O caso do acidente de viação que envolveu o carro do ministro Eduardo Cabrita não é de “responsabilidade política”, mas sim de uma “grave insensibilidade social”, disse este domingo Luís Marques Mendes no habitual espaço de comentário no Jornal da Noite da SIC.

Se a situação do ministro já era difícil no Governo, agora do ponto vista pessoal “tornou-se mais difícil”, com Marques Mendes a reiterar que “há meses” que Cabrita não tem “condições políticas para exercer aquela função”, considerando-o “um ministro sob pressão”, que se vai “arrastar penosamente a partir de agora”, e defendendo que António Costa deveria afastá-lo. “A coisa mais decente que devia acontecer era uma conversa do primeiro-ministro e do ministro” para decidirem que este “saia a bem, com dignidade.” “Isto é mau para todos.” Questionado sobre se António Costa não tem coragem para agir, Marques Mendes respondeu “tem dias”. “Tenho dificuldade em perceber que o primeiro-ministro tarde a perceber isto”.

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Para o comentador, o ministro da Administração Interna não fez o que devia ter feito, ao não ter a “decência” de após o acidente “ter uma palavra pública, de lamento, de solidariedade e disponibilidade” para com a família do homem que morreu. Eduardo Cabrita falou na sexta-feira pela primeira vez do acidente que resultou na morte de um trabalhador na A6, há 2 semanas, garantindo que “não há entidades acima da lei”. Luís Marques Mendes criticou também o comunicado enviado pelo ministério, por “insinuar” que a culpa do acidente seria da vítima antes de qualquer inquérito estar terminado. “Tratou logo de safar a pele dele”. Isto mostra, segundo o comentador, que é “um caso de insensibilidade social”.

“Acho que António Costa vai fazer uma remodelação”, afirmou ainda, a qual deveria ser “antes das eleições autárquicas”, uma vez que o Governo está em séria “degradação”. Marques Mendes falou de uma “remodelação virtual” que já está a acontecer, referindo-se às declarações de Augusto Santos Silva ao Expresso, que em entrevista disse esperar regressar à atividade de professor até 2026. “Falta saber quando acontece a real.” Esta semana, Costa garantiu ao Público que “não está prevista nenhuma remodelação”.

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Joe Berardo: Há responsabilidades políticas de José Sócrates

Relativamente à detenção de Joe Berardo, empresário indicado por 13 crimes, Marques Mendes diz que esta apenas surpreende por ser “tardia”. “Tarde, mas ainda bem [que aconteceu]”, comentou, apontando o dedo ao “comportamento retórico normalmente execrável de Joe Berardo”.

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Marques Mendes falou ainda em “gestão danosa” na Caixa Geral de Depósitos e também na dissipação dos imóveis de Berardo, “que forjou um conjunto de malabarismos para proteger o seu património e para que as entidades que tivessem firmado contratos com a CGD e outros bancos não recebessem nada”. Para o comentador, “isto é uma fraude e a fraude é crime”.

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Considerando ainda que os responsáveis criminais podem ser vários, atribuiu as responsabilidades políticas a uma só pessoa: o ex-primeiro-ministro José Sócrates. Relativamente à responsabilidade social de vários empresários, Marques Mendes referiu os nomes de Moniz da Maia e Nuno Vasconcelos, como “exemplos de empresários sem escrúpulos e sem vergonha”.

Pandemia: “Acho que se vive uma enorme confusão”

Sobre a pandemia, Marques Mendes afirmou “que se vive uma enorme confusão”, referindo-se à comunicação feita pelo Governo, que é agora “um desastre”. O comentador deu exemplos das divergências na comunicação, incluindo o recente isolamento do primeiro-ministro mesmo tendo este a vacinação completa, a polémica em torno da vacina de toma única da Jansen, com a DGS a admitir um eventual reforço, o dever de recolhimento, entre as 23h e as 5h, que uns dizem ser “uma imposição” e outros uma “recomendação”, e ainda a questão do certificado Covid e das reuniões do Infarmed — “A última foi há mais de um mês.”

Marques Mendes referiu ainda que o número de novos casos está a aumentar, assinalando, com a ajuda de um gráfico, que Portugal é o segundo pior país da União Europeia, com a variante Delta a ser dominante. “Vacinar o mais depressa possível”, é a resposta, mesmo tendo a vacinação “algumas falhas”. Mas, no essencial, “está a correr muito bem”. Segundo dados da DGS apresentados por Marques Mendes, em 2,5 milhões de pessoas totalmente vacinadas só houve 2.357 infeções e só 52 infetados precisaram de internamento.