Aposta nos candidatos independentes, um (muito ligeiro) reforço das candidatas mulheres, seis coligações e seis decisões por fechar. É este o balanço que o PS faz na antecipação de umas eleições autárquicas para as quais parte numa posição de grande vantagem — as de 2017 trouxeram o melhor resultado de sempre ao partido de António Costa — e uma fasquia simples: ganhar a maioria das câmaras. Já sobre os casos que têm complicado a vida ao PS — e logo nas duas autarquias mais importantes do país –, a melhor defesa é mesmo o ataque, neste caso ao PSD.
O ponto de situação foi feito numa altura, a sensivelmente três meses das autárquicas, em que o PS tem 302 processo fechados — nos seis concelhos que faltam, conta resolver a situação “muito em breve”. Mas recusa dizer quais são: segundo José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, há uma “necessidade” de “não assumir publicamente quais são esses seis”, que têm a ver com “a estratégia eleitoral do PS, em defesa da escolha das melhores candidaturas”.
Ou seja, o PS não quer revelar quais os concelhos em que está com dificuldades em fechar um candidato para não prejudicar o processo ou negociações com outros candidatos, por exemplo. Quanto a coligações, haverá acordo na Maia, Felgueiras, Penafiel, Cascais, Aveiro e Funchal.
No Centro da Esquerda, perto da sede lisboeta do PS, os socialistas envolvidos no processo autárquico reuniram-se também para traçarem o perfil dos candidatos às eleições deste ano. Com boas notícias, garantiram: as listas trazem um número considerável de independentes — 51, ou 16,9% dos candidatos a presidente de câmara — e de candidatos sem atividade política — 82, ou 27,2%. 16 são deputados.
De resto, muitos candidatos são recandidatos (134), até porque o PS, tendo tido o melhor resultado de sempre em autárquicas em 2017, partia com essa vantagem no processo para este ano. A fasquia passa agora por “manter a maioria das câmaras”, mantendo assim a presidência da Associação Nacional de Municípios, explicou Carneiro. Se esta semana Rui Rio estabeleceu uma fasquia baixa para si próprio — tem de conseguir um resultado melhor do que Pedro Passos Coelho em 2017, o pior do PSD em autárquicas –, a do PS, caso não se confirmem hecatombes inesperadas para o lado dos socialistas, é confortável para o partido de Costa.
Uma das dificuldades deverá ser a candidatura ao Porto, mas essa não é inesperada: os socialistas têm a expectativa de perder contra Rui Moreira e não alimentam grandes esperanças em relação à autarquia. Questionado sobre esse processo de escolha do candidato ao Porto — um processo muito atribulado, para o qual o próprio Carneiro chegou a ser hipótese –, Carneiro gracejou: “No Porto não houve dificuldades em encontrar candidato, tínhamos era disponibilidade de vários”.
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A decisão acabou por recair no deputado e presidente da concelhia do Porto Tiago Barbosa Ribeiro, com quem Carneiro se reunirá esta quinta-feira para definir estratégias e recursos para a campanha. Será esse o mesmo problema nas candidaturas que ainda estão por fechar, garantiu: “Não é por escassez de disponibilidades, mas para escolher as melhores soluções”.
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Mas os maiores problemas têm sido, recentemente, em Lisboa, onde uma sondagem do semanário Novo até já apontou para uma maioria confortável de Fernando Medina, mas isso foi antes de ter sido conhecido o caso do envio de dados de manifestantes anti-Putin à Rússia.
Questionado sobre o potencial impacto do caso na campanha lisboeta, Carneiro passou ao ataque: “Algum dos munícipes de Lisboa conhece alguma proposta do PSD para a Câmara Municipal de Lisboa? Se forem capazes de responder a esta pergunta, podemos partir para uma discussão mais séria”, cortou.
Mais duas mulheres e “rejuvenescimento” nas listas
A outra boa notícia que o PS quis anunciar foi o reforço das candidaturas protagonizadas por mulheres, mas o progresso não é assim tão claro: como a secretária nacional do PS para as autarquias, Maria da Luz Rosinha, detalhou, o PS tem este ano 44 candidatas mulheres (16 já são presidentes de câmara), sendo que em 2017 tinha 42, ou seja, este ano só tem mais duas.
O maior reforço foi mesmo depois de 2013, ano em que só tinha 29 candidatas. O número seria idealmente maior, reconheceu José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do partido: “Por nossa vontade, teríamos listas paritárias, mas há ainda muitos obstáculos sociais, culturais e económicos”, lamentou.
Por outro lado, o PS quer apostar no rejuvenescimento das listas, frisando que 62,5% dos candidatos a cabeça de lista têm até 55 anos. A média anda próxima disso: é de 52 anos e meio. O partido frisa ainda que conta com uma larga maioria de candidatos (79%) com licenciatura, mestrado ou doutoramento.
Transparência nas câmaras e “responsabilidade financeira”
Os socialistas usaram ainda este encontro para apresentar uma série de compromissos que os seus candidatos terão de assumir. “Isto permite estabelecer orientações políticas globais, não diminuindo a autonomia dos candidatos“, justificou Carneiro.
Entre esses, encontram-se o compromisso de “respeitar compromissos éticos” genéricos, assim como “a transparência e prestação de contas”, por exemplo através de plataformas digitais. A “promoção da responsabilidade financeira” dos autarcas e o compromisso com a descentralização são outros dos pontos que os candidatos socialistas terão de respeitar.