Bico Amarelo é o nome do vinho verde recentemente lançado pelo Esporão, convidando-nos não só a desfrutar da sua elevada frescura, mas também a olhar para o céu. E isto porque o bico amarelo é uma das características mais visíveis – a par das auréolas alaranjadas em torno dos olhos – que o melro-preto ostenta e o torna impossível de confundir com qualquer outra ave. Tendo em conta que o Turdus merula (para quem gosta de o chamar pelo nome científico) é muito comum na paisagem da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, Bico Amarelo acabou por ser mesmo a designação escolhida para um vinho que pretendia “representar a diversidade da região e das suas principais castas”, como salienta o enólogo José Luís Moreira da Silva, responsável pela criação deste vinho branco, produzido na Quinta do Ameal, em Ponte de Lima.
Um processo de estágio diferenciador
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O enólogo José Luís Moreira da Silva responde a todas as perguntas sobre o processo de elaboração do Bico Amarelo:
Qual foi o processo de vinificação seguido?
Vindima manual e prensagem pneumática de uvas inteiras. Depois, decantação a frio do mosto durante 24 horas e fermentação a temperatura controlada (10-15°C) durante 12 a 15 dias.
Optou pelo estágio com bâtonnage, que pode considerar-se um processo diferenciador. Porquê esta opção para este vinho específico?
O processo de bâtonnage caracteriza-se por promover o contacto do vinho com as borras finas, as paredes de leveduras. Este processo, que ocorre durante todo o tempo de estágio em cubas de inox, irá contribuir para uma maior cremosidade e textura, conferindo assim maior equilíbrio ao lote final.
Como descreve este vinho? Que notas sobressaem?
De cor clara com tonalidades verdes, apresenta um aroma exuberante, fresco e leve, dominado pelos frutos cítricos e aromas tropicais. Na boca é dominado pela sua acidez, com bom volume, tem um final persistente e refrescante.
Como sugere que este vinho seja bebido?
Sugerimos beber o Bico Amarelo fresco, entre os 10 e os 12°C, sem necessidade de abertura prévia e num copo de vinho descomplicado, adaptado a vinhos brancos jovens.
Qual é a harmonização perfeita para o Bico Amarelo?
Saladas, peixes e mariscos ou mesmo servido como aperitivo.
Presença notória de norte a sul do país, o melro-preto é uma das espécies mais reconhecidas por todos – mesmo por quem não possui quaisquer conhecimentos de ornitologia – sendo de observação muito fácil até em meios onde a presença humana se faz sentir, como nalguns parques citadinos, por exemplo. Mas dada a extensão da Região Demarcada dos Vinhos Verdes (é a maior de Portugal em termos de área geográfica e uma das maiores da Europa) a sua presença ali é tão habitual ao longo de todo o ano que dedicar-lhe um vinho seria mais do que justo. Com efeito, aquela região vitivinícola estende-se por todo o noroeste de Portugal, na zona tradicionalmente conhecida como Entre Douro e Minho, onde o melro-preto é facilmente encontrado, nomeadamente na zona das lagoas de Bertiandos (Ponte de Lima) ou na serra da Peneda (Viana do Castelo), entre outras.
Mas agora que já sabemos a justificação para o nome escolhido, importa perceber porque é que este vinho vai fazer parte do nosso verão com toda a certeza.
Leve, fresco e de aroma intenso
No mercado desde março de 2021, o Bico Amarelo chega a casa dos portugueses com o convite, formulado pelo seu criador, de ser provado por “todas as pessoas que gostem de um vinho branco leve, fresco e com boa intensidade aromática”, mas também por quem “tenha curiosidade em perceber o potencial das castas da região, sem gás e sem açúcar adicionados”.
Produzido na Região Demarcada dos Vinhos Verdes – “porque acreditamos que tem as características ideais para produzir vinhos brancos de elevada qualidade” – este novo vinho resulta da combinação de três castas: Loureiro (da sub-região do Lima), Alvarinho (de Monção e Melgaço) e Avesso (de Baião). “Acreditamos que estas são as castas que melhor representam a região”, explica José Luís Moreira da Silva, que é também diretor de produção Douro e Verdes do Esporão, referindo que “o Loureiro irá contribuir com acidez, aromas cítricos, intensidade aromática e leveza; o Alvarinho, com fruta mais madura e volume, e o Avesso dará mais estrutura, criando uma maior harmonia na boca”.
O que também contribui para um resultado distintivo é o recurso à técnica designada por bâtonnage, que passa por mexer ou agitar as borras do vinho, que se depositam no fundo do local onde o vinho estagia, promovendo o seu contacto com as substâncias presentes nas borras (ricas em aminoácidos), o que acaba por favorecer não só o paladar mas também a textura do vinho. Este processo pode ser particularmente relevante no caso dos vinhos brancos, razão por que acabou por ser integrado na feitura deste (ver caixa com entrevista a José Luís Moreira da Silva).
Como resultado, o Bico Amarelo assume-se como um vinho refrescante e adequado a todas as ocasiões, ideal para os dias quentes de verão que se aproximam. Mas para saber do que falamos, o melhor mesmo é experimentá-lo na próxima reunião de amigos, de preferência ao ar livre e com muito tempo disponível para o degustar. E se encontrar um melro nas redondezas, não se esqueça de lhe fazer um brinde.