que seja um fator importante neste momento. Quanto mais nos focarmos em algo, a concentração vira-se mais para aí. Foi uma pena o João [Cancelo] ter testado positivo. Não estamos preocupados. Não falamos de Covid-19. É um assunto que cansa toda a gente. A equipa está concentrada. Para muitos, será o primeiro Europeu. Seguimos todas as indicações. Estamos focados nos jogos, não estamos focados nesse tema”, disse o capitão português. Sobre a Hungria, Ronaldo lembrou que é “uma equipa forte que jogará com o apoio do público” mas que Portugal estará “concentrado para entrar com o pé direito”.
???????? Falta 1️⃣ dia para o campeão @selecaoportugal entrar em campo! ????#EURO2020 pic.twitter.com/HNrXbrOALt
— UEFA.com em português (@UEFAcom_pt) June 14, 2021
Já na reta final da conferência e talvez de forma surpreendente, o jogador não entrou em grandes rodeios para falar sobre uma eventual saída da Juventus durante o verão mas garantiu que não está preocupado com o assunto nesta altura. “Já jogos ao mais alto nível há 18 anos. Isso nem me faz cócegas. Se eu estivesse a começar, se tivesse 18 ou 19 anos, se calhar nem dormia e ficava a noite toda a pensar no meu futuro. Mas como devem calcular, com 36 anos… O que vier vai ser para bom, independentemente de ficar ou sair. O foco mais importante é na Seleção. Uma competição desta magnitude não se joga todos os dias. É o meu quinto Europeu mas é como se fosse o primeiro”, completou Cristiano Ronaldo, que ainda defendeu que será “perfeito” atuar novamente num estádio praticamente lotado.
Em seguida, foi a vez de Fernando Santos antecipar a estreia da Seleção Nacional no Euro 2020. O selecionador nacional foi confrontado com a vantagem portuguesa no histórico frente à Hungria, já que nunca perdeu a jogar em Budapeste, mas assegurou que não olha para as estatísticas. “Não servem para nada. São anos passados, anos diferentes, equipas diferentes. Olho é para os jogos da Hungria, quer o do playoff com a Islândia quer com a Polónia e o particular com a Islândia, para ver como é a equipa da Hungria, as qualidades, que são muitas. E para as declarações do selecionador (…) Não tenho dúvidas nenhumas de que temos de estar no nosso melhor nível, em todos os padrões. Na opinião dele, dificilmente alguma equipa vai ser melhor em termos de organização, na entrega ao jogo, na paixão. Ele espera através disso controlar algum acréscimo de qualidade da equipa portuguesa. Disse que a qualidade só por si não vai ganhar, que se a Hungria fosse melhor em paixão, organização, que eu não acredito, teremos muitas dificuldades”, começou por dizer.
Sobre Diogo Dalot, que foi convocado para substituir João Cancelo e chegou ao final da noite deste domingo a Budapeste, Fernando Santos confirmou que o facto de o lateral ter estado recentemente a competir no Europeu Sub-21 foi importante. “Obviamente que a qualidade também foi um fator decisivo. Se achasse que não tinha qualidade, independentemente de ter competido até há pouco tempo, não vinha. Tendo a qualidade que tem, o nível a que joga e o fator de ter estado a competir até há seis dias… Os outros mais perto de ser convocados já estão fora da competição há um mês, mês e meio. Era muito difícil chegar aqui e ter o ritmo necessário”, explicou o selecionador, referindo-se, provavelmente, a Cédric Soares e Ricardo Pereira.
O treinador também referiu que existe uma diferença “clara” e “indiscutível” nas ambições da Seleção e antes e depois de ter conquistado o Europeu de 2016. “Antes do Euro 2016, Portugal disputou sempre um Campeonato da Europa assumindo o desejo de alcançar a vitória e esteve perto de o conseguir em 2004, mas não aconteceu. Em 2016 aconteceu e, a partir daí, há uma diferença clara. Nós apresentamos a mesma convicção desse ano, de que vamos fazer tudo para chegar à vitória. Agora, temos noção de que não é fácil, existem sete ou oito equipas com o mesmo objetivo e mesmo aquelas que não rotulamos como favoritos vão espreitar a oportunidade de fazer algo mais positivo”, atirou Fernando Santos, que terminou ainda com uma mensagem para todos os portugueses que vão assistir aos jogos da Seleção Nacional a partir do mundo inteiro.
“Em termos de presença pública sabemos que não vai ser o número que desejávamos, também porque as pessoas têm algum receio, o que é normal. Mas já em França estivemos sempre em desvantagem nas bancadas e fomos os melhores em termos de público. Mas sabemos que somos 11 milhões e esses 11 milhões não vão falhar, existe sempre um português a vibrar com a Seleção. Vão estar com a equipa a torcer fortemente. Para eles, o que eu digo é que a minha equipa vai dar tudo o que tem, em todos os aspetos, para lhes dar uma alegria”, concluiu o selecionador.
Logo depois da conferência de imprensa, Portugal treinou pela primeira vez no Puskás Arena e pela última vez antes da estreia no Euro 2020. Anthony Lopes voltou a treinar de forma normal, em conjunto com Rui Silva e Rui Patrício, e a óbvia novidade foi Diogo Dalot, que trabalhou pela primeira vez com a equipa de Fernando Santos.