Eduardo Cabrita quebrou o silêncio. Garantiu que “não há entidades acima da lei”, pediu que não se faça do acidente rodoviário em que esteve envolvido um confronto político, e desejou celeridade no pagamento das devidas indemnizações à família da vítima. Quanto a deixar a pasta de ministro noutras mãos, também deixou claro que não faz parte dos seus planos.

Foi assim que o ministro da Administração Interna falou, esta sexta-feira, pela primeira vez do acidente que resultou na morte de um trabalhador na A6, há 2 semanas. Respondendo aos jornalistas sobre a eventual apresentação de um pedido de demissão, Eduardo Cabrita afirmou que essa decisão está nas mãos de António Costa. E pediu que se mantivesse este assunto fora da agenda política.

A sua continuidade no Governo, sublinhou, é “da estrita responsabilidade do senhor primeiro-ministro”, mas lembrou os objetivos que alcançou à frente da pasta: “Tenho quatro anos que corresponderam aos dos quatro melhores anos de indicadores de segurança de Portugal, mas hoje não é tema disso.” O tema era antes apresentar a “viva solidariedade” para com a família da vítima, mensagem que, garantiu, foi transmitida no próprio dia pela sua chefe de gabinete à mulher e às filhas de Nuno Santos, o homem de 43 anos atropelado mortalmente pela viatura em que seguia o ministro.

Nuno atravessou a A6 e foi atropelado junto ao separador central. O acidente com o carro de Cabrita contado por quem estava no local

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Eduardo Cabrita lembrou que como sempre acontece num acidente rodoviário do qual resulta uma vítima mortal, o respetivo inquérito foi aberto, garantido que “foi feita de imediato a devida participação dos factos” às autoridades competentes.

Agora, resta ao Ministério Público de Évora “apurar todas as circunstâncias que envolveram este acidente”, que está em segredo de justiça. Esse foi, aliás, o argumento usado pelo ministro para explicar o seu silêncio de duas semanas. Se agora falou foi por ter estando presente na primeira cerimónia pública de dimensão nacional desde o atropelamento na A6, a comemoração dos 154 anos da PSP.

“Queria dizer que o Ministério da Administração Interna e as pessoas que estiveram no local, as estruturas do ministério — entidades dependentes, forças de segurança —, não deixarão de prestar toda a colaboração necessária para apuramento da total caracterização do que aconteceu”, garantiu o ministro, que, sem precisar do que falava, deixou no ar que não são válidas algumas das afirmações que têm sido feitas sobre o acidente.

“As imagens passadas pelas televisões permitem clarificar que afirmações que vimos ser publicadas podem ser infirmadas.” Questionado sobre se a viatura envolvida no acidente seguia em excesso de velocidade, Eduardo Cabrita não respondeu, assim como não deu resposta às perguntas que os jornalistas fizeram no final da sua declaração.

Indemnizações devem ser pagas o quanto antes

Eduardo Cabrita disse ainda ter dado “indicações para serem realizados contactos e agilizar os apoios previstos nestas circunstâncias”, esperando que sejam pagas “tão celeremente quanto possível as componentes indemnizatórias devidas”, mesmo que estas não permitam “compensar a perda de uma vida”.

O ministro confessou também que o acidente foi uma situação que o tocou muito, que nunca tinha vivido pessoalmente nada semelhante, não desejando a ninguém que passe por situação idêntica. “Aquilo que não desejo a ninguém é ver-se envolvido, mesmo que na qualidade de passageiro, numa situação tão dramática como esta.”

Por isso mesmo, deixou um apelo de que se confie em quem cabe apurar os factos, não transformando “algo que é um momento triste” num momento de confrontação política.