A Great Wall Motors, conglomerado chinês que detém a Ora, entre outras marcas automóveis, está a tentar viabilizar uma das suas mais recentes “criações”, o Ora Punk Cat, patenteando o design não só na China, mas também na Europa. O problema é que estamos perante uma flagrante cópia do Volkswagen Type 1, o popular Carocha de que foram vendidas mais de 15 milhões de unidades entre 1938 e 2003.
Os construtores automóveis chineses são useiros e vezeiros na arte de se “inspirarem” em modelos com um design peculiar, bem-sucedido comercialmente ou estilisticamente marcante, para depois proporem cópias quase decalcadas do original, mas baratas. O Range Rover Evoque foi uma dessas vítimas, mas outros exemplos não faltam, do Mini Cooper ao Lamborghini Urus, passando pelo Peugeot 2008 ou pelo DS7 Crossback.
Farta de ser copiada pelos chineses, Land Rover toma medidas
A forma como os fabricantes orientais replicam a criatividade alheia já nem os inibe de atravessar fronteiras e expor em solo europeu as cópias de carros originalmente concebidos pelos construtores do Velho Continente. Menos ainda quando estão “em casa” e a prova disso leva-nos até à última edição do Salão de Xangai, que decorreu em Abril passado, onde uma das estrelas do certame foi o Ora Punk Cat.
À vista do público e da imprensa internacional, as semelhanças em relação ao Type 1 eram tão evidentes que seria praticamente impossível o Punk Cat passar despercebido no certame chinês. Os media fizeram eco da similitude face ao Carocha e a Volkswagen tratou de colocar o respectivo departamento jurídico a estudar o assunto, para delinear a melhor estratégia para travar a Ora de avançar com a produção. Talvez para antecipar a acção legal que potencialmente estará a caminho, a Great Wall tratou de arranjar forma de ver certificado como “seu” o design do Punk Cat, o que na China não será tarefa difícil dado que a lei existente presta-se a interpretações muito dúbias – regra geral, a favor dos locais – quanto ao conceito de propriedade intelectual.
Mais surpreendente, talvez, é o facto de o fabricante chinês ter dado igualmente entrada com um pedido de “Registered Community Design” (RCD) no Instituto da Propriedade Intelectual da União Europeia (EUIPO, na sigla em inglês), a quem cabe registar marcas, desenhos e modelos, que passam a ser válidos em toda a UE, isto é, com direitos salvaguardados. Com esse intuito, deram entrada dois pedidos de patente, um que basicamente é um esboço do modelo apresentado em Xangai e outro com ligeiras diferenças, mas mantendo a linha geral que permite uma imediata associação ao Carocha. As diferenças dizem respeito aos grupos ópticos, pára-choques e ao apêndice no portão da bagageira, como pode verificar na galeria abaixo.
Os pedidos foram submetidos a 3 de junho e os registos efectuados a 11 de junho, concedendo ao seu titular “direitos exclusivos nos actuais e futuros Estados-Membros da União Europeia”. Como o RCD é válido durante cinco anos, isto significa que irá expirar em Junho de 2026, mas a Great Wall poderá renová-lo durante 25 anos. “Ser titular de um desenho ou modelo registado fornece, a si e aos seus concorrentes, uma indicação clara do que foi criado e de quando o foi. O direito é renovável até 25 anos e pode tornar-se um bem emblemático da sua empresa. O seu desenho ou modelo é a sua assinatura de PI (propriedade intelectual)”, lê-se no site do EUIPO.
Resta saber como irá a Volkswagen reagir a estas duas reinterpretações do Beetle, sendo certo que a marca alemã deverá querer manter em aberto a possibilidade de o fazer regressar como modelo eléctrico. Tanto mais que registou a denominação “e-Beetle” em 2020. Por outro lado, as movimentações da Renault para fazer regressar os seus clássicos como o R5 ou o 4L como modelos a bateria, poderão “espicaçar” a rival germânica e levá-la a antecipar o regresso do Carocha, agora como eléctrico. Daí que ter no mercado uma cópia do Carocha, também eléctrica – habitualmente, os carros da Ora usam baterias LFP (fosfato de ferro-lítio) – não deva ser visto com bons olhos pela Volkswagen. Até porque os Ora são conhecidos por serem baratos, o que dificulta a vida à concorrência.