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Sem chambão mas com petiscos portugueses. O novo Ofício é um "tasco atípico" luminoso

Este artigo tem mais de 3 anos

O Ofício apareceu de cara lavada na Rua Nova da Trindade. Com novo chef e nova carta, o espaço quer ser ponto de encontro com sabores sazonais e uma cozinha despretensiosa que convida à partilha.

O arroz de forno à antiga com carnes de fumeiro é um dos pratos de excelência do novo Ofício ©Luis Ferraz
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O arroz de forno à antiga com carnes de fumeiro é um dos pratos de excelência do novo Ofício ©Luis Ferraz

Luis Ferraz

O arroz de forno à antiga com carnes de fumeiro é um dos pratos de excelência do novo Ofício ©Luis Ferraz

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A história

Está a ver o antigo Ofício? Não tem nada a ver. E para quem nunca viu, a cronologia deste restaurante leva-o numa viagem que começa em 2018, como uma steakhouse, que acabou por deixar para trás o chambão para chegar a 2021 como um “tasco atípico” — agora com nova decoração, novo chef e nova carta com muitos petiscos para partilhar.

“À volta da mesa, bom comer e rica gente, reboliço e boa pinga” é o convite que o Ofício deixa a quem descobre o restaurante renovado, mais leve, onde o clássico das arcadas e da pedra do espaço contrastam com uma decoração moderna e despretensiosa, onde a comida e a bebida ganham outro relevo.

Em 2019, a propósito de obras no edifício onde se encontrava, acabou por mudar de casa para o número 11 da Rua Nova da Trindade, a mesma rua onde já estava mas mais acima, compondo a vizinhança junto da Cervejaria Trindade e do Bairro do Avillez. O Ofício passou a ocupar o espaço do antigo Faz Gostos e em vez de dois pisos passou a apenas um, mais amplo com paredes em pedra. Se começou como steakhouse, quando abriu no novo espaço quis afastar-se desse conceito, apesar de manter alguns pratos fortes na carta.

Contudo, a mudança radical aconteceu agora, com um autêntico extreme makeover do espaço e da própria imagem e conceito do restaurante, que ganhou um novo chef e uma nova carta. Agora, é Hugo Candeias, chef criativo do grupo que detém o Ofício, o Plants & Co e o The Art Gate — o edifício com hotel, galeria e restaurante que fica no andar de cima —, que tomou conta da cozinha e desenhou uma carta nova do zero, com um receituário de base tradicional mas com uso de técnicas e interpretações modernas. Na cozinha de todos os dias, estará Rodolfo Lavrador, o chef executivo, que já passou pelo Bairro Alto Hotel e pelo Mãos, em Londres.

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Rodolfo Lavrador é o chef executivo que vai estar diariamente no novo Ofício ©Luis Ferraz

Hugo partiu de uma tábua rasa para construir a nova carta — ou quase, isto porque conseguiu resgatar alguns pratos que fizeram sucesso no “Quarantine Challenge”, um desafio do Ofício e do The Art Gate lançado aos clientes na segunda quarentena para que estes pudessem escolher o menu de take-away da semana. “Acho que o desafio nos ajudou muito a descobrir coisas que, provavelmente, demoraríamos mais tempo a chegar lá de outra forma. Tivemos tempo e tínhamos de criar coisas de alguma forma, tínhamos tempo para pensar”, conta. “Foi um período criativo que serviu de inovação para o novo Ofício”.

O espaço

Olhando para o antigo Ofício é a luminosidade do novo espaço que agora salta à vista, tornando quase irreconhecível aquilo que era a versão anterior do restaurante — mais obscura, com tons mais pesados e com uma carta a condizer. O banho de loja que recebeu faz do Ofício, literalmente, um novo restaurante — ou um restaurante como novo.

A renovação e o projeto de interiores esteve entregue ao Spacegram Studio, que substituiu o mobiliário e tornou-o mais claro, agora com balcões, a barra e os tampos das mesas em mármore lioz. As cores são também visivelmente mais leves, com o uso de azul claro, tijolo e tons nude.

O espaço interior ganhou novos tons e a esplanada fica em plena rua azul ©Luis Ferraz

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O restaurante divide-se entre a sala de refeições, que alberga 40 clientes sentados, uma barra com 14 lugares e a esplanada — em plena rua azul — com mais 24 lugares. O novo Ofício tem assim várias caras e adapta-se à situação — a esplanada ajuda a manter o registo descontraído, sobretudo para almoços e finais de tarde, e o interior mais ajustado aos jantares, mas sempre com um atendimento preocupado e um diálogo constante entre o chef e o cliente.

A barra logo à entrada do restaurante funciona como uma espécie de mesa comunitária — com todos  os cuidados que esta altura exige — e marca aquela zona antes de se entrar na sala propriamente dita. Junto à barra está um balcão de ostras, comprido e envidraçado, que deixa os bivalves brilhar entre o gelo, vindos diretamente da Neptun Pearl, a empresa de Célia Rodrigues que as cria em viveiros no estuário do Sado num sistema de aquacultura integrada. Hugo confessa que a ideia de ter o balcão ali à vista “é ir abrindo ao momento” enquanto “a malta está ali tranquila a meio da tarde”, diz.

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A loiça é também um detalhe que não quiseram descurar nesta reabertura e apostaram em grande parte em conjuntos da dupla Studioneves, formada pelos brasileiros Alex e Gabi.

A comida

O cardápio é simples, sem peneiras e com uma base de cozinha tradicional com interpretações mais modernas, apresentando propostas com produtos sazonais e quase sempre portugueses. O menu arranca com os pratos frios e neles estão opções como as azeitonas atípicas de lagar (3 euros), mexilhões da costa em escabeche (8,50 euros), ostras ao natural (2 euros) ou outras com molhos (3,50 euros), iceberg com abacate fumado (6 euros), presunto de porco preto (80 gramas; 15 euros) e ainda um recheio de santola do Algarve (17,50 euros). Deste lote de frios destacam-se também os tacos do mar com espadarte e amêndoa (7,50 euros) e o tártaro de novilho servido com tutano e com torradas de brioche do Isco (10 euros).

Santola, ostras, presunto de porco preto e torresmo ©Luis Ferraz

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Nos quentes, há raia no fogo com molho de ervas e manteiga (13 euros) — que tem de ser desfiada a partir do osso e envolvida no molho, para ser degustada da melhor forma —, cachaço de bacalhau com molhos de grão e cebola branca (10,50 euros) confecionado com a técnica pil pil, tiras de entrecosto com molho barbecue (15 euros) e arroz de forno à antiga com carnes de fumeiro (18 euros), uma reinterpretação do chef de uma receita de Maria de Lourdes Modesto e a forma como as avós espanholas fazem a paella — Hugo Candeias tem algumas influências espanholas justificadas pela sua passagem pelo Hoja Santa, de Albert Adriá. Na carta está ainda costeleta black angus na brasa (65 euros/kg), que serve uma dose com cerca de 1,2 quilos.

E como um tasco que se preze, também o menu tem opções “para picar” como é o caso do croquete de alheira (2,50 euros), uma sandes de aba estufada em brioche (8 euros), choco frito (10,50 euros), moelas “atípicas portuguesas” (8,50 euros) e torresmos crocantes (5 euros), que vêm para a mesa numa peça grande e encarquilhada, para ser partilhada e partida à mão. Há ainda tábuas de queijos (15 euros) e outra de enchidos (18 euros).

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Nos doces, as opções variam entre a laranja com granizado de poncha e especiarias (5,50 euros), panacotta de arroz tostado com molho de arroz doce (5 euros), chocolate e chantilly de coco (5,50 euros), tarte de amêndoa à fatia (4 euros) e a famosa tarte de queijo basca, que é ideal para uma mesa composta, uma vez que é vendida inteira (25 euros). Esta tarte, cremosa e bem queimada no topo, matou os desejos a muitos gulosos durante a segunda quarentena — foi nessa altura que Hugo Candeias decidiu testar uma tarte para sobremesa do Quarantine Challenge, a partir daí os clientes deixaram claro que queriam continuar a ver no menu aquela tarte.

Os vinhos são prato forte no Ofício com uma série de referências nacionais e alguns internacionais, e uma boa seleção de vinhos naturais e biodinâmicos.

A montra do Ofício deixa a descoberto vários presuntos da Absoluto, de porco preto de raça alentejana, uma raça historicamente preservada em Portugal. Embrulhados em pano azul e com a insígnia da marca em dourado, o porco usado para a sua confeção é criado em regime extensivo e tradicional onde todos os animais nascem em contacto com a natureza, sendo criados em montados arborizados e alimentados de produtos naturais. Estes presuntos estão à venda, assim como a tarte de queijo para take-away naquela que é a Mercearia Ofício, que no futuro poderá vir a ter mais produtos.

A tarte de queijo basca é servida inteira para ser partilhada entre várias pessoas da mesa ©Luis Ferraz

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O restaurante abre de terça a sábado para almoços entre as 12h30 e as 15h, com as duas salas em funcionamento e a esplanada. Entre as 15h e as 19h o restaurante mantém em funcionamento a barra e a esplanada com uma carta limitada, mais de petiscos, com algumas opções fixas do menu. Os jantares são servidos entre as 19h e as 22h.

O que interessa saber

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Nome: Ofício
Abriu em: maio 2021
Onde fica: Rua Nova da Trindade 11, Lisboa
O que é: um tasco atípico com comida de base popular com produtos portugueses e sazonais e com algumas interpretações contemporâneas.
Quem manda: Hugo Candeias (chef criativo), Rodolfo Lavrador (chef executivo)
Quanto custa: preço médio de 15€/pessoa
Uma dica: experimentar os torresmos crocantes e a raia no fogo, seguindo as instruções de quem serve para a desfiar do osso e envolver no molho
Horário: Terça a sábado 12h30 às 15h (almoços); 15h às 19h (barra e esplanada); 19h às 22h (jantares).
Links importantes: Facebook; instagram
Contacto: 910 456 440

“Cuidado, está quente” é uma rubrica do Observador onde se dão a conhecer novos (e renovados) restaurantes.

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