Pelo menos quatro opositores à Junta Militar no poder em Myanmar e dois membros das forças de segurança foram esta terça-feira mortos em confrontos em Mandalay, a segunda cidade mais importante do país.

Desde que o exército tomou o poder, a 1 de fevereiro, e destituiu o governo eleito de Aung San Suu Kyi, as forças de segurança reprimiram a ferro e fogo o movimento de protesto contra o regime militar, com mais de 870 civis mortos, segundo uma organização não-governamental (ONG) de vigilância local.

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Em reação, foram criadas milícias cidadãs, batizadas como “forças de defesa do povo“, em todo o território de Myanmar (antiga Birmânia). Esta terça-feira de manhã, a violência começou durante uma operação do exército e da polícia contra um grupo de opositores refugiados numa casa de Mandalay, no centro do país.

Dois elementos das forças de segurança foram mortos e pelo menos dez ficaram feridos, segundo a agência noticiosa francesa AFP, que cita fontes militares. Quatro “terroristas” foram mortos e oito foram detidos na posse de minas artesanais, granadas e armamento ligeiro, acrescentou um porta-voz da Junta Militar. “Ouviam-se disparos de artilharia, da nossa casa, que fica bastante longe daquela zona“, disse à AFP um habitante da cidade. A embaixada dos Estados Unidos em Rangun emitiu na rede social Twitter “um apelo de urgência para o fim da violência”.

Manifestações, a economia paralisada por greves gerais, ressurgimento dos combates entre o exército e fações étnicas rebeldes, milícias cidadãs: Myanmar está em ebulição desde o golpe de Estado que pôs fim a um parêntesis democrático de dez anos. Mas as “forças de defesa do povo“, munidas de armas artesanais, têm dificuldade em competir com o exército, que dispõe de recursos muito mais significativos. O julgamento à porta fechada de Aung San Suu Kyi prosseguiu esta terça-feira na capital, Naypyidaw.

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A ex-dirigente, de 76 anos, enfrenta diversas acusações: está a ser julgada, desde meados de junho, por importação ilegal de walkie-talkies, desrespeito das restrições relacionadas com o coronavírus SARS-CoV-2, violação de uma lei sobre as telecomunicações e sedição.

Foi também indiciada por violação de uma lei sobre segredos do Estado e por corrupção, mas ainda não é conhecida a data do julgamento sobre estas acusações. Aung San Suu Kyi, que ainda não pôde falar em tribunal, incorre em longas penas de prisão se for considerada culpada. Quanto à comunidade internacional, quase cinco meses após o golpe de Estado, continua dividida.

A ONU adotou na sexta-feira uma resolução não-vinculativa condenando a tomada do poder pela força por parte dos generais em Myanmar e apelando a “todos os Estados-membros para impedirem o afluxo de armas” ao país, uma tomada de posição rara. Mas a organização não vai, todavia, exigir que lhe seja imposto um embargo global. A China e a Rússia, aliadas tradicionais do exército birmanês, abstiveram-se de votar.